No Brasil de hoje a discussão sobre pessimismo ganhou conotações puramente políticas. Não se trata de um justificável estado de espírito movido pelas circunstâncias, pelos cenários pouco favoráveis, pelas estatísticas negativas (que são muitas) ou pela ausência de perspectivas quanto a uma retomada do País no curto prazo – variáveis que qualquer especialista normalmente levantaria para justificar o ânimo geral captado em pesquisas de opinião e nas manifestações de rua de uns tempos para cá. Ser pessimista é estar contra o governo e sua condução econômica propriamente dita. Simples assim. “Não há por que ser pessimista!”. É o que vendem coordenadores da campanha oficial por esses dias, lançando o placebo da conversa fácil como espécie de antídoto ao mau humor e às críticas crescentes. Reeditam dessa maneira o velho jargão do “xô, baixo astral”, sem oferecer reais alentos para a guinada de opinião da massa de insatisfeitos e desvalidos. Virou bandeira de palanque reclamar do pessimismo. Os pessimistas são os inimigos e martelar o combate a tamanha praga será o maior foco das baterias de ataque petista nos programas do horário eleitoral gratuito. O Brasil vai dar certo em um eventual segundo mandato porque “o Brasil é o Brasil” – um mantra que, caso transportado para o mundo do futebol, seria comparável à crença de que a seleção canarinho sairia campeã apenas com o “peso da camisa”. E quem pensar o contrário, tanto em um caso como no outro, que assuma inapelavelmente a pecha de pessimista. Decorre daí que ganham passe livre nas fileiras dos otimistas aqueles que apostam numa reviravolta, numa mudança rápida e indolor das condições gerais da Nação por pura inércia, com um simbólico voto na urna pró-continuidade. No pêndulo das expectativas, “pessimistas” e “otimistas” travam ali a guerra para ver quem leva a melhor. Oposicionistas culpam a política econômica pelo pessimismo. Aliados do poder atribuem o mal aos propagadores da ideia do “quanto pior, melhor”. Os realistas não têm vez nessa disputa.
 


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