O filho mais velho de Eduardo Campos, João Campos, 20 anos, saiu do luto e foi para as ruas. Na última semana, João emocionou dezenas de pessoas ao discursar no comício de Paulo Câmara, candidato do PSB ao governo de Pernambuco. O ato político foi realizado nos municípios de Caetés e Garanhuns, terra de Lula – a 200 km do Recife. “Meu pai não deixou uma herança. Esta, quando dividida, pode se acabar. Deixou um legado que, quanto mais o dividirmos, mais crescerá”, afirmou. Assim como os outros dois filhos de Campos, Pedro, 18, e Maria Eduarda, 22, João virou uma espécie de celebridade nas caminhadas pelo interior do Estado. Por onde passa, é cumprimentado e recebido com efusivos abraços. Não raro, se ouvem choros e relatos emocionados.

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NO PALANQUE
Discurso de João Campos levou militantes do PSB às lágrimas

 

O mesmo ocorre com a mãe, Renata, viúva do ex-governador, morto em acidente aéreo em agosto. Ela estreou na propaganda de TV de Paulo Câmara na segunda-feira 22. No dia seguinte, em outro ato de campanha, os filhos de Campos foram abordados e cercados por estudantes, que pediram autógrafos nos uniformes. A participação da família na campanha em Pernambuco fez com que Câmara, antes posicionado num distante segundo lugar, tomasse a dianteira na corrida eleitoral. Hoje, ele figura à frente de Armando Monteiro. Segundo pesquisa Ibope divulgada na terça-feira 23, o candidato do PSB tem 39%, contra 35% do senador do PTB.

João, no entanto, faz questão de rechaçar o papel de herdeiro. Embora seja o filho mais ligado à política, ele – que é filiado ao PSB – disse em entrevista à ISTOÉ que sua prioridade agora é concluir o curso de engenharia civil na Universidade Federal de Pernambuco. Campanha, garante ele, só durante a noite para não afetar os estudos. Depois que terminar a faculdade, avaliará uma possível candidatura. Caso enverede mesmo pela política, João deseja ter luz própria. “Preciso de uma formação. Quero estudar para que, lá na frente, se for o caso, eu possa construir o meu caminho e não conseguir algo por ser filho de alguém. Tenho que construir o meu próprio caminho”, disse.

ISTOÉ – No comício do candidato do PSB ao governo de Pernambuco, Paulo Câmara, você disse que não vai desistir da luta e do legado de seu pai. O que você quer dizer quando afirma isso?
João Campos –
Meu pai dedicava sua vida a duas coisas: à família e à política. Ele sempre lutou pelo povo. É continuar a luta dele em favor do povo. Ele estava muito triste porque o governo federal se distanciou do povo. No governo dele, ele sempre buscou governar junto com o povo. Ele sempre buscava trazer o povo para dentro do governo. Sempre buscou ouvir o povo.

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LUZ PRÓPRIA
João Campos: "Não quero conseguir algo por ser filho de alguém"

ISTOÉ –Você é apontado como o herdeiro político em Pernambuco. Pretende se tornar político e se candidatar a algum cargo?
João –
Não penso nisso agora. Antes de ele partir, ele deixou claro o desejo de trazer de volta valores que deixaram de existir. Graças a Deus ele teve a chance de expressar o seu desejo. Não sou eu, mas todos nós vamos dar essa continuidade. Ele deixou o sonho dele pela metade. Há um desejo de continuidade, de seguir.

ISTOÉ – Mas e mais para a frente? Não pensa em se candidatar?
João –
Minha prioridade são meus estudos. Faço engenheiria civil na Universidade Federal de Pernambuco. Entrei com 17 anos, estou no tempo certo de estudo. Só participo da campanha no período da noite para não prejudicar os meus estudos. Eu sei que o Paulo Câmara vai continuar esse legado do meu pai em Pernambuco. Eu preciso de uma formação, estudar, para que, lá na frente, se for o caso, eu possa construir o meu caminho e não conseguir algo por ser filho de alguém. Eu tenho que construir o meu próprio caminho.

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ISTOÉ – Quando você se forma?
João –
No meio de 2016.

ISTOÉ – Você sempre acompanhou seu pai em atividades de campanha?
João –
Sempre o segui, desde muito jovem. Sempre que o povo de Pernambuco precisar vai poder contar comigo e com a minha família. Na campanha de 2002, quando ele se candidatou a deputado federal, eu participei ativamente. Naquele ano eu tinha apenas 9 anos de idade.

ISTOÉ – O PSB ou outros partidos já lhe procuraram para falar sobre uma possível candidatura?
João –
Sou militante do PSB, sou filiado ao partido, e não faço isso com pretensão política. Eu devo isso ao meu pai. Devo comunicar ao povo de que ele tanto gostava quais eram os seus sonhos e planos. Assim como qualquer jovem militante, eu tenho que dar o meu testemunho. Estou aqui para falar dos sonhos do meu pai, para que a luta dele não se acabe.

Fotos: Rapha Oliveira/ESP DP/D.A Press; Chico Peixoto/LeiaJáImagens