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Julio Andrade. Você pode achar que não o viu, mas ele está bem aí ao seu lado

Deveria ser mais frequente. Mas não é.
Por razões diversas que não cabe abordar aqui, não é a toda hora que surgem no Brasil atores capazes de se transformar e transfigurar nos personagens que representam, de tal forma que cheguem a ficar absolutamente irreconhecíveis mesmo sem, necessariamente, precisar para tanto de maquiagens ou outros truques visuais. Aqui temos mais um para figurar nesta pequena, porém honrosa, lista que abriga gente como Wagner Moura, João Miguel, Lázaro Ramos, Fabíula Nascimento, Fernanda Torres e outros poucos homens e mulheres realmente capazes de deixar de ser um para ser quem quiserem.

Quem vê Julio Andrade na rua não o reconhece.Pode-se dizer que ele tem cara e jeito de homem comum. Mas este ator de 37 anos já participou de quase 40 filmes, além de novelas e séries de televisão, em seus 15 anos de carreira. Julio já foi Raul Seixas, em “Por Toda Minha Vida”, da Globo; foi Gonzaguinha, no filme “Gonzaga – De Pai Pra Filho”, de 2012; e agora é Paulo Coelho, no filme “Não Pare na Pista”, em cartaz. Também está na televisão como Oswaldo, o jornalista esquizofrênico, agressivo, eternamente suado e um dos 112 possíveis assassinos de “O Rebu”.

Começou cedo, por acaso e meio de brincadeira. Foi chamado por uma vizinha interessante para um teste e com 15 anos já estava fazendo teatro em Porto Alegre, capital onde nasceu. Aos 18, saiu de casa para morar com a namorada e, até se firmar, passou por muitos perrengues clássicos de começo de carreira nas artes cênicas. “Fiz palhacinho em festa infantil, enfermeiro em chá de bebê”, conta rindo. Depois de algum tempo, começou a receber convites para atuar em filmese se destacou na cena do cinema independentede Porto Alegre. Mas só ficou conhecido nacionalmente quando fez seu primeiro protagonista, em 2007, no filme “Cão sem Dono”, de Beto Brant. Nesse trabalho, Julio encarou com naturalidade e força cenas quentes e ousadas com a então estreante Tainá Müller, gaúcha como ele e que depois viria a se tornar sua namorada.

A nudez não constrange seu espírito livre. “Eu já fiquei muito pelado no cinema”, disse, antes de fazer as fotos de um ensaio sensual para a revista “TPM”, fotografado por sua amiga Carol Quintanilha. “Fiquei impactado com o convite, mas pensei: por que não?, já que tem tanta gente parceira envolvida.” Mas a condição para tirar a roupa foi não olhar para a câmera; estaria sempre olhando para Elen, sua mulher, que também participou das fotos.

 Sem nunca ter cursado qualquer escola de atuação, o autodidata Julio foi desenvolvendo seu evidente talento na raça e por meio da troca com diretores e outros grandes atores com quem teve a chance de contracenar. Uma das lições que considera das mais importantes é tão simples quanto poderosa: estar muito vivo em cena.