A nova cara do cinema nacional começa a se desenhar nos recentes prêmios da sétima arte – e ela tem feições nordestinas. Cineastas como o cearense Halder Gomes, diretor de “Cine Holliúdy”, ou o pernambucano Kleber Mendonça, de “O Som ao Redor”, estão tomando conta das premiações. No Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, realizado na terça-feira 26, entre os cinco indicados a melhor filme, quatro eram do Nordeste, bem como todos os concorrentes ao prêmio de melhor ator. Em 2010, somente um filme nordestino foi indicado e nenhum ator ou atriz concorria no mesmo prêmio.

abre.jpg
SANTO CRISTO
Ísis Valverde e Fabrício Boliveira em "Faroeste Caboclo",
vencedor de sete estatuetas do GP do Cinema Brasileiro

O baiano Fabrício Boliveira conquistou o público e a crítica ao encarnar João de Santo Cristo em “Faroeste Caboclo” – troféu de melhor ator na premiação e disputou o título de melhor ator no Grande Prêmio com o pernambucano Irandhir Santos, indicado pelas atuações em “Tatuagem” e “O Som ao Redor” e que participou de “A História da Eternidade”, grande vencedor do festival de Paulínia, dirigido pelo também pernambucano Camilo Cavalcanti.“Faroeste Caboclo”, dirigido por René Sampaio, foi o grande campeão da noite. Levou sete prêmios Grande Otelo, incluindo o de melhor longa.

A conquista não foi surpresa. O filme era o azarão da noite, com 13 indicações, empatado com “Serra Pelada”, do pernambucano Heitor Dhalia, que foi para casa com três deles. A redistribuição geográfica é comemorada também pelo diretor de “Cine Hollyúdi”, Halder Gomes. “Há um tempo a gente dependia muito do Sudeste, tanto de profissionais quanto de casas de finalização”, diz o diretor. No filme, que já recebeu mais de 50 prêmios internacionais, Edmilson Filho interpreta Francisgleydisson, um cearense que luta contra o fim dos cinemas no interior do País. Ele explica que onde antes existiam polos de produção separados, hoje há uma região unida e polivalente. “Pernambuco e Bahia já tiveram ondas de força no cinema, mas o Ceará estava um pouco perdido. Tinha uma rixa antes, mas hoje vemos as diferenças como fundamentais para embelezar o cinema.”

IEpag86_Cinema.jpg

O presidente da Academia Brasileira de Cinema, Roberto Farias, também está contente com a nova fase. “A produção está se diversificando e se espalhando no País. Não há tanta concentração no Rio e em São Paulo como antes. É reflexo da maturidade do cinema brasileiro; esse movimento deve se manter com o tempo.” Para Farias, as leis de incentivo à cultura facilitaram o acesso a financiamentos. A digitalização das casas de exibição também facilitou o trabalho, aumentando a praticidade da edição. Halder Gomes faz coro e elogia as políticas de incentivo à cultura, dizendo que com elas foi possível descentralizar as verbas e as criações: “Vários filmes sensacionais que estão aí vêm dessa iniciativa que proporcionou produções espetaculares”. Nessa nova leva de indicações, quem ganha mesmo é a cultura nacional.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

Fotos: Hugo Santarem; Jarbas Oliveira


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias