Sentado num canto da cela, sobre um colchonete, e com ar ligeiramente deprimido. Esse é o retrato do ex-diretor de redação do jornal O Estado de S.Paulo, Antônio Marcos Pimenta Neves, 63 anos, no xadrez-5 do 77º Distrito Policial, de São Paulo. Depois de passar dez dias numa clínica, o jornalista, que matou com dois tiros a ex-namorada Sandra Gomide, em 20 de agosto, chegou à delegacia, na madrugada do dia 4, algemado, usando colete à prova de balas e sob um forte esquema de segurança. “Parecia que estavam escoltando Pablo Escobar”, impressionou-se Édison Nogueira de Souza, delegado titular. Os 43 presos o receberam com vaias e palavrões. “Covarde, assassino de mulher.” Porém, os ocupantes do X-5 foram cordiais. “Todos foram solidários”, garantiu o delegado. Pimenta chegou prevenido. “Ele trouxe uma mala grande de viagem com colchonete, cobertor, roupas, sapato e produtos de higiene pessoal”, revelou o chefe da carceragem. Numa cela de nove metros quadrados, Pimenta está dormindo no chão.

No xadrez-5, que Pimenta divide com outros cinco criminosos (leia quadro), tem tevê de 14 polegadas, rádio, dominó, um banheiro azulejado, com vaso sanitário e chuveiro quente. Mesmo deprimido, acompanha o noticiário. “Quando ouve seu nome, pára e assiste atentamente”, observou um investigador. Onde o jornalista está não há pátio nem banho de sol e a grade da cela é vazada, o que a torna mais fria que as outras.

Na segunda-feira 4, o jornalista acordou às 10h com a visita do advogado Cláudio Mariz de Oliveira. “Meu cliente está sendo tratado como bode expiatório. Fiz uma pesquisa e constatei que 800 homicidas estão aguardando julgamento em liberdade.” O advogado dos Gomide, Luiz Flávio Gomes, contra-atacou. “Não é verdade. O cliente dele ficou numa clínica de alto luxo com base apenas num parecer médico particular. Nenhum outro homicida no Brasil recebeu tamanho privilégio.” Neste dia, Pimenta recusou a comida e tomou apenas um copo de leite. Na terça-feira, continuou o jejum. A psiquiatra Luciana Sarin foi ao DP e receitou o antidepressivo Aropax, Dorminid para auxiliá-lo a dormir e o anticonvulsivo Rivotil. À tarde, recebeu a visita da americana Carol, sua ex-mulher. O delegado acompanhou o encontro. “Não sei o que conversaram, pois falaram o tempo todo em inglês.” Na presença de Carol, Nogueira perguntou a Pimenta: “Por que o senhor não está comendo?” “Para não perder as energias. Minha cabeça pensa melhor quando fico sem comer”, respondeu. O delegado foi firme: “Pois eu vou avisá-lo que se o senhor perder as energias aqui e ficar doente não terá mordomias. Mando-o para o posto de saúde ou para a Santa Casa.” Diante da possibilidade de ir para um hospital público, prometeu colaborar. À noite, jantou arroz, feijão, salada, frango empanado, pão e suco. Na quarta-feira, na hora do almoço, improvisou uma colher com a tampa da marmitex e comeu arroz, feijão, bife, salada de beterraba e uma banana de sobremesa. “Vejo que ele é um homem de palavra e está se adaptando”, elogiou o delegado. Pimenta será interrogado no dia 13 pela juíza de Ibiúna, que negou o pedido de liminar para que ele voltasse para a clínica. O TJ-SP e o STJ decidirão nos próximos dias se revogam ou não a sua prisão preventiva.

Na cela com pimenta
Na cadeia, Pimenta divide espaço de nove metros quadrados com cinco presos. As poucas conversas que tem são com Viscome e com o engenheiro Fernando Lepper

Mateus da Costa Meira Entrou no cinema, com uma submetralhadora, matou três e deixou cinco feridos. No X-5, é assistido de modo quase paternal por Viscome, com quem joga dominó. Não foi julgado.
  Fernando Garcia Lepper Engenheiro condenado a oito anos por envolvimento na máfia dos fiscais. Tem estado perto de Pimenta para integrá-lo ao grupo.
Vicente Viscome Ex-vereador cassado e acusado de liderar a corrupção na regional da Penha. Condenado a 16 anos, hoje é o enfermeiro do X-5. Controla e ministra os remédios de Pimenta e de Mateus.
  Fernando Capitão Ex-oficial de gabinete da Administração Regional da Penha, também foi condenado a oito anos de prisão por envolvimento na máfia dos fiscais.

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