Foi aos 23 anos que o carioca Alex Coelho Sampaio descobriu sua verdadeira vocação. Até então, ele vivia como qualquer jovem da sua idade. Estudava de dia e trabalhava à noite. Não chegou a ficar rico, mas seu trabalho lhe rendeu alguma notoriedade. Como artista circense, Sampaio fazia seus números de malabarismo com os pés com tal perfeição que por oito vezes foi convidado a ir ao Xou da Xuxa. A cada aparição, mais convites para novos shows. Até que o filho caçula de seu João Roberto, um advogado católico fervoroso, descobriu que seria mais feliz se trocasse o palco pelo altar. E assim foi feito. O artista passou a frequentar a Arquidiocese do Rio de Janeiro, entrou para o seminário e, por fim, trocou a roupa de malabarista pela batina, transformando-se no padre Alex.

“Durante muito tempo vivi um enorme conflito: como seria possível coexistirem fé e arte? Acabei descobrindo que não existe essa dicotomia.” Não bastou ler inúmeros documentos internos da Igreja para Alex, então aluno da faculdade de teologia, se convencer de que era possível ser padre circense. O convencimento final só veio mesmo depois que o cardeal do Rio, dom Eugênio Salles, o convidou para animar as festas de fim de ano do Seminário São José. Foi então que Alex deu um descanso para a Bíblia e resgatou seus antigos instrumentos de trabalho: claves, tochas de fogo e cilindros. “Não existe passado pecaminoso. O circo é uma recreação legítima como qualquer outra”, costuma dizer o diretor da Faculdade de Filosofia da Arquidiocese do Rio, dom Estevão Bittencourt, quando questionado sobre o assunto.

Desde que saiu do seminário, há um ano e meio, até agora, padre Alex já animou festinhas em cerca de 50 paróquias. Ele costuma chegar vestido de padre e só na hora do espetáculo troca de roupa. “Toda vez que abro meu armário me lembro que sou um padre circense. Guardo minha batina ao lado da roupa de artista”. Como vigário da paróquia São Sebastião, em Parada de Lucas, zona norte do Rio, padre Alex se exercita todos os dias para não esquecer o que aprendeu na Escola Nacional de Circo. Os conflitos do passado não existem mais, até porque ele descobriu recentemente que não foi o primeiro na Igreja a conciliar fé e arte. No século XIX, o italiano dom Bosco, então fundador da ordem religiosa dos padres salesianos, já era equilibrista e malabarista.

“Sinto saudade da arte circense, mas não tenho coragem de largar a Igreja em nome do circo”, confessa o padre, que conseguiu hoje uma forma equilibrada de conciliar passado e presente. “Informalmente, ele criou uma pastoral circense”, brinca o diretor da Escola Nacional de Circo, Carlos Cavalcanti. É que padre Alex costuma casar os artistas circenses e também batizar seus filhos. Já houve dono de circo que, nos momentos de desespero e dureza total, chegou a pedir a Alex para benzer o circo. Longe dos palcos e dos holofotes desde que atendeu ao chamado de Deus, o padre vem matando as saudades da vida circense rezando muito e participando de espetáculos beneficentes.