Uma pesquisa encomendada pela multinacional Unilever traça um importante painel sobre as brincadeiras das crianças brasileiras. Uma equipe de 16 especialistas ouviu pais e professores, além da garotada, para descobrir como meninos e meninas têm aproveitado seus momentos de diversão. O trabalho foi dividido em duas partes, uma qualitativa para definir como as pessoas viam o brincar. A outra para verificar as atividades mais comuns de norte a sul do País. Os resultados surpreendem. Assistir à tevê, por exemplo, está no topo da lista das brincadeiras mais praticadas. Brincadeira, sim. É assim que os adultos e a criançada classificam as horas em frente ao aparelho.

Outra surpresa: muitas diversões envolvem atividades seguidas há longo tempo. Ao contrário do que se poderia imaginar, no ranking das práticas mais freqüentes, o videogame – o oitavo colocado com 51% das respostas – não supera velhos costumes como inventar aventuras com bonecos ou colecionar figurinhas. A explicação é que o equipamento não é tão comum nos lares brasileiros quanto a tevê. Se a análise se restringir à região Sul, o índice passa para 65%.

A pesquisa revelou ainda que as brincadeiras estão se tornando solitárias, o que é ruim. “Muitas vezes, os pais suprem a ausência dando brinquedos, mas a questão é a criança ter um parceiro para essas horas”, diz Maria Ângela Barbato, coordenadora do trabalho e integrante do Núcleo de Cultura, Estudos e Pesquisas do Brincar da PUC/São Paulo. Divertir-se sozinho com o cachorro, como acontece na maio ria das vezes, não é o ideal. “Desse modo, os laços de afetividade são repassados aos animais”, alerta. Também se descobriu que muitas escolas não notam a importância das atividades. Mesmo os pais não compreendem o papel do brincar. Os momentos de diversão estimulam a criatividade, desenvolvem o raciocínio lógico, melhoram a coordenação motora e fortalecem vínculos afetivos. E isso vale desde tenra idade. Téo Dottori, dois anos, aproveita com os pais todas as horas possíveis para brincar. Eles mudaram de casa para dar mais espaço para o filho. Téo gosta de correr, tocar bateria e fazer mágica e malabarismos, fantasiando que está no picadeiro do circo. “Ele não tem brinquedo que brinca sozinho”, conta a mãe, Elaine Dottori.