O chinês Jack Ma foi reprovado duas vezes no vestibular de matemática. Como não se dava bem com números, decidiu estudar pedagogia. Formado, abriu uma empresa de internet para divulgar os negócios de companhias chinesas no exterior. A ideia, que ele achava genial, fracassou. Sujeito persistente, Ma não desistiu. Em 1999, quando tinha 35 anos, juntou um dinheiro (não muito) com 17 amigos e abriu um site para intermediar as vendas entre empresas e seus clientes. Como intermediário, ele podia vender de tudo – e de tudo mesmo, de barbatana de tubarão (apreciada pelos chineses para fazer sopa) a roupas, de eletrônicos a aparelhos ortopédicos, de ração para cães a itens de decoração. O site, chamado de Alibaba, surgiu em meio ao turbilhão que a internet acabara de provocar e ao frenesi consumista da nova classe média chinesa. O resultado dessa história é extraordinário. O Alibaba de Ma é hoje a maior empresa de comércio eletrônico do mundo, com uma carteira de 231 milhões de clientes (mais do que a população inteira do Brasil) e que movimenta por ano quase US$ 250 bilhões, acima do que a Amazon e o eBay faturam juntos.

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FARTURA
Jack Ma e a sede da empresa em Hangzhou, na China: abertura do capital
pode gerar US$ 20 bilhões, mais do que o Facebook arrecadou

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Nos próximos dias, Ma terá a oportunidade de exibir seu estilo excêntrico para o mundo. O Alibaba prepara o IPO (oferta inicial de ações) na bolsa de Nova York. Até a quinta-feira 4, a data do lançamento não havia sido confirmada, o que só fez aumentar a expectativa do mercado financeiro. Segundo projeções, a abertura de capital nos Estados Unidos deverá render à empresa algo como US$ 20 bilhões. Se o valor se confirmar, ficará acima dos US$ 16 bilhões que o Facebook arrecadou em 2012. Com a entrada na bolsa de Nova York, Ma adicionará alguns cifrões à fortuna estimada em US$ 22 bilhões, o que já faz dele o homem mais rico da China.

A essa altura da vida, dinheiro não é mais o que seduz esse chinês apelidado de “crazy Jack”. Aos 49 anos, o negócio de Ma é ser reconhecido e reverenciado como um gênio empresarial. Admirador de Steve Jobs, o mito por trás da Apple, Ma gosta de fazer apresentações suntuosas, mais ou menos como Jobs fazia. Há mais diferenças que semelhanças entre os estilos. Em 2009, por ocasião das comemorações dos dez anos do Alibaba, crazy Jack subiu ao palco de peruca branca, coberto de maquiagem e usando óculos escuros. Quando a luz se concentrou nele, o empresário cantou, a plenos pulmões para milhares de funcionários, a música de abertura do desenho “Rei Leão”. É difícil imaginar Jobs, adepto do jeans e da camiseta preta, fazendo algo parecido. Na semana passada, os americanos se perguntaram que maluquice crazy Jack, que deixou o posto de CEO da empresa para assumir a presidência do conselho, fará no lançamento de ações na bolsa de Nova York.

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MALUCO?
"Crazy Jack" usou peruca branca, maquiagem pesada
e óculos escuros numa apresentação do Alibaba

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Uma das razões que transformaram o Alibaba em um colosso global é o que move a maioria das grandes corporações chinesas: preço competitivo. “O sucesso do Alibaba se deve a uma combinação feliz de fatores”, afirma James Wright, professor de economia da USP. “A empresa oferece produtos chineses em larga escala e com preços muito atraentes.” Os valores são sedutores. No site, um acessório para o controle do videogame wii custa entre US$ 2 e US$ 8 – no Brasil, ele não custaria menos de R$ 50. Além da vasta lista de produtos de todos os tipos (à exceção da barbatana de tubarão, abandonada por crazy Jack depois da pressão de ambientalistas), o Alibaba dispõe de outros serviços. Entre eles, o TaoBao, que permite que usuários vendam produtos entre si, e o Alipay, serviço de pagamentos online semelhante ao Pay Pal. No fundo, o Alibaba se tornou uma mistura de Amazon com eBay, com a vantagem de ter muito mais coisas à venda e a preços em geral bem mais baixos – além, é claro, de um executivo amigo dos holofotes.

Com vendas para mais de 150 países, o Alibaba está de olho em novos mercados. Em dezembro de 2013, conforme o último dado disponível, havia dois milhões de brasileiros cadastrados no site. É pouco perto do potencial do País. No ano passado, a gigante chinesa assinou uma parceria com os Correios com o objetivo de facilitar o comércio entre Brasil e China. Pelo acordo, os dois países se comprometeram a melhorar os procedimentos de logística e, assim, estimular a realização de novos negócios. Para se ter uma ideia da importância do Alibaba: a cerimônia que oficializou o acordo se deu na presença da presidenta Dilma Rousseff. Crazy Jack não participou do encontro e os brasileiros perderam a chance de conhecer um dos empresários mais estranhos – e geniais – do mundo atual.

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Fotos: Ben Cawthra/Glow Images; Zhang Chi; Mu Sen/Image China/AFP


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