O Brasil de todas as vertentes políticas e ideológicas começa a cair na real depois da ilusão vendida na campanha eleitoral, e aceita pela maioria, de que tudo ia bem, de que nenhum sacrifício seria necessário, de que este era o país da inflação controlada, das contas arrumadas, que pune a corrupção e sem problemas para crescer. Ao desembarcar no Planalto, a presidente Dilma despiu a fantasia de candidata e tratou logo de autorizar o aumento dos juros, das tarifas – as primeiras revisões serão de combustíveis e energia – e corte dos gastos. Na propaganda para vencer a corrida presidencial, dizia que corte era ameaça da oposição. Que o time de Aécio vendia dificuldades para colher juros. Que Marina iria colocar os banqueiros para comandar a economia (quando hoje é ela, Dilma, quem sai à procura de um deles para dar conta dos problemas) e que a saúde financeira do Estado ia de vento em popa. Um festival de números negativos, anunciados logo após o fechamento das urnas, colocou por terra tais assertivas. E a eleita foi além no seu plano engenhoso de mascarar a realidade. Na base do “o que é bom a gente divulga, o que é ruim a gente esconde”, tratou não apenas de postergar medidas amargas, como também de engavetar estatísticas que deporiam contra a sua gestão. De maneira deliberada ou não, institutos oficiais adiaram, por exemplo, a conclusão de um estudo sobre o aumento de miseráveis no País (leia matéria na pág. 58). E antigos anseios radicais do Partido dos Trabalhadores foram finalmente descortinados em reunião plenária da agremiação. O sonho de se perpetuar no poder contempla, daqui para a frente, até a volta do fisiologismo com a entrega à base aliada de postos-chaves do governo em troca de apoio parlamentar. É mais do mesmo! Dilma, sem a embalagem de marketing, respalda os temores que levaram quase metade dos eleitores a votar contra ela. No momento, a eleita se encontra numa grande encruzilhada: dividida entre a vontade de governar ao seu jeito e a pressão partidária para seguir preceitos autoritários, ela terá antes de tudo de se conciliar com a banda da sociedade insatisfeita com os descaminhos trilhados até aqui e com aquela que acreditou nas suas promessas e já foi surpreendida pelos fatos. O conto da carochinha durou pouco, apenas o tempo necessário para arrebanhar fiéis incautos.  


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