Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) virou uma cinquentona. Seus representantes, no entanto, estão convencidos de que as idéias deste organismo das Nações Unidas nunca foram tão atuais. “Para pensar o futuro e mesmo o presente, precisamos voltar ao passado”, recomenda o representante do Brasil na Cepal, o economista Renato Baumann.

IstoÉ – O pensamento cepalino é rotulado de retrógrado.
Renato Baumann
– A Cepal nunca postulou o fechamento da economia. Sempre recomendamos, no entanto, que a abertura fosse feita de uma forma menos traumática e a mais participativa. Não podemos perder de vista que a globalização é incompleta e desigual. A Cepal tem enfatizado a ausência de uma governabilidade internacional.

IstoÉ – Como era e como é a nossa pauta de exportações?
Baumann
– Em 1988, o Brasil exportava 18,8% de produtos primários e, dez anos depois, 19,6%. Estes números mostram que a exportação de produtos primários não mudou muito neste período. A exportação de produtos industrializados também permaneceu estável, em torno de 80%. A exportação de artigos eletroeletrônicos e veículos, em 1988, correspondia a 8,7%; em 1998, passou para 10,7%. Os produtos considerados difusores de progresso técnico, como máquinas, instrumentos e produtos de química fina, correspondiam a 10,8%, em 1988; e a 15,5%, em 1998. No caso do México, a variação é muito mais impressionante. As exportações de bens duráveis cresceram de 10,2%, em 1988, para 24%, em 1998. As dos difusores de progresso técnico, de 15,1% para 37,6%.

IstoÉ – Como o sr. avalia as privatizações ocorridas no País?
Baumann
– A Light, por exemplo, foi vendida antes da regulamentação do setor, provocando, num primeiro momento, um problema de oferta. Na área de telefonia, não sei até quanto se conseguiu reduzir o custo fiscal. Discute-se no País é se as privatizações reduziram o custo Brasil. O pedágio cobrado nas estradas da região Centro-Sul ficou mais caro. O mesmo ocorreu no setor bancário. Foi facilitada a entrada de bancos estrangeiros com vistas a aumentar a concorrência. Por enquanto, vemos o Banco Central anunciando que só vai mexer no redesconto depois de o bancos reduzirem seu spread. A abertura do setor propiciou uma queda de braço entre o BC e os bancos. O correntista ainda não obteve grandes vantagens com a abertura.

IstoÉ – Quais princípios da Cepal subsistem?
Baumann
– Um deles é a importância de se pensar o desenvolvimento econômico como um processo integral, incluindo a questão da distribuição de renda. Outro é a forma como os países participam do cenário internacional. A inflação é outro tema que aparece ao longo dos tempos. Ela não era só um fenômeno monetário. Havia outro determinante da inflação que era a questão de se pensar o crescimento não apenas no curto prazo, mas também nos médio e longo prazos. E, portanto, a importância de se assegurar canais de difusão do progresso técnico e do desenvolvimento.

É importante pensar no desenvolvimento econômico como um processo integral, incluindo a questão da distribuição de renda