São os sionistas que têm se disfarçado de filantropos e onde quer que estejam no mundo escondem suas espadas contra os palestinos, os libaneses e os próprios alemães. Por um acaso as vítimas alemãs valem menos do que as dos neonazistas? ” Frases racistas e mal-escritas como esta, cunhada por admiradores de Adolf Hitler, estão se disseminando de forma rápida e eficaz na América Latina através de um número crescente de “sites” na internet. Mais de meio século depois do Holocausto, a rede mundial tornou-se uma arma silenciosa e assustadora para propagar as ideologias racistas dos neonazistas, principalmente nos países do Cone Sul, que mal saíram de experiências de ditaduras militares de direita. Em progressão geométrica, as páginas que exaltam a pátria, a tradição e o separatismo em nome de um nacionalismo étnico, de supremacia branca, aumentaram para cinco mil nos últimos quatro anos. Se antes os extremistas trabalhavam isolados, hoje eles se conectam facilmente. Basta comprar um computador, montar uma página gratuita e pagar mensalmente cerca de R$ 30 pelo serviço da internet. Pela rede, os herdeiros de Hitler organizam atividades conjuntas, planejam eventos racistas e anti-semitas, estreitando laços e formando conexões com a América Latina e o resto do planeta.

Um dos eventos realizados no final de abril deste ano no Chile foi uma conferência internacional secreta de militantes extremistas de direita e organizações neonazistas planejada e divulgada pela internet. Foram convidados a participar do “Primeiro Encontro Ideológico Internacional de Nacionalismo e Socialismo” representantes do Brasil, Uruguai, Argentina, Venezuela e Estados Unidos. Na semana prevista para o evento, o presidente chileno, Ricardo Lagos, afirmou que faria de tudo para que a reunião não acontecesse em seu país. A polícia chilena ficou em estado de alerta, buscando o possível esconderijo dos manifestantes. Graças a um vizinho, o local da reunião foi denunciado e a conferência acabou sendo reprimida. Mas a turma dos braços erguidos não se deu por vencida e o comitê organizador divulgou que a reunião será retomada. O líder extremista chileno Alexis López anunciou um segundo encontro denominado “Bolívia 2001”. Mas segundo grupos de direitos humanos do Chile, a tal conferência provavelmente ocorrerá na Argentina e não na Bolívia.

Semântica – Na página dos dirigentes chilenos figuram detalhes da primeira reunião. Em uma sala de conversas, eles trocam idéias sobre os projetos em andamento e aproveitam para convidar simpatizantes do movimento a se agruparem formando uma corrente “cultural, política, social e economicamente” oposta à chamada Nova Ordem Mundial. Em quase todos os sites, os extremistas fingem zelar pelo vernáculo protestando contra a denominação que recebem de neonazistas ou neofascistas e se autoclamam “nacional-socialistas”. “O nacional-socialismo é a única alternativa para os povos da Terra que crêem em sua Pátria e em sua Raça, especialmente os do Terceiro Mundo. É a única forma de impedir a invasão e deter a sombra do capitalismo selvagem que se produz nos Estados Unidos e Europa e se repete no Hemisfério Sul. O nacional-socialismo está acima do socialismo e do capitalismo”, afirma-se num de seus comunicados.

As páginas dos extremistas abrem para outros sites de organizações racistas do Paraguai à Colômbia. “De pé, irmãos guaranis, vizinhos e irmãos guaranis brasileiros, de pé, porque está tocando ao longe a trombeta do Juízo Final para os corruptos e malfeitores que roubaram o poder no Paraguai! Coração brasileiro de pé, o general Oviedo está chamando!” O discurso está escrito numa página de uma organização de Curitiba, pedindo apoio ao ex-general paraguaio golpista Lino César Oviedo, atualmente preso em Brasília aguardando extradição para o Paraguai. Através da rede, os neonazistas anunciam que o líder extremista argentino Alejandro Biodini será candidato do “Nacionalismo e da Integração Sul-Americana” à Presidência da Argentina. O lançamento da “candidatura” está programado para o dia 21 de setembro em Buenos Aires.

Conexão política: Movimentos nacionalistas do Cone Sul se unem para lançar o argentino Biondini como candidato à Presidência da Argentina
Herdeiros de Hitler: Extremistas da Argentina e do Chile são os maiores divulgadores de sites racistas na América do Sul
A história se repete: Os logotipos das páginas neonazistas são inspirados
em símbolos do III Reich

Além do calendário com as atividades de grupos neonazistas do Cone Sul, está à disposição dos internautas uma gigantesca gama de propaganda nazista. Vídeos com os discursos de Adolf Hitler e Benito Mussolini, revistas neonazistas como a argentina Revisión, um boletim mensal nacionalista hispano-americano editado na Flórida e publicações de um grupo de veteranos da Guerra das Malvinas (1982) que exalta o nacionalismo podem ser encomendados acessando os sites nazistas. As incitações contra o homossexualismo e os negros também podem ser conferidas em charges que afirmam que o “estilo gay e multirracial espalhará aids pelo mundo”. A imprensa que defende as minorias também é alvo dos neonazistas. Em um site brasileiro está escrito: “A VERDADE é que quem controla a imprensa tem culpa. E quem controla a imprensa são os JUDEUS”, diz a página racista.

