Em 2013, o agravamento da guerra civil na Síria e a suspeita de que o presidente Bashar al-Assad usava armas químicas contra seu próprio povo levaram milhares de pessoas, incluindo mulheres e crianças, a vagar pelo deserto na esperança de fugir do horror. Um ano depois, as cenas se repetiram quando extremistas do Estado Islâmico (EI) começaram uma ofensiva em cidades ao norte de Bagdá. Com o avanço do grupo rebelde, que instalou um califado entre a Síria e o Iraque, refugiados da minoria yazidi tentam agora escapar de um novo tipo de “massacre”, conforme definiu a Organização das Nações Unidas. Ao impor uma interpretação radical da lei islâmica, o EI espalhou o terror com métodos que remontam a um período pré-civilizatório. Além de exigir que pessoas de diferentes religiões renunciassem à sua fé e se convertessem ao Islã, entre as atrocidades cometidas pelo EI estão o apedrejamento, a crucificação, a decapitação, a mutilação e a escravização de opositores e mulheres. Nem crianças escapam da degola. Na quarta-feira 13, yazidis encurralados no monte Sinjar, sem água nem comida, foram libertados depois de bombardeios americanos e da ação de militantes curdos.

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Refugiados da minoria yazidi deixaram o Iraque com medo dos extremistas.
Pelo menos 500 foram assassinados pelo estado islâmico

A perseguição religiosa atinge também outras minorias. Desde junho, quando os rebeldes sunitas tomaram Mossul, a segunda maior cidade do Iraque e então uma das principais comunidades cristãs do país, pelo menos 100 mil cristãos deixaram suas casas rumo à região autônoma do Curdistão. O Vaticano pediu que os líderes muçulmanos denunciassem as “barbaridades” do Estado Islâmico contra os cristãos e outros povos, como os xiitas. “Os ataques da Al Qaeda eram pensados para aterrorizar as pessoas para que governos mudassem suas políticas”, disse à ISTOÉ Nelly Lahoud, especialista em terrorismo e professora do Departamento de Ciências Sociais da Academia Militar de West Point, em Nova York. “O Estado Islâmico, em contrapartida, usa a selvageria simplesmente como forma de aterrorizar as pessoas.” Para o secretário de Defesa dos EUA, Chuck Hagel, o Estado Islâmico é “uma ameaça ao mundo civilizado.”

A situação é ainda mais alarmante porque o poder conquistado pelos insurgentes não tem precedentes na história. O EI, que dispensa financiamento externo e controla cerca de 70 poços de petróleo na Síria e no Iraque, é tido hoje como o grupo terrorista mais rico do mundo, com ativos avaliados em mais de US$ 2 bilhões. “Um cálculo conservador sugere que, neste ano, o grupo produza um superávit entre US$ 100 milhões e US$ 200 milhões, que poderá ser reinvestido na construção de seu Estado”, afirmaram os cientistas políticos Patrick Johnston e Benjamin Bahney em artigo publicado pelo jornal americano “The New York Times”.

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Na ausência de entidades independentes e jornalistas em campo, os crimes denunciados por testemunhas carecem de verificação. Ainda assim, muitos deles são assumidos pelos próprios militantes do EI em vídeos e fotos divulgados na internet. A publicidade de suas ações na rede tem sido um chamariz para simpatizantes estrangeiros. No Reino Unido, acredita-se que 500 britânicos aderiram ao grupo, que reúne entre 30 mil e 50 mil combatentes. Panfletos conclamando os muçulmanos a obedecer ao novo califa chegaram a ser distribuídos em Londres. Na Holanda, apoiadores do EI já organizaram duas manifestações. Um australiano de Sydney, identificado como Khaled Sharrouf, ganhou repercussão na semana passada ao publicar uma imagem nas redes sociais. Na foto tirada na cidade de Raqa, região dominada pelo EI no norte da Síria, um menino de 7 anos segura a cabeça decepada de um homem. Na legenda, Sharrouf diz, orgulhoso: “Esse é o meu garoto!”

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Foto: Rodi Said/REUTERS 


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