Depois de mais de 300 anos, o Reino Unido, formado por Inglaterra, Irlanda do Norte, País de Gales e Escócia, está ameaçado de perder uma fatia de US$ 250 bilhões de sua economia e um terço de seu território. O motivo: a Escócia quer se separar. Foram necessárias oito décadas para que o Partido Nacional Escocês (SNP, na sigla em inglês), comprometido com a independência desde sua fundação, conseguisse realizar a antiga promessa de um plebiscito. “Temos muitos recursos naturais, um potencial enorme em energia renovável, petróleo e gás do Mar do Norte, uma indústria forte, mas muitas pessoas não sentem o benefício disso porque as decisões são todas tomadas em Londres”, disse à ISTOÉ Stewart McDonald, porta-voz do SNP. “Queremos controlar isso com nossas próprias mãos.” No dia 18, mais de quatro milhões de eleitores terão de responder à pergunta: “A Escócia deve ser um país independente?”.

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OPOSIÇÃO
O premiê David Cameron e os militantes pró-independência:
o Reino Unido não quer perder a Escócia, mas o sim está cada dia mais forte

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O primeiro-ministro britânico, David Cameron, espera que a resposta seja não. Por enquanto, a opinião é compartilhada pela maioria dos escoceses, mas a decisão é incerta. Em todas as pesquisas de consulta à população, o voto pelo não sai vencedor. “As pessoas resistem à ideia de deixar o Reino Unido porque há um sentimento forte de identidade britânica, quase uma marca nacional”, afirma John Curtice, professor de política da Universidade de Strathclyde, de Glasgow. Mas uma pesquisa divulgada na terça-feira 2 mostrou que o cenário pode mudar. Segundo o levantamento do instituto YouGov, o voto pelo sim saltou de 39% para 47%, enquanto o não caiu de 61% para 53%. O crescimento do movimento separatista surpreendeu o mercado financeiro e o resultado foi uma desvalorização de 0,5% da libra esterlina no mesmo dia da divulgação da pesquisa.

Para o secretário do Tesouro, Danny Alexander, isso foi apenas uma amostra do estrago que a independência da Escócia pode causar à economia britânica. “Esses são os tremores, mas podemos evitar o terremoto votando não”, disse ao jornal “The Independent”. O tom catastrofista varia em grau, mas é o mesmo adotado pelos porta-vozes dos interesses de Londres. Um grupo de empresários afirma que os laços econômicos com o Reino Unido são o que mantém quase um milhão de empregos escoceses e que a “incerteza é ruim para os negócios”. Interlocutores governistas disseram ser contrários à manutenção de uma união monetária que permitisse à Escócia continuar utilizando a libra esterlina, caso o sim vencesse – a adoção do euro não é admitida pelo SNP nem como plano B.

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Em visita a Londres na semana passada, o primeiro-ministro do Canadá, Stephen Harper, disse que um Reino Unido com a Escócia é mais forte e melhor para o mundo. Seu próprio país enfrenta, há mais de 40 anos, um movimento separatista em Quebec. A província já realizou dois referendos, nenhum favorável à soberania, mas a diferença de apenas um ponto percentual na última consulta manteve aceso o desejo de independência. Pressionadas pelo separatismo na Catalunha, no País Basco e em Flandres, Espanha e Bélgica podem dificultar o passo seguinte da Escócia: a adesão à União Europeia como um país independente.

Para além da política e da macroeconomia, os debates chegaram a um patrimônio cultural tipicamente britânico, o rock. Nas últimas semanas de campanha, o plebiscito colocou dois roqueiros famosos em lados opostos. Steven Morrissey, ex-vocalista do The Smiths – que, a propósito, é inglês –, defendeu a separação. “Eu amo a Escócia, amo o espírito escocês e eles não precisam nem um pouco de Westminster”, disse. Já o líder dos Rolling Stones, Mick Jagger – também inglês –, endossou junto com mais de 200 celebridades uma carta aberta intitulada “Vamos ficar juntos”. No texto, o apelo: “O que nos une é muito maior do que o que nos divide”.

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Fotos: Ben Cawthra/Eyevine; ANDY BUCHANAN/AFP Photo; Andrew Cowie/AFP /Getty Images


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