A perspectiva de pôr fim à hegemonia do grupo do senador José Sarney que há seis décadas mantém o poder no Maranhão faz com que a disputa política no Estado ganhe ares de banditismo eleitoral. Às vésperas da eleição, práticas nem um pouco republicanas passaram a pautar a campanha. Há cerca de dez dias, veículos de comunicação ligados ao grupo político de Sarney, padrinho da candidatura do senador Édson Lobão Filho, divulgaram um vídeo com o depoimento de um homem acusando o candidato Flávio Dino (PCdoB), líder nas pesquisas, de ser um dos chefes de uma quadrilha criminosa especializada em assaltos a banco, inclusive com participação no ataque a um carro-forte ocorrido no campus da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), em 11 de fevereiro, quando foi roubado quase R$ 1 milhão. A denúncia virou o principal tema da campanha e, na terça-feira 23, o autor foi identificado. Trata-se de André Escócio de Caldas, um presidiário do Complexo Penitenciário de Pedrinhas. No mesmo dia, Caldas prestou depoimento na Superintendência Estadual de Investigações Criminais e confessou ser participante de uma criminosa armação contra o candidato do PCdoB. Agora o caso segue sob investigação da Polícia Federal, que espera conseguir identificar todos os envolvidos até o final da corrida eleitoral.

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O ALVO
Em primeiro lugar na corrida ao governo do Maranhão,
Flávio Dino foi vítima de ataques infundados

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Ao delegado Tiago Mattos Bardal, Caldas afirmou que o vídeo fora gravado uma semana antes na sala do diretor da Central de Custódia de Presos de Justiça de Pedrinhas, Carlos Aguiar. Disse que teria recebido a “promessa de conseguirem um Alvará de Soltura e mais uma boa quantia em dinheiro, além de ficar blindado no sistema”. Para tanto, Caldas teria que apontar Flávio Dino como mandante do assalto ao banco do campus da UEMA. O preso também esclareceu que o enredo para tentar incriminar Flávio Dino foi criado após conversas com Aguiar. O diretor da Central de Custódia confirmou ter sido o autor do vídeo, mas nega qualquer responsabilidade pela divulgação da armação. Desde a quarta-feira 24, o caso, definido como crime eleitoral, passou a ser investigado pela Polícia Federal e pelo Ministério Público. Na quinta-feira, Aguiar foi afastado do cargo.

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ARAPUCA
André Caldas, presidiário do Complexo Penitenciário de Pedrinhas,
acusou Flávio Dino de liderar quadrilha de assaltos a banco

Mas o banditismo eleitoral no Maranhão parece servir aos dois lados. Na noite da quarta-feira 25, a Polícia Federal revistou o avião, as bagagens e os membros da comitiva do candidato Lobão Filho, no aeroporto de Imperatriz. A ação, segundo relato dos policiais, buscava “encontrar malas de dinheiro” após uma denúncia anônima. A ação da PF provocou mal-estar entre o PMDB e o PT. O vice-presidente Michel Temer, do PMDB, saiu em defesa de Lobão Filho e solicitou ao ministro da Justiça que apure com rigor a verdadeira motivação da Polícia Federal. “Em uma democracia é absurdo que instituições do Estado sejam usadas para intimidar uma candidatura”, disse Temer. A contar pelos últimos lances, essa última semana antes do primeiro turno tende a aumentar a temperatura na disputa maranhense.

Foto: Adriano Machado/Ag. Istoé