Não tivesse Eduardo Campos sido tragado pela circunstância trágica e fatal, ele já havia decidido quem apoiar no segundo turno, caso ficasse de fora da corrida presidencial. A interlocutores, Campos havia revelado que declararia voto em Aécio Neves (PSDB), numa eventual derradeira disputa contra Dilma Rousseff (PT). Quem testemunhou o relato do então candidato socialista não se espantou. Desde o ano passado, quando a pré-campanha ainda engatinhava, Campos e Aécio demonstravam estar afinados nos objetivos e nas convicções Além do desejo de apear o PT do poder, o tucano e o socialista convergiam nas críticas ao governo e no receituário para tirar o País da crise.

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JOGAVAM JUNTOS
Aécio e Eduardo Campos, além do desejo de apear o PT do poder,
convergiam nas críticas ao governo e no receituário para tirar o País da crise

Ambos batiam forte no aparelhamento e no tamanho exagerado do Estado, marcas registradas da gestão petista, e teciam contundentes reparos à condução da política econômica, notadamente o baixo crescimento aliado à inflação alta e o investimento insuficiente com altos gastos correntes. Atribuíam isso à falta de disciplina macroeconômica do governo Dilma e à constante intervenção estatal na chamada microeconomia (preços da gasolina e eletricidade controlados, crédito subsidiado dos bancos controlados pelo Estado). No rol de promessas de cada um, nova sintonia: ambos planejavam aumentar a independência do Banco Central, simplificar o complicado sistema tributário brasileiro, reduzir o número de ministérios e estimular o investimento da iniciativa privada na precária infraestrutura do País.

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Antes de morrer, Eduardo Campos já tinha decidido apoiar Aécio Neves
no segundo turno das eleições, caso ele ficasse fora da disputa presidencial

A harmonia cada vez mais evidente levou os dois a se encontrarem frente a frente pela primeira vez, desde que Campos havia anunciado o rompimento com o governo e a oficialização de sua candidatura ao Planalto, no dia 8 de dezembro de 2013. O palco do encontro foi o restaurante Gero, em Ipanema, na zona sul do Rio de Janeiro. Na reunião, de mais de duas horas de duração, celebraram um acordo tácito. O pacto entre eles rezava que um não se voltaria contra o outro. Mais adiante, em meio à festa de debutante da filha do ex-diretor da Caixa Geddel Vieira Lima, em Salvador, Bahia, Campos e Aécio não só reforçaram o acerto como aperfeiçoaram o que havia sido combinado inicialmente. A partir dali, atuariam no mesmo compasso no que diria respeito ao tom dos ataques ao governo. Também se comprometeram a conversar no mínimo uma vez por semana, nem que o bate-papo, quando necessário, fosse realizado via mensagens de celular. O acerto fez com que os dois emitissem, semanas depois, declarações muito parecidas sobre a gestão da petista. “O Brasil não aguenta mais quatro anos de Dilma”, afirmou Campos. “O sentimento geral dos brasileiros é um só: já deu de governo Dilma”, fez coro Aécio. Os ataques a Petrobras também guardaram semelhanças: “A grande verdade é que o PT nos acusou durante décadas de querer privatizar à Petrobras. Quem privatizou foi o PT, levando a empresa a ter um prejuízo de R$ 200 bilhões”, disse Aécio. “Em 2010, a presidenta acusou o candidato com o qual disputava a eleição (José Serra) de querer privatizar a Petrobras. Três anos depois, a estatal vale a metade do que valia”, disparou Campos.

A dobradinha de ideias entre Aécio e Campos pôde ser facilmente identificada por quem acompanhou as reuniões dos candidatos com produtores rurais, industriais e empresários, como a 13ª edição do Fórum Empresarial realizada no resort da Ilha de Comandatuba, em maio deste ano. No evento, demonstraram proximidade nas propostas e até posaram para fotos segurando juntos a bandeira do Brasil. “Não consigo ver o Eduardo como adversário. Somos companheiros do mesmo sonho, queremos a mesma coisa e não vejo como, a partir de 2015, não estarmos, eu, ele e a Marina, no mesmo projeto de país”, afirmou Aécio na ocasião. Eduardo aquiesceu.

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Não poderia ser diferente. Amigos há mais de dez anos, os dois não viram seus caminhos se cruzarem apenas na atual campanha. Cultivavam afinidades eletivas. Donos de trajetórias políticas semelhantes, herdaram de seus avôs maternos – Tancredo Neves e Miguel Arraes – um legado político e eram protagonistas de um mesmo projeto de poder.

Para figurarem como uma das principais lideranças políticas do País, Aécio e Campos trilharam caminhos parecidos, embora egressos de agremiações partidárias distintas. Tanto o tucano como o socialista se formaram em economia e passaram pelo Congresso antes de assumir o governo de seus respectivos estados. Tinham como vitrine política os bons mandatos que desempenharam em Minas Gerais e Pernambuco. Aécio tirou Minas de uma crise financeira através de sua política conhecida como Choque de Gestão. Já Eduardo Campos tinha conseguido implantar várias políticas desenvolvimentistas em Pernambuco. Portanto, uma realidade insofismável se impõe: no campo das afinidades político-ideológicas, Campos era muito mais próximo de Aécio do que de Marina Silva, hoje herdeira política do candidato morto.

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Fotos: George Giann; Divugação, Gustavo Rampini; Roberto Pereira; Marcos Pinto 


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