O imponderável entrou porta adentro da eleição com uma força capaz de mexer nas pesquisas e mudar o rumo das campanhas. Desde a semana passada, esse fator atende pelo nome de Marina Silva, substituta do pernambucano Eduardo Campos na corrida presidencial. Com as suas convicções radicais e pouca, ou quase nenhuma, maleabilidade para negociações partidárias, Marina tomou a cena como um furacão já provocando rachas na sua base aliada. Ninguém arrisca dizer que ideias, projetos ou acordos Marina defenderá – muito menos como ela irá governar em caso de vitória nas urnas, dada sua propalada intolerância para acatar sugestões e construir quadros administrativos com o setor privado. Quando da formação da chapa original, Marina divergia do próprio Campos em temas básicos da economia à política e mesmo nas questões ambientais (sobre o Código Florestal, por exemplo) e de cunho social. No novo papel, Marina move-se como que imbuída de uma missão divina e parece, por isso mesmo, pouco disposta a ouvir opiniões ou fazer concessões. É a mesma postura que a fez sucumbir no pleito anterior há quatro anos. De uma maneira ou de outra, é preciso ainda discutir no âmbito da candidatura Marina um plano de governo minimamente sustentável (o do PSB ela não quer) que a leve a convencer a opinião pública de sua viabilidade como alternativa de poder. Vitaminada pela força difusa, muitas vezes anárquica e sem bandeiras claras, das ruas, ela conseguiu galvanizar os ecos dos protestos, embora lhe falte substância programática para concretizar tantas demandas. Marina padece da ausência de traquejo para liderar e segue assim instintos e conceitos conservadores, abominando alavancas do desenvolvimento do País como o agronegócio e pregando um modelo fracassado – e já em desuso no mundo – de reestatização em diversas áreas. O desejo irrefreável dos brasileiros por mudanças turbinou o nome dela nas camadas mais jovens da população (muitos dizem que devido a sua identidade com a causa da sustentabilidade), mas é preciso muito mais que um discurso vago e simpático, calcado em idealismos, para tocar um país com as dimensões e complexidades do Brasil. O risco de a comoção nacional com a tragédia recente contaminar o clima eleitoral deve baixar aos poucos e gradativamente as posições refratárias de Marina, já evidentes, cederão espaço ao programa mais consistente que conquistará o eleitorado na hora do voto. 


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