Na semana passada, a divulgação dos resultados de uma experiência pioneira trouxe mais esperança para a cura de lesões medulares responsáveis pela paralisia das pernas. Uma equipe de médicos poloneses e ingleses anunciou ter conseguido devolver parcialmente ao ex-bombeiro polonês Darek Fidyka, 40 anos, os movimentos dos membros inferiores e também a sensibilidade nessa parte do corpo. O artigo descrevendo detalhes do trabalho será publicado na revista científica Cell Transplantation. 

Darek ficou paralítico depois de sofrer um ataque com faca após o qual teve sua medula espinhal danificada. Sua paraplegia foi classificada como a mais grave na escala que mede a severidade do problema. Depois de passar meses submetendo-se a sessões de exercícios e fisioterapia sem apresentar melhora, o polonês concordou em submeter-se ao procedimento pioneiro. 

O objetivo dos médicos era recriar a ligação entre o cérebro e os músculos das pernas, interrompida por causa da lesão na medula. Para isso, primeiro criaram uma “ponte” no local usando fibras nervosas retiradas de um dos calcanhares de Darek. Depois, extraíram do bulbo olfativo do paciente células cuja principal característica é possibilitar a regeneração das células nervosas. Elas foram multiplicadas em laboratório e injetadas sobre as fibras nervosas que haviam sido anteriormente colocadas no ponto da lesão. Cinco meses depois, o ex-bombeiro relatou ter conseguido realizar movimentos voluntários nas pernas e também ter recuperado parte da sensibilidade nessa área do corpo. Hoje já anda apenas com a ajuda do andador. “Parece que nasci de novo”, disse Darek. 

Os médicos acreditam que as células extraídas do bulbo olfativo estimularam a multiplicação das fibras nervosas implantadas no ponto da lesão. Isso teria permitido a restauração da transmissão correta dos sinais nervosos entre o cérebro e os músculos. “É impressionante ver que a regeneração da medula espinhal, antes vista como algo impossível, está se tornando realidade”, disse Pawel Tabakow, neurocirurgião da Wroclaw University Hospital, na Polônia, e um dos coordenadores da experiência. 

Apesar do resultado promissor, especialistas optaram pela cautela. Alertam para o fato de que se trata de apenas um caso. Os próprios líderes do trabalho também fazem essa ressalva e anunciaram o recrutamento de novos pacientes com condições semelhantes as de Darek logo após o ataque por ele sofrido. Querem confirmar se obterão novamente os mesmos bons resultados. 

ESPERANÇA EM TESTE 
Conheça mais detalhes sobre o procedimento: 

– Os médicos retiraram fibras nervosas de um dos calcanhares de Darek. Elas foram implantadas no local da lesão medular para que servissem de base para o crescimento de novos nervos 


– Também previamente foram extraídas de um dos bulbos olfativos do paciente as chamadas células de glia envolvente olfativa (OECs, na sigla em inglês). Elas funcionam como pontes que permitem a contínua renovação das células do sistema olfativo 

  Multiplicadas em laboratório, as OECs foram implantadas sobre as fibras nervosas que haviam sido colocadas no ponto da lesão. Foram lá inseridas por meio de 100 microinjeções 

– Os médicos acreditam que as OECs estimularam a regeneração dessas fibras nervosas, o que fez com que a condução dos sinais nervosos na região fosse restaurada 

– Isso possibilitou novamente a transmissão dos sinais nervosos entre o cérebro e os músculos da parte inferior do corpo de Darek, antes interrompida por causa da lesão medular