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PRECAUÇÃO
Quem abandona o cigarro deve controlar o peso para evitar a doença

Parar de fumar melhora o placar contra muitas doenças, especialmente males como infarto, derrame, problemas respiratórios e alguns tumores. Mas o que os médicos não sabiam é que o abandono do vício eleva, a curto prazo, o risco de ter diabetes tipo 2. Foi o que revelou um trabalho recém-divulgado por cientistas de duas universidades americanas, Johns Hopkins e North Carolina, e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre. Após observar 10,8 mil pessoas por 17 anos, os especialistas concluíram que aquelas que deixam de fumar têm até 70% mais chance de desenvolver a doença do que as que nunca fumaram. É um risco que se mantém alto nos três primeiros anos de suspensão do cigarro. Depois, cai gradualmente até que, em dez anos, volta a ser igual aos riscos da população não fumante. Os especialistas relacionam o aumento da vulnerabilidade à diabetes dos ex-fumantes à quantidade de cigarros consumidos durante os anos de tabagismo e ao ganho de peso após a interrupção desse hábito. “Identificamos que as pessoas que fumavam mais de 20 cigarros por dia e aquelas que ganharam mais peso depois de parar tiveram maior risco de manifestar a doença”, afirmou à ISTOÉ a médica Hsin-Chieh Yeh, da Universidade Johns Hopkins. O levantamento mostrou que apresentaram tendência acentuada à diabetes os voluntários que ganharam em média quatro quilos e quatro centímetros de circunferência abdominal nos três anos seguintes ao abandono do vício.

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Os dados do estudo estão publicados na edição deste mês da revista “Annals of Internal Medicine”. Para a endocrinologista Maria Teresa Zanella, coordenadora do setor de Obesidade da Universidade Federal de São Paulo, é fácil enxergar o fio condutor que liga o adeus ao tabagismo ao risco de diabetes. Enquanto a pessoa fuma, diz a médica, a nicotina estimula a produção dos hormônios adrenalina e noradrenalina. Em excesso, eles aceleram o funcionamento do organismo, aumentando, por exemplo, os batimentos cardíacos e a respiração. “Isso leva a um gasto energético maior”, diz Maria Teresa. Ao mesmo tempo, a nicotina inibe o apetite. “Quando a pessoa para de fumar, esse processo é interrompido, o gasto energético diminui e a vontade de comer cresce.” A consequência é o ganho de peso, que cria condições favoráveis à diabetes tipo 2, uma alteração do metabolismo dos açúcares do corpo que pode aparecer em qualquer fase da vida. Fora de controle, ela traz complicações renais, cardíacas e circulatórias. “O aumento de tecido gorduroso dificulta a ação da insulina, um hormônio produzido pelo pâncreas, que ajuda a colocar a glicose (o combustível do organismo) dentro das células”, explica Maria Teresa. Se o corpo não consegue produzir insulina suficiente ou não a utiliza de maneira apropriada, há o descontrole dos índices de açúcar no sangue. As constatações desse estudo, porém, não devem ser usadas como desculpa para não largar o cigarro. Afinal, os benefícios de deixar de fumar para a saúde são muito maiores do que o risco de desenvolver diabetes do tipo 2. O próprio estudo em questão aponta que os fumantes têm 30% mais predisposição à diabetes do que não fumantes. “O certo é desistir do cigarro”, diz a cientista Hsin-Chieh. Para ela, os médicos devem orientar melhor os ex-fumantes. “Além de mudanças no estilo de vida, como adotar uma dieta saudável e fazer atividade física, é importante verificar com frequência as taxas de açúcar no sangue para detectar precocemente a diabetes.”


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