Mal lançou sua pré-candidatura ao governo paulista e Paulo Maluf (PPB) volta ao noticiário policial. Dessa vez, as empreitadas do ex-prefeito ultrapassaram as fronteiras e foram parar na Ilha Jersey, paraíso fiscal que integra o Reino Unido. Há mais de um ano, autoridades da ilha informaram ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), ligado ao Ministério da Fazenda, que Maluf, sua mulher, Sylvia, os filhos Flávio, Lígia, Lina e Octávio, além da nora Jacqueline, têm contas correntes em bancos do paraíso fiscal que somariam US$ 200 milhões. O promotor Marcelo Mendroni, do Grupo de Atenção Especial e Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), passou então a trocar informações sobre o ex-prefeito com o serviço de inteligência da ilha. As contas foram bloqueadas e o escândalo veio à tona. Agora, Maluf terá de se preocupar não só com os 35 processos aos quais já responde, mas também com uma representação criminal proposta pelo Ministério Público Federal e um inquérito civil do Ministério Público do Estado de São Paulo.

Na esfera estadual, Paulo Maluf pode responder por improbidade administrativa e enriquecimento ilícito. Na federal, por lavagem de dinheiro, evasão de divisas e sonegação fiscal. “Sei que as contas existem. Estou esperando um dossiê que a unidade de inteligência financeira de Jersey preparou”, afirma Mendroni. A procuradora da República Denise Abade vai pedir documentos às autoridades de Jersey para abrir um inquérito criminal ou até uma ação penal contra Paulo Maluf. Na terça feira 12, o promotor Sérgio Turra Sobrane, do Ministério Público estadual, abriu inquérito civil para apurar o caso. O primeiro passo é descobrir as datas de abertura e movimentação das contas. “Se ficar provado que há vínculo entre as contas em Jersey e a gestão de Maluf na Prefeitura de São Paulo, ele poderá ser processado”, garante.

Mas não é só com os poderes judiciários estadual e federal que Maluf está enrolado. Na Câmara Municipal, uma CPI já concluiu que a dívida pública de São Paulo aumentou 114% em sua gestão (1992-1996). A construção do túnel Ayrton Senna, por exemplo, consumiu R$ 567 milhões acima do previsto no orçamento. O ex-prefeito já prestou depoimento à CPI, mas foi convocado novamente e deve depor no próximo dia 29. Ana Martins (PCdoB), presidente da CPI, vai pedir informações sobre a Eucatex, empresa de Paulo Maluf. “Com o País nessa crise, será que a Eucatex dá tanto lucro assim?” A CPI vai ouvir também Nicéia Pitta. A ex-primeira-dama de São Paulo já afirmou que Maluf e seu ex-marido, Celso Pitta, mantêm contas suspeitas em outros países. Paulo Maluf nega, através de seus advogados, que tenha contas no Exterior. O advogado Ricardo Tosto garante que não há motivos para se preocupar. Mas a descoberta das contas no paraíso fiscal promete, no mínimo, dar mais trabalho para a já atarefada equipe de advogados de Maluf. ”