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Noemia Neves segura foto do filho Keller e do Neto Gustavo, vítimas da tragédia

"Eu me lembro da alegria dele para ir a esse lugar, que já havia conhecido há alguns anos. Dizia que era um lugar lindíssimo. E estava mais feliz ainda porque levaria o filhinho de 10 anos. Ele era separado. Lembro dos dois fazendo as malas, tão animados. O Gustavo vinha a cada 15 dias passar o fim de semana conosco. O Keller morava aqui comigo. Tenho cinco filhos rapazes. Ele é o segundo. A namorada dele, Joice Yamato, era de Mogi. Namoravam há quatro anos. Já tinham comprado terreno para construir a casa. Ela era fisioterapia, já tinha feito pós-graduação, dava palestras até em outros estados. Tinha tudo para ser uma família abençoada. O Gustavo saiu daqui com varinha de pesca, a máscara para mergulhar. Keller trabalhava no cartório do pai desde os 12 anos. Minha família está toda reunida aqui nessa foto (mostra uma imagem de toda família). Agora, nunca mais… (ela se emociona). Ele era tão querido. Sabe o mais alegre da turma? Sempre fazendo todo mundo sorrir. Era daquelas pessoas com astral bom. Os amigos diziam que festa sem o Keller não tinha graça porque ele sempre fazia uma gozação, brincadeira. Falei com ele 20 minutos antes da meia noite. Me desejou feliz ano novo, falou com todos que estavam aqui em casa. Mas me chamou a atenção ele dizer: “mãe, aqui está chovendo tanto que dá medo”. E meus outros filhos costumam andar junto com essa turma. Você já imaginou se todos meus filhos tivessem ido? Eu não viveria mais. Já está doendo tanto perder um… (chora). Vi o acidente na televisão. Falei para meu marido que era o mesmo lugar que nosso filho foi. Ele ainda brincou que a ilha era grande, que o Keller estaria em outro lugar. Começamos a receber informações desencontradas. Me bateu o desespero. Ligava no celular deles e nada. Somos evangélicos. Eu sirvo a Deus. Se não fosse esse Deus não sei como eu estaria. Sei que meu filho, meu neto e minha nora estão com ele. Sou uma mulher de oração e de fé. Há dois meses meu neto pediu para leva-lo à igreja que ele queria se entregar para Jesus. Meu filho quis reconfirmar essa entrega há 20 dias. Minha nora fez o mesmo há três meses. Quando houve a tragédia, parei e percebi como Deus já preparara eles. Na noite do dia 1, fui ao meu quarto rezar. Chorei muito. É isso que me dá força, saber que eles estão salvos. Aqui na Terra nunca mais poderei reunir meus cinco filhos juntos… (chora) Mas eu creio que um dia vou ver minha família toda junta novamente. Entrei no quarto dele, cheirei todas as camisas dele… Não dá para ninguém entender… Mas sabe ver a alegria da casa ir embora? Keller faz aniversário três dias antes do pai. Já imaginou agora? O dele é 15 de setembro, do meu marido é 18. A gente sempre reunia a família toda e tinha o bolo do pai e o bolo do filho para comemorar junto."


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