A deputada estadual Aparecida Gama, do Rio de Janeiro, quer resolver duas questões ao mesmo tempo: a superlotação carcerária e a fila de espera de transplantes. Ela propõe a redução da pena de um condenado, em um terço, se ele der em vida algum de seus órgãos. “É claro que eles não podem doar o coração”, lembra a deputada. O projeto é uma espécie de comércio branco de órgãos – e pode incentivar um comércio para valer. Num país onde presos mantêm centrais telefônicas clandestinas fora das cadeias, qual a segurança de que não venderiam os órgãos, já que todo doador em vida tem o direito de escolher o destinatário? “O preso pode alegar que se trata de um amigo, mas receber dinheiro”, diz Gilson Nascimento Silva, presidente da Associação de Doentes Renais e Transplantados. “É o absurdo dos absurdos. Uma doação não pode envolver troca”, acrescenta Jorge Aquino, coordenador do Programa Rio Transplante.