Ao contrário da percepção de vários analistas, a maior dificuldade do governo Dilma, no segundo mandato, está na política – e não na economia. No campo econômico, bastarão pequenos ajustes, no setor de combustíveis, e uma sinalização mais forte de contenção fiscal para restaurar a confiança empresarial. O que provavelmente será feito pela nova equipe econômica, que será anunciada após a reunião do G20, na Austrália, seja ela chefiada por Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central, ou Nelson Barbosa, ex-secretário do Ministério da Fazenda.

Na política, no entanto, o nó é mais complicado. Dilma hoje enfrenta a rebelião de um PMDB atemorizado com as possíveis revelações da Operação Lava Jato, que pode tragar algumas de suas principais lideranças. É nesse ambiente conturbado que os movimentos de dois personagens se tornam decisivos na montagem da nova base de apoio ao governo no Congresso Nacional: o governador do Ceará, Cid Gomes, e o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab.

Estimulado pelo irmão Ciro, que diz que Dilma precisa “de melhores companhias”, num recado direto ao PMDB, Cid tenta montar uma grande frente de esquerda. Ela incluiria os parlamentares do Pros, partido que hoje abriga os dois políticos cearenses, além de representantes do PDT e, sobretudo, do PSB. Com um novo partido ou essa frente, Cid espera arregimentar cerca de 70 parlamentares.

Num movimento semelhante, mas realizado ao centro, Kassab, que já tem o PSD, irá recriar o antigo Partido Liberal para atrair nomes dispostos a aderir à base de apoio ao governo. Em seguida, as duas siglas seriam fundidas numa só e ele chegaria perto de 70 deputados, rivalizando com PT e PMDB. Não por acaso, Cid e Kassab estiveram entre os primeiros políticos recebidos por Dilma nesta semana de retomada dos trabalhos, após suas férias na base naval de Aratu, na Bahia.

A diferença entre Cid e Kassab é o tratamento em relação ao PMDB. Enquanto o primeiro gostaria de libertar o governo Dilma da tensa aliança com os peemedebistas, Kassab é mais realista. “O problema é quantitativo”, diz ele, aos interlocutores mais próximos. O PT e seus novos aliados, mesmo turbinados, não garantem uma maioria estável ao governo Dilma, que, como disse o senador Aécio Neves (PSDB-MG), irá enfrentar uma “oposição revigorada por seus 51 milhões de votos”.

Por isso mesmo, o presidente do Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse que seu partido ainda é “insubstituível” na relação com o PT.