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Fábrica da Braskem: compra da Quattor faria da empresa da Odebrecht uma das cinco maiores do mundo

E estava tudo pronto. A sala Di Cavalcanti, no Hotel Intercontinental, em São Paulo, reservada. Os logotipos impressos. O fato relevante escrito. A proposta sobre a mesa. Seriam pagos R$ 872 milhões e um prêmio de controle acionário de 80%. As negociações caminhavam para o desfecho até que um problema antigo voltou a ser um obstáculo para a Odebrecht, a Petrobras e o governo. Há pelo menos seis meses é dada como certa a compra da petroquímica Quattor – controlada pela Unipar – pela Braskem, do grupo Odebrecht. Ambos têm a Petrobras como sócia-minoritária. Mas, na semana passada, o empresário Alberto Soares de Sampaio Geyer, 54 anos, se recusou de novo a aprovar o negócio. Ele detém 24% de participação da Vila Velha, majoritária na Unipar, e entrou com três ações na Justiça para evitar que três dos seus quatro irmãos vendam a empresa da família para a Braskem. “Anunciaram o negócio de forma afobada, achando que iriam me atropelar. Mas não adianta vir com fato consumado, não vão lesar o meu patrimônio”, disse Geyer à ISTOÉ.

Ele quer exercer preferência na compra da empresa e ofereceu R$ 80 milhões para cada irmão ou o preço que a Braskem pagaria, com exceção do prêmio de controle. Mas tanto para a Braskem quanto para o governo a compra da Quattor é uma questão estratégica. A Braskem se tornaria em poucos anos uma das cinco maiores petroquímicas do mundo em produção de eteno – seu faturamento pularia de R$ 10,9 bilhões para R$ 12 bilhões. E a Petrobras voltaria a ter uma atuação forte no setor, como deseja o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A estatal teria 49% da gigante que saísse da fusão e só não ficaria com mais da metade porque isso significaria reestatização. Mas a Petrobras, na prática, poderia intervir na empresa. O governo pediu para indicar o presidente-executivo ou o do conselho e diretores. Até a quinta-feira 7, esse ainda não era um ponto pacífico.

A criação de um monopólio preocupa o setor, pois teme-se que a Braskem passe a importar produtos transformados em vez de negociar preços no mercado interno. Juntas as empresas responderiam por 100% do mercado de polipropileno e 98% de polieteno, matérias-primas para tudo o que é de plástico. Alguns empresários, porém, estão mais otimistas. O presidente da Europack, Peter Reiter, fabricante de embalagens, acredita que a presença da Petrobras na Braskem permitirá que o governo reduza o preço da matéria-prima. Assim, a empresa ganharia dos dois lados. “Eu entendo que o governo vai se preocupar em proteger a indústria de transformação, pois o número de empregados é “n” vezes maior do que na petroquímica”, diz. Mesmo que Geyer perca na Justiça, cabe ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica dar a última palavra sobre o negócio. E aí pode ser o início de outra novela que começa com uma questão: o Cade irá contra a vontade do governo?

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