O que é preciso para dar mais poder às mulheres? Mais mulheres no poder!” A frase foi, para mim, uma epifania. A simplicidade da dedução, que está longe de ser simplista, vem de uma mulher de voz forte, gestos assertivos e que ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 2011 por usar armas muito pouco ortodoxas, mas incrivelmente eficientes, para ajudar a encerrar a sangrenta guerra civil em seu país.

A liberiana Leymah Gbowee foi minha convidada num dos muitos seminários que promovo para e com mulheres, os Fóruns Anuais Momento Mulher. Ali ela contou a história de um movimento que enfrentou governo e rebeldes a partir de quase nada. Movida pela certeza de que as principais vítimas do conflito armado na Libéria eram mulheres como ela, donas de casa, Leymah liderou um protesto que tinha tudo para ser um fiasco. Reuniu outras poucas e foi às ruas. O grupo mirradinho foi ficando cada vez maior e postou-se em frente ao Palácio do Governo. Chamou a atenção da mídia internacional. Leymah teve então a ideia de ouro: anunciou uma greve de sexo enquanto não terminassem os combates. Não teve medo da patrulha feminista ou da fúria machista dos combatentes. Usou o poder que tinha para ganhar apoio e visibilidade e contar com a ajuda de outros países para interromper o conflito. Simples assim.

Lembrei-me muito dela lendo as diversas reportagens sobre o pífio resultado da eleição de mulheres no fim de semana passado, aqui no Brasil. Ainda somos muito poucas em cargos políticos. As explicações para o fato variam entre a falta de interesse dos partidos em promover causas femininas, a ausência do financiamento público e transparente das campanhas e a dificuldade da mulher em circular num meio tão masculino e plantar ali suas ideias. Todas passam, de algum modo, pela divisão sexual do trabalho (o mundo doméstico para as mulheres e o público para os homens). Não tenho uma opinião formada sobre isso, mas estou convencida de que a gente só encontra as respostas certas quando faz as perguntas certas. Leymah não perguntou o que impedia um acordo que desse fim ao conflito armado na Libéria. Ela fez com que ele terminasse. Ela liderou. Ela impôs sua vontade e a de uma maioria. Isso é fazer política. Mesmo sem exercer cargo algum.

Não quero com isso dizer que seja fácil ter algum tipo de poder. Ou que a profunda dívida histórica que a sociedade tem com as mulheres não tenha deixado um rastro cultural conservador difícil de mudar. Ou que o machismo não exista. Ou que todas as opções acima não sejam verdadeiras. Apenas não me interessa o como. Me interessa o porquê. Lideranças políticas nascem de movimentos que combatem o que consideram um problema. Nesse sentido, muitas mulheres participam de movimentos políticos o tempo todo no Brasil. Não participam, necessariamente, de movimentos partidários. Meu palpite é que, antes de qualquer barreira cultural ou de gênero, há um porquê inicial: os partidos não falam com elas. Não as representam. E isso precisa mudar porque, sim, concordo com Leymah: mulheres só terão mais poder quando mais mulheres estiverem no poder.

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Ana Paula Padrão é jornalista e empresária