Não é à toa que o Cone Sul é o local onde proliferam os ideais inspirados no III Reich. Depois do final da Segunda Guerra Mundial, muitos nazistas encontraram refúgio na Argentina, no Chile e até na Bolívia, onde durante décadas contaram com a proteção ou pelo menos omissão de muitas autoridades governamentais. Para se ter uma idéia da proliferação desses grupos no Sul, a única livraria que editava e publicava obras de incitação à discriminação racial estava em Porto Alegre. O dono da Editora Revisão, o escritor Siegfried Ellwanger Castran, acabou sendo preso. Os movimentos separatistas estão espalhados pelos estados sulistas e estão com suas páginas na internet. No informe Notícias do Pampa diz que “no Exterior, estudos apontam como inevitável o aparecimento de um outro país na região Sul do Brasil”.

E a Alemanha nazista continua sendo a fonte onde todos esses radicais vão beber. Na terça-feira 5, a polícia alemã apreendeu 7,5 mil CDs com canções nazistas. Entre as músicas, estava uma canção que falava sobre “o prazer de se matar um negro”. O perigo desse tipo de material foi alertado pelo ministro do Interior alemão, Manfred Punchel. “Muitos jovens acabam cometendo crimes depois de ouvir estas músicas. São elas que os inspiram”, disse. Sob a bandeira do nacionalismo, os extremistas ainda fomentam os movimentos xenófobos e ações de terror. A polícia do Uruguai, por exemplo, relacionou os atentados ocorridos em janeiro deste ano com o grupo que manifestou sua intenção de participar da conferência internacional no Chile.

Quem responde a este chamado são geralmente jovens de classe média com poucas perspectivas de uma vida melhor. Essa comunidade eletrônica racista e extremista comunica-se diariamente por mensagens da rede. Como os e-mails podem ser interceptados, eles estão agora adotando a criptografia – uma codificação para que ninguém entenda a mensagem a não ser que o receptor saiba os códigos da linguagem. Há também o truque das cores nas páginas dos extremistas. Algumas estão escritas em vermelho em um fundo negro, impossibilitando que as letras saiam na impressão.

Ativistas de direitos humanos do Cone Sul mantêm uma certa vigilância, mas censura mesmo na internet não existe. “O Congresso brasileiro tem de criar leis e a nossa polícia tem de estar preparada para lidar com crimes racistas”, afirma Jair Krischke, do Movimento de Justiça e Direitos Humanos. A Constituição brasileira diz que o racismo é um crime inafiançável no País, mas não existe uma legislação própria para combater a propaganda nazista, muito menos pela internet. Nos Estados Unidos, onde mais se encontram sites racistas, a Anti-Defamation League (ADL) oferece um método de bloqueio a esses tipos de sites. Segundo a ADL, a internet está se tornando também um poderoso instrumento de divulgação do ódio. É a confirmação de que o nazismo, como definiu um pensador, é uma forma de “modernismo reacionário”.

Pegando no bolso dos racistas

Há uma enorme torcida nos Estados Unidos para que um corpo de jurados na corte da cidade de Coeurs d’Alene, no Estado de Idaho, confisque a casa de um velhinho de 82 anos. O homem é um pastor e, em circunstâncias normais a medida pareceria uma desumanidade contra um idoso. Mas o reverendo Richard Butler não é um senhor normal. Ele é o líder do famigerado grupo neonazista Nações Arianas (Aryan Nations). Há mais de 20 anos o grupo faz proselitismo de sua causa racista e, o que é pior, vem cometendo vários atos de violência cujo saldo já eleva as vítimas à casa das centenas.

Mônica Zarattini/AE
Brasil Neonazistas: brasileiros se correspondem por e-mail com latinos

Victoria Keenan, 44 anos, e seu filho Jason, 21, engrossam esta lista de agredidos. Eles são lavradores itinerantes pobres e há dois anos foram barbaramente espancados pelas tropas de Butler. Com o auxílio de Morris Deen Jr., o advogado fundador do Southern Poverty Law Center – um centro liberal de ajuda jurídica – estão responsabilizando legalmente o reverendo nazi e seus asseclas. Reivindicam uma indenização de cerca de US$ 250 milhões, e como forma de pagamento querem o quartel-general da tropa. Suas chances de vencer essa guerra são enormes. Deen já conseguiu arrancar mais de US$ 40 milhões de outros grupos racistas como a Ku Klux Klan. “Acho que este caso será um marco jurídico”, disse Deen Jr. a ISTOÉ. “Estamos mandando uma poderosa mensagem aos grupos racistas americanos. Uma coisa é ter um ideário segregacionista. Outra, é colocar estas idéias em prática”, disse o advogado. E pelo que se viu nos primeiros dias de julgamento, Butler pode começar a empacotar o retrato de Adolf Hitler que decora o seu escritório. No grupo de possíveis jurados que vão decidir a questão, estão quatro negros e um judeu. São estas as vítimas prediletas nas ações dos “arianos”. E a comunidade branca de Coeurs d’Alene também não é nem um pouco simpática aos réus. “Temos perdido muitos negócios com turismo na região por causa do Nações Arianas. Estes prejuízos refletem na vida da comunidade”, disse Edgar Sullivan, da Câmara de Comércio local. “Está na hora de arrancarmos estas ervas daninhas de nossa terra”, sentenciou. Osmar Freitas Jr.Nova York