O ator desdenha da fama de certinho, conta que considera os programas eleitorais uma chatice e diz que a sociedade tem de aprender a respeitar e a aceitar os gays

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VAIDADE
Quando a barriguinha aparece, ele faz dieta e corre na esteira.
Os pelos do peito são aparados pela mulher

O paranaense Antônio de Carvalho Barbosa tinha medo de beijar durante a juventude. A crendice de que o contato entre bocas seria suficiente para gerar uma gravidez o afastava de potenciais namoricos. O jovem logo enveredou para a carreira artística e, sob o nome de Tony Ramos, encenou beijos calorosos com as maiores atrizes do País.

 

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"Faço uma novela que fala de sexo, mas entra às 23h.
Espero que meu filho diga para os meus netos que, apesar
de o vovô estar no ar, é melhor que eles não assistam"

 

Aos 65 anos, 50 de carreira, está longe da timidez de outrora, mas segue reservado. Não gosta da exposição que as redes sociais proporcionam hoje em dia e sente saudade do tempo em que comia sanduíche de pernil com cebola e tomate em São Paulo. Casado há 45 anos com Lidiane, pai do médico Henrique, 43, e da advogada Andréia, um ano mais nova, está no ar na novela “O Rebu”, da Rede Globo. 

 

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"Não tenho Facebook e nem sei o que é Twitter. Não tenho o menor
interesse de me fotografar saindo do banho e colocar na internet"

ISTOÉ

 Se fossem crianças, seus filhos teriam restrições para assistir à tevê aberta?

 
Tony Ramos

 Faço uma novela cuja temática é forte, fala de sexo, mas entra à 23h. Espero que meu próprio filho diga para os meus netos que, apesar de o vovô estar no ar, é melhor que eles não assistam. Mas acho que a gente não pode ser autocensor e muito menos aceitar censura. Não sou corporativista e acho que a televisão e a imprensa devem ser livres, investigativas, apontar caminhos e ser responsáveis. Revistas de mulheres nuas, para mim, deveriam vir fechadas em uma capa especial, porque a nudez fica exposta nas bancas. A educação para quem assiste tevê começa dentro de casa.

 
ISTOÉ

  Como assim?

 
Tony Ramos

 Não é porque você vê uma novela com temática homossexual em uma novela das 21h que você vai se escandalizar. Eu me escandalizo também com casal heterossexual que resolve se beijar no meio da rua de forma ostensiva. É desnecessário. Isso não tem a ver com caretice, mas com bom senso, estética, ética. Mas, sim, não se escandalizar com beijo entre homossexuais é um exercício. A sociedade tem de aprender que eram pessoas infelizes quando estavam cerceadas, no armário. Prefiro um casal homossexual a um carola preconceituoso, que reza na igreja um Pai-Nosso e sai de lá apontando o dedo a terceiros. Os homossexuais são um segmento da sociedade que, hoje, está aí tentando o chamado “lugar ao sol” para a tolerância. Eles têm todo o direito, perante a Constituição, perante a vida e, digo mais, perante Deus. O papa Franscisco disse: “Quem sou eu para julgar um homossexual?”

 
ISTOÉ

 Considera-se melhor avô do que pai?

 
Tony Ramos

 Nunca fiz diferenciação entre filhos e netos. Fui um excelente pai. Aliás, continuo sendo um excelente pai. Como a minha mulher é uma mãe excepcional. Mas insisto, como fiz com os filhos, que a evolução do homem se dá pelo intelecto, e não apenas pelas máquinas. A leitura de um bom livro, jornais, revistas, é fundamental. Meus netos ficam impressionados porque faço muitas palavras-cruzadas. Me preocupo em falar com eles sobre música erudita. Todas as tendências, ritmos, samba, hip-hop, têm de ser respeitadas, mas os netos devem saber que melodia e harmonia são fundamentais. Compro coleções de música erudita, filmes e dou aos meus filhos. Sem educação um país não se torna uma nação.

 
ISTOÉ

 É uma questão que o preocupa?

 
Tony Ramos

 Sempre fui um pai preocupado com a educação, a informação, e sou um avô igual. Os que me consideram chato, reflitam. Não adianta raciocínio de jogos de computador, fingir que tenho acesso ao mundo, sendo que não se reflete. E aqui não é uma reclamação, é quase um socorro. Esse país precisa fazer um mutirão em favor do professor e do aluno. Entregar à nação um povo mais preparado é fundamental. Muitas vezes os alunos são quase analfabetos funcionais. A criança deveria ser ocupada das 7h30 até as 16h como ocorre em nações menos ricas que a nossa.

 
ISTOÉ

 Acredita nos políticos?

 
Tony Ramos

 Não quero ser um frustrado eterno, um homem decepcionado, entristecido com a vida. Quero ainda acreditar que é possível, que há homens e mulheres interessados em mudar o rumo da história, criar prioridades e transformar o País a partir da educação. Este país precisa de um mutirão na educação e na saúde. É um sonho que não acho utópico, mas difícil, complicado. Não quero dizer que me decepciono. Não assisto a programas eleitorais. Acho-os um erro, um saco, com colocações didáticas, chatas, que não levam a nada. Falta conflito. Gosto de debates.

ISTOÉ

 É verdade que o sr. recebeu um cachê de R$ 3 milhões para ser garoto propaganda da Friboi?

 
Tony Ramos

 Nem de longe. Adoraria ter esse dinheiro na minha conta. Mas não vou polemizar sobre esse assunto. O Fisco sabe que não recebi esse montante. Não sou de fazer muita propaganda. Nunca fiz de remédio, cigarro, plano de saúde, álcool.

