O conflito entre israelenses e palestinos, que já dura 60 anos, ganhou novos capítulos na última semana. Às 2 horas da sexta-feira 8 foi encerrada a trégua de 72 horas estabelecida entre Israel e facções palestinas na Faixa de Gaza, após negociadores não conseguirem chegar a um acordo final para que o cessar-fogo temporário entre as partes fosse estendido. Apesar de os dois lados da trincheira terem sinalizado mais uma vez com a possibilidade de fazer concessões e, com isso, encerrar a contenda que alcançou seu ápice no último mês com uma sangrenta escalada de violência, a paz na região ainda parece ser uma quimera. Quatro horas antes do fim do cessar-fogo, foguetes lançados da Faixa de Gaza atingiram o território israelense. “Agora mesmo, dois foguetes disparados de Gaza atingiram o sul de Israel. Os terroristas violaram o cessar-fogo”, afirmou o Exército de Israel. O líder do Hamas, Moussa Abu Marzouk, rebateu: “Se havia uma oportunidade de paz, foi perdida junto com os corpos de nossas crianças e os escombros de nossas casas”, afirmou. No fim da manhã da sexta-feira 8, Israel já retomava os bombardeios contra Gaza.

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ECOS DO CONFLITO
Na sexta-feira 8, enquanto cidadãos palestinos deixavam suas residências
nas regiões norte e leste da cidade de Gaza, o Exército de Israel se reunia para
organizar novos ataques, diante da recusa do Hamas em prolongar o cessar-fogo

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Desde o primeiro dia da ofensiva militar na Faixa de Gaza, em 8 de julho, até o início da trégua, 1.875 pessoas morreram, incluindo 430 menores de idade e 243 mulheres no lado palestino. No lado israelense, morreram 64 soldados e três civis. Como os dois lados se recusaram a reunir-se frente a frente, mediadores egípcios foram escalados para articular a extensão da trégua, além de tentar abrir negociações em direção a um acordo permanente de cessar-fogo. Em vão. Um dos principais argumentos do Hamas para rejeição da ampliação do cessar-fogo foi o fato de os israelenses não aceitarem acabar com o bloqueio sobre a Faixa de Gaza, que já dura oito anos, a principal exigência do grupo. Diante do impasse, milhares de cidadãos palestinos deixaram na sexta-feira 8 suas casas nas regiões norte e leste da cidade de Gaza, onde aconteceram os enfrentamentos mais violentos durante o mês de julho.

Para o especialista em Oriente Médio e professor da FGV e Rio Branco, Guilherme Casarões, como o Hamas e o governo sob a batuta do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, assumiram uma postura de extremo radicalismo e não representam os anseios de toda a população, a paz definitiva naquela região parece não ser uma opção em um futuro próximo. O professor de história e sociologia do Mackenzie, Alexandre Hecker, faz uma projeção ainda mais pessimista. “Apesar de todas as tentativas, eu não acredito que possa haver paz nos próximos 500 anos lá”, opina Hecker.

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Na avaliação de Casarões, os EUA deveriam adotar uma postura mais contundente, em vez de apenas mediar o conflito, e Israel precisaria compreender que, sem aceitar algumas condições, não há como chegar a um consenso negociado. “Os EUA deveriam pressionar mais politicamente. E cabe ao Netanyahu dar o primeiro passo, fazendo algumas concessões. A paz só vai acontecer quando o governo de Israel sentar com os palestinos e resolver isso. Mas eles têm medo, porque o único ministro de Israel que negociou com os palestinos foi morto por um judeu ortodoxo”, lembrou numa referência a Yitzhak Rabin, assassinado em 1995 pela direita radical israelense. Para Hecker, a ONU, que nos últimos dias recomendou a extensão do cessar-fogo, poderia constituir uma força de paz e implantá-la no território da Palestina, na Cisjordânia. Mas a medida, argumenta o especialista, “significaria diminuir o poder de Israel, e isso os Estados Unidos nunca iriam permitir”.

Fotos: EFE/Oliver Weiken; REUTERS/Baz Ratner