Uma nova rede social foi criada no fim de agosto, a Emojli. O que a diferencia de outros serviços como o Facebook ou o Twitter? A descrição que você lê na página inicial do site resume tudo: “Sem palavras. Sem spams. Só emoji”. Essas serão as únicas letras que alguém verá no serviço. Aos neófitos na rede mundial de computadores, os emojis são a evolução dos emoticons, aqueles símbolos feitos de pontuação para expressar alegria, tristeza e outros sentimentos. Se os emoticons davam conta somente dos estados mentais mais básicos, os emojis são os desenhos que simbolizam, além da boa e velha “smiley face”, animais, comidas, profissões, gestos, roupas, locais, flores, bandeiras, formas geométricas e uma quantidade incrível dos mais diferentes objetos cotidianos – como telefones, CDs e até abóboras de Halloween. Os usuários de aplicativos como o WhatsApp, que serve para trocar mensagens pelo celular, já devem ter falado com alguém que faz um uso exagerado desses sinais gráficos. Foi partindo da premissa de que as pessoas adoram usar os emojis que os dois britânicos que criaram a nova rede social decidiram incluir no serviço apenas emojis. A comunicação, obviamente, fica um pouco prejudicada. Afinal, fazer novos amigos usando apenas símbolos pré-definidos não é fácil. Então por que milhares de internautas se dispuseram a tentar – e muito mais pessoas trocam milhões de emojis diariamente?

Os emojis podem parecer bobagem para quem está mais acostumado ao modelo formal de escrita, mas fazem uma imensa diferença para a geração que cresceu ou foi criada online. Uma mensagem de texto seca, por exemplo, como um “ok”, pode ser vista como rude ou mal educada numa conversa virtual. Mas adicione a isso um símbolo sorridente e dificilmente o interlocutor terá a mesma impressão. Segundo o linguista Marcelo Buzato, da Universidade de Campinas (Unicamp), a comunicação mediada por computador tem como característica emular a instantaneidade da fala usando o meio material da escrita. A fala é constituída não apenas de palavras, mas de uma série de outros recursos expressivos que são fundamentais para a produção dos sentidos, como as expressões faciais e os gestos. “Os emoticons e emojis são uma forma de compensar essa lacuna da ‘fala digitada’”, afirma.

A escrita humana começou com formas figurativas, que acompanharam a evolução da humanidade. “Os emojis e emoticons são uma manifestação disso. Meio estereotipados, mas legítimos”, diz Marisa Lajolo, professora de literatura da Unicamp e da Universidade Presbiteriana Mackenzie, de São Paulo. Entre a criação da prensa e a popularização da internet, pode haver quem tenha apostado que as imagens estavam destinadas ao desaparecimento na linguagem escrita. Mas a poesia concreta, em que o posicionamento das letras e palavras é usado para formar desenhos, e depois os emoticons e emojis, vieram para mostrar que essa é uma tendência que nunca abandonou a comunicação. Jornalistas e escritores como Vladimir Nabokov (1899-1977), autor de “Lolita”, há muito já davam sugestões de que era necessário incluir um sinal gráfico para expressar sentimentos. Em uma entrevista ao jornal “The New York Times” em 1969, Nabokov disse: “Eu sempre penso que deveria existir um sinal tipográfico especial para o sorriso – algum tipo de marca côncava, um parênteses voltado para cima”.

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A visão dele tomou vida em 1982, quando o professor Scott Fahlman percebeu que piadas feitas num grupo de discussão online da universidade Carnegie Mellon, nos Estados Unidos, muitas vezes eram mal compreendidas. Ele então sugeriu que mensagens contendo sarcasmo fossem acompanhadas da carinha :-). Não demorou muito para que variações dela surgissem e ganhassem o mundo. Tempos depois, no fim dos anos 90, o japonês Shigetaka Kurita desenhou versões melhoradas dos smileys rudimentares feitos de pontuação para uma marca de celular. Sua ideia também se espalhou rapidamente.

Se inicialmente essas figuras surgiram para expressar sentimentos em conversas informais, elas estão ganhando uma importância que poucos imaginariam. Em 2013, a biblioteca do Congresso americano adicionou às suas fileiras o livro “Emoji Dick”, uma adaptação do clássico “Moby Dick”, de Herman Melville. O projeto foi idealizado pelo engenheiro de dados Fred Benenson e contém uma linha de símbolos gráficos para cada linha de texto do escritor original. Ações como o Emojli e o Emoji Dick se alinham ao iConji, cujos fundadores almejam criar uma linguagem única no mundo usando apenas emojis.