06/09/2014 - 0:10
Maior símbolo do SeaWorld, um dos maiores parques de animais marinhos do mundo, presente nas cidades de Orlando, San Diego e San Antonio, nos Estados Unidos, a baleia orca tem sido um grande motivo de discórdia. Depois de ser alvo de polêmica envolvendo acidentes e maus-tratos com animais e treinadores, que culminaram com o documentário “Blackfish”, de 2013, os parques perderam credibilidade, principalmente entre os turistas. Nos últimos meses, foi registrada queda de visitação e de faturamento no complexo (leia quadro), e é evidente um esforço para refazer a imagem da marca. O SeaWorld anunciou um plano ambicioso, o Blue World Project, que pretende duplicar o espaço das baleias e criar um novo ambiente de interação entre humanos e bichos, além de se tornar o maior aquário de orcas do mundo. Segundo o vice-presidente de comunicação corporativa do parque, Fred Jacobs, essas mudanças não têm relação com o documentário. “A expansão foi pensada há muito tempo. Nos últimos quatro anos, investimos mais de US$ 70 milhões para atualizar essas instalações”, disse à ISTOÉ. O projeto deve ficar pronto em 2018 na unidade de San Diego, Califórnia.
SHOW
Orcas se apresentam no parque SeaWorld, que tenta aumentar sua
popularidade após denúncias sobre o tratamento dos animais
Coincidentemente, data de quatro anos atrás um dos acidentes mais graves envolvendo o parque. Uma experiente treinadora, Dawn Brancheau, foi morta ao ser atacada por uma orca durante um show diante de um público estupefato. A orca, em inglês chamada de “killer whale” (“baleia assassina”), é um dos maiores predadores do mundo animal e seu habitat é o mar aberto. Segundo especialistas, no cativeiro elas podem desenvolver estresse. “Presas, elas costumam ter comportamentos neuróticos, não se reproduzem bem e não têm uma vida longa”, afirma Naomi Rose, pesquisadora de mamíferos marinhos do Animal Welfare Institute, dos EUA. O SeaWorld rebate as acusações e garante que há um investimento de milhões nos habitats artificiais, alimentação de qualidade, exercícios físicos, estímulos mentais, cuidados veterinários e a companhia de outros membros da mesma espécie. Para especialistas, essa preocupação não é suficiente. Deborah Giles, pesquisadora associada da Universidade da Califórnia Davis, é taxativa ao dizer que o ambiente artificial nunca poderá tomar o lugar do ecossistema marítimo. “Não adianta aumentar o tamanho dos tanques de água”, afirma, referindo-se a um dos itens do Blue World Project. “Por maior que seja, ainda será um terço do que a baleia poderia nadar no mar.”
Além de não ser um ambiente natural para as orcas, as piscinas dos parques as deixam afastadas de seus grupos, que têm determinadas características, como alimentação e dialetos peculiares. “É a mesma espécie, mas há diferentes tipos de comunicação e hábitos. Isso pode ser um agravante em conflitos entre os próprios animais”, afirma Milton Marcondes, diretor de pesquisa do Instituto Baleia Jubarte e um dos maiores especialistas brasileiros em animais marinhos.
Foto: Eric Gaillard / Reuters