Qualquer que venha a ser o presidente eleito no próximo dia 26, sua primeira tarefa será administrar os efeitos das delações premiadas da Operação Lava Jato, não mais restritas aos dois protagonistas da trama: Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, e Alberto Youssef, o doleiro e operador do esquema. Além deles, já aceitaram colaborar com a Justiça outros três integrantes da engrenagem de corrupção e lavagem de dinheiro: o advogado Carlos Alberto Pereira Costa, o empresário Leonardo Meirelles, que simulava importações por meio do laboratório Labogen, e a também doleira Nelma Kodama. Embora sejam coadjuvantes, podem revelar detalhes importantes, capazes de implicar outros personagens nesse enredo.

Em Brasília, já se fala numa lista de até 190 políticos. Entre eles, há deputados, senadores, governadores e nomes que acabam de ser eleitos para mais um mandato. Se antes o esquema parecia restrito a três partidos da base aliada, PT, PP e PMDB, já se sabe, agora, que Costa também delatou personagens da oposição. Um deles, o senador socialista Fernando Bezerra Coelho, ex-ministro de Dilma, mas agora aliado de Aécio, que teria pedido uma doação de R$ 20 milhões para a reeleição de Eduardo Campos, em 2010. Outro, o ex-presidente nacional do PSDB, Sergio Guerra, que teria recebido recursos para colocar em fogo brando uma CPI sobre a Petrobras.

Caso seja eleita, a presidenta Dilma Rousseff pretende fazer do limão uma ­limonada. O terremoto da Lava Jato, que arrasta para a lama parlamentares e empreiteiros, será o argumento ideal para a reforma política, com o fim do financiamento privado de campanhas eleitorais. Afinal, a necessidade de se garantir a governabilidade não pode ser fonte permanente de novos escândalos de ­corrupção – o Brasil não suporta mais.

Do lado tucano, Aécio Neves já deu indicações de que também defende uma reforma política. Embora o PSDB tenha uma firme posição contra o fim do financiamento privado, Aécio já defendeu pontos como cláusulas de barreira, que restringiriam o número de partidos políticos. Seu desafio, se eleito, será enfrentar esse terremoto com uma base parlamentar, ao menos hoje, mais frágil, numericamente, do que a de Dilma. Para um candidato que promete reformas estruturais, turbulências no Congresso seriam inconvenientes a ser evitados em 2015 – o que pode gerar um esforço de conciliação com as forças implicadas no escândalo.

A uma semana das eleições, depois de debates que foram marcados por ataques pessoais, os dois candidatos poderiam responder ao distinto público uma questão: que encaminhamento pretendem dar às descobertas da Operação Lava Jato, a bomba atômica que desabará no Congresso em 2015?