Brasileiro voltou a gostar de cinema. Recente pesquisa feita pelo Banco Nacional de Desenvolvimento, o BNDES, aponta o aumento de 70 para 80 milhões de ingressos vendidos nos últimos 12meses nos cinemas nacionais. É como se um em cada dois habitantes do País assistisse a algum filme durante o ano.

É um fenômeno curioso. As lojas estão abarrotadas de equipamentos criados para pregar o público em casa. DVDs, moderníssimos aparelhos de tevê, home-theathers e videocassetes de última geração. Há também canais a cabo com filmes para todos os gostos. Sem contar a internet e a tevê digital. Com tanto conforto à mão, no entanto, muita gente não desiste do cineminha. “ Estamos sempre procurando fugir da rotina” , justifica o casal Paulo Schevano, 31 anos, e Renata Oliveira, 28 anos.

Fiéis: Paulo e Renata só assistem a filmes em shopping, com estacionamento e segurança

Paulo e Renata só vão a cinema de shopping. São os típicos frequentadores dos Multiplex. Com cara de naves espaciais, essas salas instaladas em shopping centers, segundo o estudo do BNDES, seriam as responsáveis pelo aumento na venda dos bilhetes. No ano passado, em torno de 20 milhões de ingressos foram vendidos nos Multiplex, que respondem por 22% das 1.400 salas em funcionamento.

“Aqui você se sente seguro, tem estacionamento e as pessoas são bonitas,”, diz Paulo, na fila do Multiplex do Shopping Jardim Sul, no Morumbi, bairro nobre da zona sul de São Paulo. A película em exibição: X-Men o filme. Como Paulo e Renata, a maioria da platéia portava o kit Multiplex, um gigantesco saco de pipoca e um copão de refrigerante.

De olho nesse público, as administradoras dos Multiplex prometem investir alto no setor. A estrangeira Cinemark, que introduziu o conceito de cinema-nave espacial no Brasil, deve aplicar cerca de U$40 milhões na abertura de 60 novas salas em 2001. “O preço do bilhete continua baixo e a qualidade melhorou. Por isso ninguém deixa de ir ao cinema ,” explica Valmir Fernandes, presidente da Cinemark do Brasil.

Outra estrangeira, a UCI promete construir 165 salas nos próximos dois anos. A previsão de custos beira aos US$ 150 milhões. O grupo carioca Severiano Ribeiro, líder em faturamento no ramo, pretende estender os negócios a São Paulo. A boa notícia é que cinemas como o Marabá – um dos sobreviventes da época de ouro dos cinemas do centro de São Paulo – também têm registrado acréscimo nas bilheterias. No lançaºmento de X-Men, tinham filas proporcionais às salas do Jardim Sul. E a pipoca do Marabá é de carrinho, fria e mole. O refrigerante, nem sempre gelado, sai do isopor do vendedor ambulante. “Mas aqui é só R$ 4”, justifica a caixa Sandra Neide, 27 anos. Pudera. O velho cinema não tem som digital, a tela não tem a mesma definição do Multiplex (bilhete a R$ 11) nem as poltronas o mesmo conforto.

O cinema voltou mesmo a ser um programão: até os filmes “cabeça”, longe do estilo entretenimento, têm deixado as salas cheias. O Grupo Estação, o maior do segmento cult, acaba de inaugurar duas novas salas no Shopping Ipanema, no Rio. O Top Cine, na avenida Paulista, em São Paulo, triplicou desde que o Estação assumiu a administração do espaço. A programação do Top Cine é assinada por cineastas como os franceses François Truffaut e Louis Malle. “Cinema não é shopping center, é filosofia de vida e pode ser um filão viável” diz Marcelo Mendes, diretor de programação do Estação.