"Quando penso na minha vida, às vezes me parece impossível que seja tudo verdade. Um dia desses, vou acordar de manhã e perceber que tudo não passou de um sonho.” É com essa confissão que a atriz italiana Sophia Loren, 80 anos completados em setembro, apresenta ao leitor a sua singular história de vida, na recém-lançada autobiografia “Ontem, Hoje e Amanhã” (Editora BestSeller), com lançamento previsto para a primeira semana de novembro no Brasil. Batizado em referência a um de seus filmes mais cultuados, dirigido por Vittorio de Sica (1901-1974), o livro revela detalhes da infância pobre de Sophia na pequena vila de Pozzuoli, na Itália, passagens inusitadas sobre os bastidores da indústria de Hollywood, e sua relação com personalidades do calibre de Frank Sinatra, Richard Burton e, seu amor platônico, Cary Grant, cujos bilhetes e cartas são reproduzidos em um encarte especial com 64 páginas, que inclui ainda fotografias inéditas do acervo pessoal da estrela napolitana, uma das maiores musas do cinema internacional.

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ASCENSÃO
Sophia ao lado de Carlo Mazzarella em "Carrossel Napolitano" (1954)

Prosa leve e saborosa, a narrativa começa com a nonna Sophia preparando um jantar de Natal para os dois filhos, Carlo e Edoardo, fruto do casamento de quatro décadas com o produtor Carlo Ponti (1912-2007), e os quatro netos, em sua casa atual, na Suíça. Depois de pendurar o avental sujo de farinha e tentar dormir, sem sucesso, ela caminha até seu escritório, onde encontra sua “caixa de segredos”: um baú com cartas, telegramas, bilhetes e fotografias que ela conta que nem lembrava mais que existiam, e que se tornam o ponto de partida para seu livro de memórias.

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CONTO DE FADAS
Capa da autobiografia "Ontem, Hoje e Amanhã" (Editora BestSeller)

Entre as lembranças mais apetitosas da atriz destacam-se as curiosidades da proximidade com as grandes personalidades de seu tempo, a quem Sophia, apesar de ser ela própria uma diva, reverencia com humildade. Sobre a convivência com Frank Sinatra (1915-1998) no set do longa “Orgulho e Paixão”, em 1956, a atriz descreve o astro como um homem bom e divertido, “embora estivesse sofrendo por causa de Ava Gardner e não estivesse exatamente com o melhor dos humores”. Sophia também presenciou de perto a dor de outro colega de cena e amigo, o britânico Richard Burton (1925-1984), que no início dos anos 70 vivia uma relação tempestuosa com Elizabeth Taylor (1932-2011). Em uma carta de 1974, Burton declarou à amiga: “Elizabeth (Taylor) nunca sairá dos meus ossos, mas finalmente está fora da minha cabeça e o amor que eu sentia se transformou em compaixão. (…) Não há nada que eu possa fazer por ela sem me destruir junto”.

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A recordação mais tocante do livro, porém, é sem dúvida o amor platônico vivido entre Sophia e o galã Cary Grant (1904-1986). A dupla conviveu intensamente por seis meses durante as filmagens de “Orgulho e Paixão” e, aos poucos, a amizade deu lugar ao amor. No entanto, tanto Sophia quanto Grant estavam comprometidos com outras pessoas na época e a atriz deixa subentendido no livro que a paixão dos dois nunca foi concretizada. Na última noite em que jantaram juntos, Grant, em um movimento inesperado, pediu Sophia em casamento, mas ela, sabendo da impossibilidade do romance, pediu um tempo para pensar. No dia seguinte, recebeu de Grant um buquê de rosas com o bilhete: “Perdoe-me, garota querida – eu te pressiono muito. Reze – e eu farei o mesmo. (…) Apenas com pensamentos felizes, Cary”. Sophia acabou permanecendo ao lado do companheiro de toda a sua vida, Carlo Ponti, e Grant encontrou o amor nos braços de outra mulher, Barbara Hutton.

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Mais do que uma viagem fascinante pelos bastidores da história do cinema, a autobiografia de Sophia é também um retrato de uma mulher verdadeira e sincera, que, apesar de todas as adversidades, conseguiu se tornar uma das personalidades mais admiradas do mundo, como num conto de fadas da vida real. “Sem a vida, o conto de fadas perde a magia, e vice-versa. Bom é caminhar no meio, sem renunciar jamais nem a um nem a outra”, ensina Sophia.