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Entenda como funciona esse barco militar

A era das batalhas entre grandes navios militares, como couraçados e destróieres, acabou junto com a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Desde então, as maiores embarcações têm servido mais para transportar aviões e tropas ou disparar mísseis contra alvos a grandes distâncias do que para entrar em confronto em mar aberto. Engana-se, no entanto, quem pensa que os barcos de guerra são ferramentas obsoletas. Hoje, forças navais do mundo inteiro – com Estados Unidos e China na frente – buscam embarcações menores, mais rápidas, estáveis e difíceis de detectar. É com essas qualidades que o Ghost (“fantasma” em inglês), um veículo aquático revolucionário desenvolvido por uma pequena empresa americana, quer conquistar a Marinha de Barack Obama.

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O desenho inusitado do Ghost, que se parece mais com uma nave espacial de “Star Wars” do que com um barco tradicional, é também responsável pelos seus maiores trunfos: a furtividade – capacidade de passar despercebido por sistemas de detecção por sonar e radar – e a estabilidade em mares revoltos. Seus propulsores, duas turbinas que ficam em tubos sob a água e geram 4.000 cv de potência, movimentam hélices na parte da frente, que puxam o barco em vez de empurrá-lo. Em altas velocidades, esse arranjo diminui a pressão da água a ponto de fazê-la evaporar, criando uma bolha de gás ao redor da estrutura. Esse fenômeno, conhecido como supercavitação, diminui o arrasto, melhora o consumo de combustível e deixa o “passeio” muito mais suave. O Ghost também é feito, em grande parte, de materiais leves, como alumínio, e tem um formato anguloso que o torna difícil de ser detectado por sonares e radares (confira quadro).

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CRIADOR
Sancoff, que fez fortuna no setor de tecnologia médica,
gastou US$ 15 milhões no desenvolvimento do Ghost

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PROTEÇÃO
A cabine, cheia de instrumentos digitais para orientação
e comunicação, também é à prova de balas

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“Ele poderia ser como um helicóptero de ataque dos mares”, disse à revista “Bloomberg Businessweek” o empresário Gregory Sancoff, que fez fortuna no setor de tecnologia médica antes de fundar a Juliet Marine, pequena startup que, desde 2009, já investiu US$ 15 milhões no desenvolvimento do Ghost. O propósito do barco, diz Sancoff, é fazer a defesa da costa ou a escolta de navios maiores para prevenir ataques de lanchas rápidas. O cenário é plausível. Em 2000, terroristas pilotaram uma pequena embarcação cheia de explosivos e a arremessaram contra um navio de batalha dos EUA ancorado no Iêmen. Dezessete americanos morreram e a bilionária arma de guerra foi seriamente danificada. Pouco tempo depois, a Marinha americana fez uma simulação em que suas embarcações eram atacadas por grupos bem armados em barcos pequenos. No fim do segundo dia de exercícios, mais de 20 mil militares teriam sido mortos.

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CRIADOR
Sancoff, que fez fortuna no setor de tecnologia médica,
gastou US$ 15 milhões no desenvolvimento do Ghost

Outra aplicação do Ghost, segundo seus desenvolvedores, estaria em missões secretas comandadas por grupos de elite como os Navy Seals, responsáveis por matar o terrorista Osama Bin Laden em 2011. Recentemente, um comando dos EUA tentou resgatar reféns americanos na Síria, mas foi incapaz de encontrá-los. “Poderíamos acessar áreas restritas do oceano e ficar lá, sem ser detectados, por até 30 dias apenas com o combustível a bordo”, diz Sancoff. Com a tecnologia de comunicação disponível, também seria possível interceptar ligações e receber imagens de satélite ou vídeos enviados por aviões não tripulados, diz o empresário. O Departamento de Defesa americano não se pronuncia oficialmente sobre suas intenções em relação ao barco, mas representantes militares já o avaliaram e até proibiram, durante dois anos, que a Juliet Marine registrasse as patentes fora dos EUA. Eles também testam outras embarcações com tecnologia “invisível”, como o M80 Stiletto, um grande navio de transporte e desembarque para fuzileiros navais. Num momento em que cortes de gastos são praxe nas forças armadas, deixar o desenvolvimento de um equipamento desse tipo ao cargo de uma pequena startup parece ser uma boa ideia, até mesmo para a gigantesca máquina de guerra americana.

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Fotos: Divulgação; Bournemouth News/REX


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