ISTOÉ

 É antenado às novas tecnologias, usa as redes sociais?

 
Tony Ramos

 Não uso. Não quero me expor mais do que já estou exposto. O Antonio Fagundes, por exemplo, nem computador tem. Eu tenho um, que é bom, e gosto de acessar a internet para ver sites de turismo. Mas não tenho o menor interesse de me fotografar saindo do banho, comendo isso ou aquilo, e colocar na internet. Há um exercício de narcisismo, hoje. Mas atenção patrulha organizada da internet: não estou negando o direito a isso, apenas não é minha praia.

 
ISTOÉ

 Não tem Facebook?

 
Tony Ramos

 Não tenho Facebook e nem sei o que é Twitter, entendeu? Não adianta mandar WhatsApp para mim porque eu não tenho. Tenho e-mail, evidentemente, por onde recebo os capítulos. E uso o celular para telefonar (risos)! Já vi quatro pessoas em uma mesma mesa de restaurante com seus celulares em mãos, digitando, sei lá, para Marte. Olha-se para o outro, ao próximo, hoje, através de uma tela de celular, de um tablet, quando, na verdade, a convivência requer muito exercício, dedicação e afeto.

 
ISTOÉ

 Qual o momento da vida em casal que o sr. e Lidiane vivem após 45 anos juntos?

 
Tony Ramos

 A constatação de que o lúdico permanece, que um olha para o outro e basta um sinal para se entender, o prazer de estar junto, a vontade de colocar a cabeça no colo e trocar confidências. A minha lente de aproximação com a minha mulher é definitivamente na alma, é uma respiração de afeto, uma transpiração de amor. Isso é muito maior do que desejo, paixão efêmera. Você sabe que quem está lendo pode achar que estou mantendo a imagem. Cada um pensa o que quiser, não vou pensar por terceiros. E, aliás, não estou nem aí para o que pensam. 

 
 
ISTOÉ

 É possível casamento ir adiante sem amor ou sexo?

 
Tony Ramos

 O sexo depois de uma idade se modifica, não que deixe de existir. Nós aqui ainda estamos em uma fase muito produtiva (risos). Pode ser que outras pessoas encontrem outro tipo de amor em uma convivência de amizade. Eu e Lidiane não conseguiríamos viver assim. Ela é um ser muito libertário, uma mulher de um humor demolidor. Minha companheira, Lidiane, é um bicho alado, boa em todas as direções, presente sempre. Eu e Lidiane não nos levamos a sério nesta vida. A gente, sim, vive com seriedade frente à vida.

ISTOÉ

 Como reage à fama de bonzinho, certinho demais?

 
Tony Ramos

 Já me incomodei. Hoje, não mais. Se um homem que gosta de respeitar os outros, admira seus companheiros de trabalho, telefona para eles após uma cena, acredita no bom senso da ética, diz todos os palavrões do mundo, mas nunca publicamente, porque respeita a pluralidade de comportamentos diferentes, acredita na lealdade aos amigos, defende a sinceridade, não suporta a soberba, a intolerância, o preconceito, a inveja, é ser bonzinho, certinho, então, eu sou e vou morrer assim.

 
ISTOÉ

 E ao rótulo de celebridade?

 
Tony Ramos

 Celebridade para mim é um célebre com idade certa para acabar. Celebridade que se acredita ser como tal tem de tomar algum remédio, fazer tratamento, fazer um exame acústico e olhar para dentro de si mesmo. Celebridade para mim é Einstein, Tom Jobim, Beethoven, Bach, Pixinguinha. A gente, quando muito, é famoso, renomado. Vaidade para mim é aquela que o faz se sentir bem ao se olhar para o espelho. Aquela vaidade burra, nociva, não tem a menor possibilidade de passar perto de mim. Sou um homem muito bem resolvido. Mas, se estou com uma barriguinha, faço uma dieta, corro na esteira. Alguns de meus pelos estão ficando bem brancos no peito. 

 
ISTOÉ

  Já pediram para o sr. raspá-los para viver algum personagem?

 
Tony Ramos

 Nunca foi necessário. Se fosse uma necessidade profissional, eu rasparia. Eu aparo os pelos. A minha mulher, a cada 40 dias, dá uma aparadinha neles com uma máquina com pente no nível três. Eu, realmente, tenho bastante pelos. Se visto uma camiseta, eles começam a saltar pela gola. Mas deixo os buracos no peito quando raspam para fazer eletrocardiograma. Já fui para a praia – e tenho foto – com os três buracos no peito que fizeram quando me submeti ao exame de esforço físico. É uma característica física minha que vem do lado materno da família. Na adolescência, os amigos queriam ser como eu, com o peito cheio de pelos.

 
ISTOÉ

 O sr. chora?

 
Tony Ramos

 Por metro! Com o “Hino Nacional”, com o “Brasileirinho” tocado pelo Valdir Azevedo, com a “Ave-Maria” de Gounod. Nunca me esqueço que, às seis da tarde, é o momento ritualístico da Ave-Maria. Se possível, quando vai dar seis da tarde, entro em uma igreja. E choro com a dor da miséria. Outro dia, chorei lendo quatro cenas dos capítulos que recebi. Imagina como elas ficarão prontas. Agora, quer me deixar emocionado? Põe a sinfônica de Nova York, a filarmônica de Berlim, um grande regente para tocar.