Quando alguém desmaia na Estação Carrão do Metrô de São Paulo, o operador Altair dos Santos Menezes, 53 anos, já não sente, como outrora, o coração apertado enquanto espera a chegada do serviço médico de emergência. Desde que fez cursos de treinamento em ressuscitação cardiopulmonar, ele segue um roteiro preparado por uma das entidades mais respeitadas do mundo, a Associação Americana do Coração (AHA, na sigla em inglês). “É um guia que ajuda a identificar rapidamente o que está acontecendo”, diz Menezes, há 27 anos na companhia. A primeira providência, conta ele, é ajoelhar ao lado da vítima e segurá-la pelos ombros para verificar se está consciente e respirando. Se estiver, são feitas perguntas para saber se há dor, náuseas, se a pessoa toma medicamentos, quando comeu pela última vez. Quando a vítima está inconsciente e sem respirar, porém, cada minuto sem receber os primeiros socorros adequados faz cair as chances de escapar com vida. “Aprendi a agir rápido”, diz Menezes, que já atendeu três casos de parada cardíaca em sua estação. O operador é um dos três mil funcionários do metrô paulistano treinados pelo Laboratório de Treinamento e Simulação em Emergências Cardiovasculares do Instituto do Coração (LTSEC – InCor), em São Paulo.

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PRECISÃO
O instrutor Cristiano Belvederesi (à frente) ensina
grupo a fazer as compressões torácicas

Na semana passada, junto com dez colegas, ele deixou por um dia seu posto de trabalho para fazer um curso de reciclagem em primeiros socorros. Repassou, sob orientação de instrutores especializados como o bombeiro e enfermeiro Cristiano Belvederesi, cada uma das etapas de um processo que a AHA chama de cadeia da sobrevivência. São procedimentos que vão desde a forma de abordar o paciente ao jeito certo de fazer as compressões torácicas e o manejo do desfibrilador, aparelho eletrônico portátil que diagnostica automaticamente as arritmias cardíacas e é capaz de tratá-las através de correntes elétricas para regularizar os batimentos, de modo que o coração retome o ritmo normal. “As compressões, por exemplo, têm que ser no ritmo certo. São 100 por minuto, sem parar, até o atendimento médico chegar”, diz o operador. Essas informações fazem diferença. “Em cidades como Seattle, nos Estados Unidos, onde a populacão foi treinada, muitas vidas são poupadas e diminuiu a quantidade de sequelas neurológicas. Ter um socorrista treinado para ministrar esses cuidados até a assistência chegar pode multiplicar a possibilidade de sobreviver a um mal súbito”, diz o cardiologista Sérgio Timerman, diretor do LTSEC – InCor, o mais avançado centro do gênero na América Latina.

Em novembro, Timerman e sua equipe receberão, nos Estados Unidos, o primeiro Prêmio de Reconhecimento de Centros de Treinamento Internacionais dado pela Associação Americana do Coração. “Eles têm um programa de formação exemplar e se esforçam continuamente para treinar mais pessoas em primeiros socorros e cuidados cardiovasculares. Isso salva vidas”, elogiou Kelly Griesenbeck, diretora da AHA para os programas globais de cuidados em emergência cardiovascular. Só este ano, mais de oito mil pessoas fizeram cursos na instituição. “Nossa meta é ensinar a maior quantidade de indivíduos e formar instrutores para divulgar esses conhecimentos. Já demos treinamento até para crianças”, diz a enfermeira Thatiane Polastri, professora e coordenadora dos cursos.

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Além de ensinar o protocolo consagrado pela associação americana, o curso do InCor se diferencia pela preocupação em realizar pesquisas. “Registrar os resultados e analisá-los melhora o atendimento”, diz Timerman. Um estudo recém-concluído feito por seu grupo em parceria com o pesquisador Karl Kern, da Universidade do Arizona, investigou o que aconteceu com 102 pessoas que tiveram colapsos repentinos e foram atendidas conforme o protocolo da AHA desde o momento em que o coração parou até a alta hospitalar. “Uma das revelações dessa pesquisa é que chances de sobreviver e de não ter sequelas neurológicas são maiores quando o paciente é atendido em hospitais onde todos os funcionários foram treinados, da recepcionista da emergência ao cirurgião”, ensina o médico.

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Fotos: Pedro Dias/Ag. Istoé


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