Nestes tempos em que os seres politicamente incorretos voltaram a exibir algum charme, era inevitável que alguém se lembrasse dos ogros, cidadãos do mundo dos contos de fadas, pouco sociáveis ou afeitos à higiene pessoal. Constantemente assediados pelos habitantes do vilarejo próximo – sempre há um vilarejo próximo aos pântanos habitados por tais criaturas –, os monstrengos esverdeados têm como diversão assustar seus vizinhos caipiras. Assim começa Shrek (Shrek, Estados Unidos, 2001), cartaz nacional na sexta-feira 22, a nova ousadia em animação eletrônica dos estúdios DreamWorks. Na qualidade de arquiinimiga da Disney – de onde saiu um de seus sócios, Jeffrey Katzenberg –, a empresa deitou e rolou com os mitos produzidos pela fábrica de sonhos do camundongo Mickey. Shrek, o ogro em questão – no original dublado por Mike Myers e aqui por Bussunda –, fica possesso quando vê sua charneca ser invadida pelos Três Porquinhos, pelo Lobo Mau e pela fada Sininho, entre outras figurinhas carimbadas.

Ao pedir providências ao maléfico dono das terras, Lorde Farquaad, Shrek recebe uma tarefa. Se conseguir cumpri-la, garantirá a posse exclusiva do pântano. Sua missão é livrar a princesa Fiona, mantida prisioneira em um castelo distante por um dragão alucinado. Como se vê, o mérito da produção foi ter conservado os elementos básicos dos contos da Disney, distorcendo-os cruelmente, bem ao gosto de platéias que se divertem com Os Simpsons e South Park. Em Shrek, todos os ícones dos filmes infantis são achincalhados. Pinóquio é vendido pelo próprio Gepeto, a princesa é entediada, o vilão ridículo, o herói….verde. No mais, vêem-se espelhos mágicos habitados por animadores de game shows, efeitos imitando os do filme Matrix, criaturas nojentas e monstros mitológicos com problemas sentimentais. Uma bagunça realizada com muita competência e capaz de arrancar boas risadas tanto de crianças quanto de adultos. Situação que deve ter deixado um certo ratinho de orelhas ainda mais em pé.


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