Helcio Nagamine
Girsz Aronson: “Vê se compra alguma coisa para me ajudar!”

Nos elegantes anos 40, ele entrou para o ramo do comércio ao abrir uma revenda de casacos de pele na rua Conselheiro Crispiniano, no centro de São Paulo. Nem em fevereiro, em pleno verão, as peles encalhavam nas prateleiras. “As madames suavam às bicas, mas não deixavam de exibir seus casacos nos cinemas e teatros da cidade”, lembra. No ano passado, na esteira de uma estrondosa falência, o empresário Girsz Aronson teve de afastar-se dos negócios, que chegaram a contabilizar 34 lojas e cinco mil funcionários. Não perdeu, porém, o estilo. Ao começar tudo de novo, na quarta-feira 6, quando os termômetros em São Paulo oscilavam em torno dos 14ºC, Aronson estava eufórico. “Neste inverno já consegui vender até ventilador”, comemorava.

Aos 83 anos, Aronson inaugurou uma lojinha de utilidades domésticas, de três por sete metros, na mesma rua onde teve a peleteria. O imóvel, registrado em nome de uma de suas filhas, estava alugado a um comerciante de relógios que sucumbiu à concorrência dos camelôs. Assim que o inquilino comunicou que entregaria o imóvel, Aronson passou a rearticular sua volta ao mercado. “Não aguentava mais ficar parado”, diz. Em apenas 20 dias o empresário montou o comércio, um investimento de R$ 200 mil, sem enfrentar dificuldades em obter crédito junto aos fornecedores. “No nome de minhas filhas, é claro, pois eu sou um falido”, tenta brincar. Ressalta, porém, que não ficou devendo nenhum tostão a seus empregados.

As dificuldades de Aronson começaram em 1991, quando ele enfrentou uma primeira concordata, que levantou em quatro meses. Na segunda vez que entrou no vermelho, em 1998, não conseguiu escapar da falência, decretada em junho do ano passado, da qual resta uma dívida de cerca de R$ 20 milhões. No auge de seus problemas financeiros, o empresário ainda enfrentou um sequestro, permanecendo 14 dias em cativeiro. Na semana passada, ao voltar ao balcão, ele contou repetidas vezes sua história, a de imigrante russo que chegou ao Brasil com dois anos de idade e, aos 12, teve de garantir o sustento da família. “Estou começando de baixo, de novo”, comparava.

Figura famosa do cenário paulistano, Girsz Aronson não pára de receber visitas na nova lojinha e já faz planos para abrir outra, dentro de um mês, com fogões e geladeiras. De tênis, calça e camisa jeans, atende a todos com seu sorriso maroto, mas não perde nenhuma oportunidade de fazer negócio. “Vê se compra alguma coisa para me ajudar!”, dispara, logo após receber os cumprimentos. A funcionária pública Maria Edivalda Ramos nem precisou ouvir o apelo para escolher um ferro elétrico. “Assim que soube que ele estava de volta decidi que compraria alguma mercadoria, não importava qual”, conta. Não é à toa que Girsz Aronson já foi um dos maiores varejistas do País.


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