Passados os dez primeiros minutos de encantamento com o anúncio bombástico de que Ronaldinho vai ser papai, o público ficou com uma sensação incômoda. O craque namora com a rainha das embaixadinhas Milene Domingues, 20 anos, há dois meses e ela já está grávida de seis semanas. Bastaram 15 dias de convívio para a concepção do herdeiro. Na hora do gol a camisinha nem apareceu na jogada. Mais que isso. Milene não se preveniu embora soubesse que o jogador já teve vários casos. “É claro que sei como evitar. Se não tomei precauções, é porque estava querendo. A surpresa foi chegar tão rápido”, disse Ronaldinho. É assustador constatar o comportamento de risco do jovem casal dos gramados. Afinal, não se trata de evitar ou não a gravidez. O preservativo é a única garantia de sexo seguro na era da Aids. A revelação só veio confirmar os dados da maior pesquisa feita no País sobre o comportamento sexual do brasileiro. Nela, segundo o levantamento do Ministério da Saúde, 76% da população entre 16 e 65 anos não usa camisinha. “Não há uma boa elaboração sobre proteção e planejamento em nenhuma classe social”, afirma Albertina Duarte Takiuti, da Secretaria de Saúde de São Paulo.

Na casa de Milene todos se diziam abismados. “Não tivemos tempo para ver se estamos felizes. A gravidez pegou todo mundo de surpresa”, revelou Rodrigo, o irmão mais novo. Em especial porque na casa dos Domingues não faltam informações e sexo não é um assunto proibido. “Aqui o papo é aberto. A gente brinca muito com isso”, diz Rodrigo. Mesmo assim, Milene trata o tema numa bruma de romantismo. “Não sou a primeira mãe de 20 anos. Estou superfeliz. É como um sonho”, disse ela a ISTOÉ, de Milão – onde mora com o jogador. A moçada na idade dela também sabe do perigo de assumir a sexualidade sem se proteger, só que a maioria está mais atenta ao desempenho do que às consequências. “Eles acham que podem perder a ereção e elas acreditam que se insistirem podem afastar o parceiro”, explica Carmita Abdo, coordenadora do Projeto Sexualidade da USP. A despreocupação é tão grande que até a bebida alcoólica motiva o esquecimento. “Sempre fui consciente, mas não posso falar que não quebra o tesão. Às vezes, quando bebo, esqueço de colocar”, revela o ator Bruno de Lucca, 17 anos.

Essa geração já nasceu sob a ameaça da Aids e deveria sair de camisinha da barriga da mãe. Mas num país em que, como mostra a pesquisa do Ministério da Saúde, seus pais e tios também dispensam o preservativo, a meninada parece viver a mesma nostalgia dos adultos. Sonham com o momento em que a camisinha não vai ser mais necessária, como se a realidade brutal da doença fosse mudar do dia para a noite. Eles desa-fiam o perigo da mesma forma que seus ídolos. O popstar Mick Jagger e a modelo Luciana Gimenez trocaram a segurança por uma noite de aventura. No fio da navalha, tiveram um filho. Como a dupla, muita gente acredita que a Aids está sob controle, ainda que não tenha cura.

Assediados diariamente e com uma oferta de sexo fácil e farta, é impressio-nante que os famosos em geral tenham um comportamento tão perigoso. “Camisinha tem de usar sempre, só que gravidez acontece assim mesmo”, diz a atriz Teresa Seiblitz, 32 anos, que teve uma filha com o ator André Gonçalves, em um caso que não durou três meses. O mesmo aconteceu com Solange Gomes, que trabalhava na banheira do Gugu. Em um mês de saídas com Waguinho, do grupo Os Morenos, ela ficou grávida. “Dei o maior mole. Ele não era muito chegado em camisinha e eu não insisti”, diz ela. No geral, os homens acreditam que cabe às mulheres o papel de exigir. “O assédio é forte e ficamos nas mãos delas”, diz Alexandre Frota, 35 anos. Ele é pai de Mayã, fruto de um namoro de seis meses.

Mas não são apenas os adeptos do fast sexo que deixam o pacotinho no cria-do-mudo. Os casais que acreditam na exclusividade dos parceiros também abrem mão da proteção. “Num relacionamento estável, uso outros métodos. Camisinha é desconfortável”, diz o escolado Júlio Lopes, 40 anos, empresário do ensino. Nesse cenário, homens e mulheres se contaminam dia-a-dia. “As pes-soas querem a fidelidade e vivem essa ilusão. É frustrante conviver com a possibilidade da traição. Mais dramático é descobri-la por meio de um teste positivo de HIV”, alerta Carmita Abdo.