Maior símbolo do SeaWorld, um dos maiores parques de animais marinhos do mundo, presente nas cidades de Orlando, San Diego e San Antonio, nos Estados Unidos, a baleia orca tem sido um grande motivo de discórdia. Depois de ser alvo de polêmica envolvendo acidentes e maus-tratos com animais e treinadores, que culminaram com o documentário “Blackfish”, de 2013, os parques perderam credibilidade, principalmente entre os turistas. Nos últimos meses, foi registrada queda de visitação e de faturamento no complexo (leia quadro), e é evidente um esforço para refazer a imagem da marca. O SeaWorld anunciou um plano ambicioso, o Blue World Project, que pretende duplicar o espaço das baleias e criar um novo ambiente de interação entre humanos e bichos, além de se tornar o maior aquário de orcas do mundo. Segundo o vice-presidente de comunicação corporativa do parque, Fred Jacobs, essas mudanças não têm relação com o documentário. “A expansão foi pensada há muito tempo. Nos últimos quatro anos, investimos mais de US$ 70 milhões para atualizar essas instalações”, disse à ISTOÉ. O projeto deve ficar pronto em 2018 na unidade de San Diego, Califórnia.

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SHOW
Orcas se apresentam no parque SeaWorld, que tenta aumentar sua
popularidade após denúncias sobre o tratamento dos animais

Coincidentemente, data de quatro anos atrás um dos acidentes mais graves envolvendo o parque. Uma experiente treinadora, Dawn Brancheau, foi morta ao ser atacada por uma orca durante um show diante de um público estupefato. A orca, em inglês chamada de “killer whale” (“baleia assassina”), é um dos maiores predadores do mundo animal e seu habitat é o mar aberto. Segundo especialistas, no cativeiro elas podem desenvolver estresse. “Presas, elas costumam ter comportamentos neuróticos, não se reproduzem bem e não têm uma vida longa”, afirma Naomi Rose, pesquisadora de mamíferos marinhos do Animal Welfare Institute, dos EUA. O SeaWorld rebate as acusações e garante que há um investimento de milhões nos habitats artificiais, alimentação de qualidade, exercícios físicos, estímulos mentais, cuidados veterinários e a companhia de outros membros da mesma espécie. Para especialistas, essa preocupação não é suficiente. Deborah Giles, pesquisadora associada da Universidade da Califórnia Davis, é taxativa ao dizer que o ambiente artificial nunca poderá tomar o lugar do ecossistema marítimo. “Não adianta aumentar o tamanho dos tanques de água”, afirma, referindo-se a um dos itens do Blue World Project. “Por maior que seja, ainda será um terço do que a baleia poderia nadar no mar.”

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Além de não ser um ambiente natural para as orcas, as piscinas dos parques as deixam afastadas de seus grupos, que têm determinadas características, como alimentação e dialetos peculiares. “É a mesma espécie, mas há diferentes tipos de comunicação e hábitos. Isso pode ser um agravante em conflitos entre os próprios animais”, afirma Milton Marcondes, diretor de pesquisa do Instituto Baleia Jubarte e um dos maiores especialistas brasileiros em animais marinhos.

Foto: Eric Gaillard / Reuters