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SORTE
Yamaguchi não teve sequelas após ser exposto à radiação

Tsutomu Yamaguchi passou a vida sendo considerado tanto um homem de sorte ímpar como um dos mais azarados do mundo. A pecha de sortudo veio pelo fato de ele ser a única pessoa conhecida a ter sobrevivido aos dois únicos ataques nucleares da história, que devastaram as cidades de Hiroshima e Nagasaki, no Japão, em agosto de 1945, no final da Segunda Guerra Mundial. Já o azar ficou por conta de ele estar nas duas cidades exatamente nos fatídicos dias em que os aviões, batizados de Enola Gay e Bockscar, lançaram as infames bombas que dizimaram mais de 200 mil pessoas. Além de não ter morrido no ataque, Yamaguchi ainda foi uma exceção: não apresentou qualquer sequela por conta da radiação a que foi exposto. Na segunda-feira 4, no entanto, um câncer no estômago o venceu aos 93 anos de idade na mesma Nagasaki em que nasceu, ajudou a reconstruir após a guerra e viveu por toda a vida.

A vida de Yamaguchi era parte da história do Japão e esse engenheiro sempre fez questão de compartilhá-la com todos que a quisessem ouvir. “Perdemos um excelente contador de histórias” disse o prefeito de Nagasaki, Tomihisa Taue. Quando a “Little Boy”, primeira bomba atômica lançada pelos americanos, caiu sobre a cidade de Hiroshima, em 6 de agosto de 1945, matando cerca de 140 mil pessoas, Yamaguchi estava lá, em uma viagem a trabalho pela indústria Mitsubishi, onde era engenheiro. Ele caminhava a cerca de dois quilômetros do epicentro da explosão quando uma onda de calor queimou seu corpo. Por uma infeliz ironia, mesmo ferido, ele resolveu voltar para sua cidade, Nagasaki, onde se sentia mais seguro. Três dias depois, enquanto conversava com os colegas de fábrica sobre a tragédia em Hiroshima, a “Fat Man”, a segunda bomba lançada pelos americanos, caiu sobre Nagasaki, deixando cerca de 65 mil mortos. A bomba caiu a três quilômetros do local onde Yamaguchi se encontrava e devastou tudo. “Acreditei que o cogumelo atômico havia me seguido até aqui”, recordou mais tarde Yamaguchi.

Em 15 de agosto o Japão se rendeu e a Segunda Guerra Mundial chegou ao fim. Depois de recuperar-se dos ferimentos, Yamaguchi trabalhou como tradutor para o Exército dos Estados Unidos e, depois, como professor do ensino médio, até que em 2005, após a morte de um dos seus filhos por câncer, causado pela radiação da bomba de Nagasaki, ele se dedicou a falar sobre sua experiência como sobrevivente. Em 2006 Yamaguchi fez uma palestra na ONU, onde defendeu a extinção das bombas nucleares. O prefeito de Nagasaki publicou um comunicado no site oficial da prefeitura, em que lamentou o acontecimento. “Perdemos uma testemunha das mais importantes dessa história”, afirmou Taue.

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