A presidenta Dilma Rousseff chegou a Nova York na madrugada da terça-feira 23 certa de que estaria no centro dos holofotes da comunidade internacional pelos próximos dois dias. Naquela manhã faria um discurso na Cúpula do Clima ONU e na quarta-feira abriria a 69ª Assembleia-Geral das Nações Unidas, como fazem todos os presidentes brasileiros desde a criação da organização, no fim da Segunda Guerra Mundial. Pouco mais de seis horas depois de pousar no Aeroporto JFK, Dilma subiu ao principal púlpito da ONU para contar ao mundo o que o Brasil tem feito para conter a destruição da maior floresta tropical do mundo. Mostrou números de fôlego, como a redução da área desmatada na Amazônia Legal em quase 80% desde 2004 e uma redução anual nas emissões de CO² de 650 milhões de toneladas. Os bons resultados, no entanto, não evitaram que a presidenta brasileira – o Brasil, por consequência – saísse da Conferência como uma das vilãs no combate ao fim do desmatamento mundial.

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Dilma decidiu ir na contramão da maior parte dos países, empresas e integrantes da sociedade civil comprometidos com o meio ambiente. Por pequenas divergências, a presidenta brasileira decidiu que o Brasil não faria parte da Declaração de Nova York contra o desmatamento, uma carta de intenções que tem como objetivo reduzir pela metade o desmatamento no mundo até 2020 e eliminar por completo a destruição de florestas em 2030. A decisão de Dilma colocou o País ao lado das nações que tradicionalmente se opõem aos esforços internacionais de redução na emissão de CO² e de proteção à natureza, como Índia e China, que também se abstiveram de assinar o acordo.

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A Declaração de Nova York foi o documento mais importante da Cúpula do Clima da ONU, que reuniu boa parte dos líderes dos 193 países que compõem as Nações Unidas. Estavam lá o presidente americano, Barack Obama, o premiê inglês, James Cameron, e celebridades como o ex-vice-presidente dos Estados Unidos e vencedor do Nobel da Paz Al Gore e o astro de Hollywood Leonardo DiCaprio. Dois dias antes, mais de 400 mil pessoas marcharam em Nova York exigindo mais comprometimento dos líderes globais com as questões ambientais. “É preciso tomar decisões agora para salvarmos o planeta e o que está proposto na Declaração de Nova York significa reduzir mais CO² do que todas as emissões dos Estados Unidos anualmente”, disse o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, se referindo ao segundo país mais poluidor do mundo, atrás apenas da China.

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RECUSA
Dilma não aceitou assinar a Declaração de Nova York porque o Brasil
só foi convidado para discutir o assunto após o debate ter sido iniciado

O documento, assinado por mais de 30 países e dezenas de grandes companhias mundiais e organizações não governamentais, prevê metas ambiciosas, como o fim de toda e qualquer destruição de florestas no mundo até 2030 e a recuperação de mais de 350 milhões de hectares – uma área superior à ocupada pela Índia hoje – de matas nativas ao redor do planeta. Além disso, a Declaração, que na prática é apenas uma carta de intenções, prevê que os países ricos destinem até US$ 1 bilhão às nações pobres no auxílio à contenção do desmatamento e ao financiamento de atividades econômicas que possam substituir os ganhos financeiros com a destruição das florestas. “Não há tempo a perder. Nós acreditamos que qualquer companhia que tenha a floresta de alguma forma em sua cadeia de suprimentos precisa tomar ações já”, disse Aida Greenburfy, diretora de sustentabilidade da Asia Pulp and Paper, uma das gigantes mundiais da produção de papel.

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Dilma decidiu que o Brasil ficaria de fora basicamente por duas razões. A primeira é quase infantil. De acordo com o governo brasileiro, o País só foi convidado para discutir o tema depois que as conversas já haviam sido iniciadas. A segunda, essa mais prática, é que o Brasil tem um código florestal que permite que haja tanto desmatamento controlado quanto o manejo para extração de madeira. “O País foi coerente em não assinar. Poderíamos ficar em uma situação complicada do ponto de vista jurídico”, afirmou Maria Cecília Wey de Brito, secretária-geral da ONG WWF no Brasil, em artigo escrito no jornal “O Estado de S. Paulo”.

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Fotos: Corbis; Timothy A. CLARY/AFP PHOTO