Um caso surpreendente envolvendo um grupo de adolescentes em Bertioga, no litoral de São Paulo, tem assustado pais de todo o Brasil. No dia 4 de setembro, 11 alunas da escola estadual William Aureli passaram mal após receberem a segunda dose da vacina contra o vírus HPV, da campanha nacional realizada pelo Ministério da Saúde. Em comum, todas relataram dor de cabeça, tonturas e tremedeiras, e foram levadas ao pronto-socorro da cidade. Oito meninas receberam alta após serem medicadas. Três jovens, no entanto, apresentaram sintomas mais graves. Luana Barros e Mariana Lima, 12 anos, não sentiam as pernas. Já Nathália dos Santos, 13, tinha dores na coluna e perda da sensibilidade das mãos. No sábado 6, elas foram transferidas para o hospital Guilherme Álvaro, em Santos, onde realizaram exames de sangue, raio X e ressonância magnética. Apesar do quadro apresentado pelas jovens, neurologistas asseguraram que os resultados estavam normais.

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Na quarta-feira 10, Luana e Mariana tiveram alta, mas até sexta-feira 12 Nathália seguia internada com fortes dores de cabeça e nas costas, sem previsão de alta. Desde que o imunizante começou a ser aplicado no País, em março, não havia registro de um grupo tão numeroso com reações colaterais. Em março, duas meninas no Rio Grande do Sul tiveram reações alérgicas intensas e uma teve convulsões.

A explicação mais plausível para as autoridades de saúde é que ocorreu uma espécie de fenômeno de sugestão coletiva. “O quadro das 11 adolescentes pode ser avaliado como uma síndrome de estresse pós-injeção, algo que acontece também com outras vacinas”, garantiu o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa. Ele afirma que as vacinas são consideradas um dos produtos médicos mais seguros do mundo. Já a possibilidade de problemas com o lote de vacinas foi descartada. “Não houve falhas de refrigeração ou armazenamento”, afirmou a médica Helena Sato, diretora de Imunização da Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo.

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REAÇÃO
As mães Rosália Barros e Fabíola Lima acreditam que a vacina
provocou o mal-estar das filhas. Rafaella, do Rio, teve sintomas
graves que os pais também atribuem ao fármaco

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As mães das adolescentes paulistas, porém, creem que os sintomas foram deflagrados pela injeção. “Os médicos dizem que a culpa não é da vacina, mas só pode ser. Minha filha tem a saúde boa, nunca tinha ficado internada”, disse Rosália Alves Barros, mãe de Luana. Assim como Rosália, outros pais associam o imunizante a sintomas até mais graves. É o caso da menina Rafaella Oliveira Silva, 13 anos, de Resende (RJ). Após tomar a anti-HPV, em março, ela sentiu o braço inchar e perdeu os movimentos. Com o surgimento de sintomas como a visão prejudicada e alterações circulatórias, Rafaella chegou a ficar em uma cadeira de rodas. Depois de ir a vários médicos, foi diagnosticada com uma doença autoimune. “Os problemas dela começaram após a vacina”, assegura o pai, o funcionário público Ismar Costa e Silva. O caso de Rafaella está sendo estudado pelo Ministério da Saúde, foi reportado ao fabricante da vacina e incluído em bases internacionais de dados. Na opinião do pediatra Renato Kfouri, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, estudos feitos até agora indicam que a vacina contra o HPV não eleva a taxa de doenças autoimunes. “São casos que poderiam ocorrer independentemente da vacina”, diz o especialista.

Ainda que nada comprove a ligação de casos excepcionais como o de Rafaella com o imunizante, as investigações prosseguem. Elas são feitas por instituições que monitoram a segurança e os efeitos adversos da vacina do HPV, atualmente dada em 50 países. Nos Estados Unidos, por exemplo, o Centro de Controle de Doenças (CDC) montou um sistema de notificação que recolhe informações do público e dos fabricantes sobre eventos ocorridos após a vacinação. Em agosto, a instituição divulgou uma análise de dados relativos à aplicação de 67 milhões de doses. Segundo o CDC, 92,4% dos relatos se referiam a sintomas não graves, como desmaios, tonturas, náuseas, dor de cabeça e febre, dor e vermelhidão no local da injeção. De acordo com a instituição, a vacina tem bom perfil de segurança. Mesmo assim, o Japão suspendeu a campanha de vacinação, mas oferece o fármaco a quem quiser tomar.

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O aval do CDC e da Organização Mundial da Saúde é o argumento do pediatra Fábio Ancona Lopez, ex-presidente da Sociedade Paulista de Pediatria, para orientar as mães que o procuram com dúvidas. “Até agora essa vacina é considerada muito segura”, diz ele. O ginecologista Sérgio Nicolau, professor da Universidade Federal de São Paulo, diz que reações como desmaios e tonturas são comuns também em exames ginecológicos. “Uma das recomendações para prevenir essas reações, mais comuns em uma faixa etária na qual as jovens são muito influenciáveis e sensíveis, é ficar sentada ou deitada por 15 minutos após tomar a vacina”, diz o especialista. 


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