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DESAFIO
A reação do presidente a novos atentados terroristas pode definir o rumo de seu mandato

A chegada de Barack Obama à Casa Branca há um ano foi a boa nova da política americana em décadas. A eleição do primeiro presidente negro da história dos EUA representou um sopro de esperança após oito anos de uma era Bush marcada pelo medo. Com ideais progressistas e um histórico de luta pelos direitos civis, Obama recebeu das mãos do antecessor um país com uma guerra de difícil saída no Iraque e uma crise econômica sem precedentes. Escorado no slogan “Yes, We Can!”, ele prometeu mudanças profundas. Mas a realidade bateu à porta. O fantasma dos ataques de 11 de setembro de 2001 voltou a assombrar os Estados Unidos assim que um nigeriano tentou derrubar um avião sobre Detroit no mês passado. O atentado provocou o endurecimento das medidas antiterror e, nos próximos meses, a reação de Obama pode definir os rumos de seu mandato. No balanço geral, nos primeiros 12 meses, muito pouco foi feito. “Considerando a situação herdada de Bush, foi um ano bom. Mas bem aquém das expectativas. Obama melhorou a imagem dos EUA no exterior, mas não conseguiu deter a dinâmica da maioria dos conflitos”, disse à ISTOÉ Peter Hakim, presidente do Diálogo Americano, centro de estudos independente sediado em Washington.

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O analista garante que os americanos estão mais preocupados com o futuro do que nunca. E a principal causa é o desemprego que atinge 10% da população economicamente ativa do país. Para Nicolas Bouchet, do Chatham House, em Londres, o desempenho do presidente no primeiro ano tem consequências para o resto do mandato. “As primeiras impressões são difíceis de mudar e podem definir todo o mandato. Há o risco de Obama ficar marcado pela imagem de um presidente liberal demais, ingênuo e indeciso. E isso terá um efeito importante nas eleições legislativas de novembro”, afirma. Até lá, o desafio de Obama será provar que muitas das medidas adotadas nos primeiros meses começarão a surtir efeito a médio prazo. É o caso do pacote de US$ 787 bilhões lançado em fevereiro para estimular a economia. Passados dez meses, houve uma desaceleração na perda de postos de trabalho e a economia começa a mostrar sinais positivos. Os críticos, no entanto, afirmam que a iniciativa beneficiou as instituições financeiras e abriu um rombo no orçamento. “O déficit cresceu a US$ 2,9 trilhões e o desemprego ficou nos mesmos 10%. Desde a aprovação do pacote, quatro milhões de postos de trabalho foram perdidos”, diz Newt Gingrich, ex-líder republicano e hoje analista do American Enterprise Institute. Carlos Pio, professor de economia política da UnB e pesquisador da Universidade de Oxford, pondera: “Há muita incerteza sobre o melhor modelo a ser empregado. Não há consenso sobre a função do Estado e os instrumentos mais corretos para a saída da crise.” Segundo Pio, a “conta” deve ser compartilhada. “O Banco Central é independente nos EUA”, diz. Para o eleitor americano, a equação é bem mais simples. Se ele tem dinheiro no bolso para gastar, tudo bem. Caso contrário, é preciso escolher novos políticos. Daí a preocupação crescente da Casa Branca com as eleições de novembro, quando será renovada a Câmara dos Deputados e um terço do Senado. Os democratas temem perder a maioria, o que pode tornar ainda mais difícil a vida de Obama.

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Até agora as pesquisas de opinião são portadoras de más notícias. A popularidade do presidente despencou de 68% para 52%, índice inferior ao de Jimmy Carter (56%) e pouco melhor que o de Bill Clinton (49%) em seu primeiro ano. O desgaste da imagem de Obama só não foi maior por causa da vitória na aprovação da reforma do sistema de saúde. O projeto, que já passou nas duas Casas legislativas, garantirá assistência à população de baixa renda. Apesar dessa conquista, o presidente surpreendeu negativamente no plano diplomático. Ao receber o Nobel da Paz, defendeu o conceito de “guerra justa” e, mesmo anunciando um plano de saída para o Iraque, dobrou o contingente militar no Afeganistão. Para Hakim, Obama não tinha saída. Mas Roland Martin, analista da CNN, acha que, “ao decidir enviar mais 30 mil soldados ao Afeganistão, o presidente pôs sua impressão digital na guerra ao terror de Bush”. As consequências da ofensiva militar já começam a surgir, traduzidas na tentativa do atentado da Al Qaeda no voo da Northwest Airlines em pleno Natal. É como o próprio Obama avisou ao tomar posse: “Haverá retrocessos e falsos começos, e às vezes cometeremos erros.”