Entre enormes quantidades do tranquilizante Nembutal e conselhos espirituais de um médium, Getúlio Vargas passou os anos seguintes ao golpe que pôs fim ao Estado Novo na sua cidade natal de São Borja (RS), tramando seu retorno político, que ocorreria com a esmagadora vitória nas eleições de 1950. Esse é o mote de “Getúlio 1945-1954”, que chega às livrarias esta semana, fechando a trilogia do jornalista Lira Neto sobre o estadista.

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EM FAMÍLIA
O autor usou como fonte correspondência inédita entre
Getúlio e sua filha do meio, Alzira Vargas

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Boa parte das fontes do autor veio da correspondência entre Getúlio e sua segunda filha, Alzira Vargas, conselheira pessoal e informante durante o período em que ele esteve afastado da política. Segundo o autor, quase todo o material – mais de mil páginas – é inédito e nunca foi consultado por outros pesquisadores. “As cartas estabelecem as táticas que ele usou até sua volta ao poder. Esse material era inexplicavelmente desconhecido, e revela também o cotidiano e a intimidade de Getúlio”, disse Lira Neto à ISTOÉ.

Uma dessas articulações políticas envolvia o apoio do então governador de São Paulo, Ademar de Barros, contra quem pesavam na época diversas acusações de corrupção.

“Não assinei nem autorizei a assinatura dum pacto com Ademar”, escreveu Getúlio à filha, preocupada com a recente visita do aliado a São Borja, para assinatura de uma aliança política.

Entre as surpresas da obra estão as histórias relacionadas ao guru espiritual Menotti Carnicelli, um ítalo-brasileiro que contava com diversos seguidores no Rio de Janeiro. Getúlio recebia conselhos de Carnicelli – conhecido então pelo codinome “professor” – por meio da filha. “Ele dizia que Getúlio deveria ser derrotado para ressurgir e que seria melhor que ficasse politicamente isolado”, diz Neto.  

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