Os avanços na criação de novos remédios e no conhecimento da doença de Alzheimer têm um valor especial para os cientistas. Cada nova frente de pesquisa reacende a esperança de encontrar drogas mais eficazes para combater os sintomas do problema, como as perdas de memória e da capacidade de falar ou se locomover. Desta vez, o responsável pela onda de entusiasmo é o pesquisador pernambucano Edson Albuquerque. O motivo é um princípio ativo conhecido como galantamina, já utilizado para combater fraquezas musculares e alguns problemas cerebrais. O cientista comprovou que a substância também é eficaz contra o mal de Alzheimer – doença que atinge um milhão e meio de brasileiros e afeta uma em cada 20 pessoas acima de 65 anos.

Baseada nos estudos de Albuquerque e do bioquímico Alfred Maelicke, da Universidade Johannes-Gutenberg, em Mainz, na Alemanha, a Janssen Pharmaceutica lançou há três meses o remédio Reminyl, à base de galantamina. A droga potencializará a ação da acetilcolina – um neurotransmissor que promove a troca de informações entre os neurônios responsáveis pelas lembranças e pelas funções intelectuais (saiba como a droga age no quadro ao lado). Quem tem o problema possui baixas taxas dessa substância. Quando a doença se agrava, acaba se desconectando da realidade.

Uma das vantagens é que o remédio é menos agressivo. “A droga proporcionará melhor qualidade de vida ao doente, pois causará menos efeitos colaterais,” garante Albuquerque. Os outros medicamentos podem causar desde náuseas até problemas de fígado. O Reminyl é encontrado em alguns países da Europa e agora está sendo avaliado pela FDA (agência norte-americana que regulamenta remédios e alimentos). Ainda não se sabe quando ele aportará no Brasil. Para o médico Paulo Bertolucci, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a droga será mais uma alternativa. “Ele poderá ser uma opção para pacientes que não apresentam respostas aos outros remédios”, diz.

As drogas existentes, como a tacrina (a mais antiga e com maiores efeitos colaterais), o donepezil e a nova substância procuram retardar a evolução dos sintomas, mas não agem nas causas da doença. O mal de Alzheimer provoca a morte de neurônios e uma alteração dos circuitos de memória. Como a perda é física – os neurônios morrem e as áreas do cérebro atrofiam – os circuitos de memória a que pertenciam não se regeneram. O paciente perde progressivamente a memória, a capacidade motora e funções intelectuais.

A doença ainda reserva mistérios para os cientistas. O desafio maior é saber qual a causa do mal. Há duas semanas, uma peça importante do quebra-cabeça parece ter surgido. Pesquisadores alemães e japoneses anunciaram ter decifrado o cromossomo 21, o menor do material genético humano. É uma esperança, já que o Alzheimer está associado a alterações nesse cromossomo. Pode-se imaginar que, corrigindo esses defeitos, o controle da doença esteja mais próximo. Mas há outras investigações. Alguns estudos avaliam a função da chamada placa amilóide, formada por células mortas no cérebro. “Ela está associada ao desenvolvimento do Alzheimer, mas ainda não descobrimos como atua”, diz a neurologista Thaís Minett, da Unifesp. Outra pesquisa tenta desvendar a participação da enzima fosfolipase A2 no acúmulo de um tipo de proteínas chamadas de beta-amilóides. Uma das hipóteses é que a morte dos neurônios tenha origem no excesso dessas proteínas e também numa quantidade maior de outra proteína, a TAO.

Saber mais sobre os fatores controláveis que predispõem ao Alzheimer faz parte do conjunto de propostas para achar novas trincheiras para guerrear contra a doença. Há constatações inquietantes. “Verificamos que os sintomas da doença se manifestam antes em pessoas com baixa escolaridade”, afirma o neurologista Ricardo Nitrini, professor da Universidade de São Paulo. Nitrini conduziu um estudo no qual avaliou 1.660 pessoas com mais de 60 anos na região de Catanduva, interior de São Paulo, para verificar a quem a doença afeta prioritariamente. Confirmou-se que o indivíduo com maior quantidade de informações está mais protegido das perdas do Alzheimer. “Ele consegue compensar os danos usando outros circuitos do cérebro”, explica Nitrini.

Os remédios ajudam, mas não são suficientes para amenizar o sofrimento do paciente. A dificuldade se agrava principalmente quando a doença acomete idosos que vivem de aposentadoria. O preço médio dos medicamentos disponíveis no Brasil oscila entre R$ 70 e R$ 120. E não há nenhuma solicitação tramitando no Ministério da Saúde para produção de medicamentos genéricos contra o Alzheimer. Além disso, os postos de saúde da rede pública distribuem apenas remédios para tratar sintomas como tonturas e agressividade. “O dinheiro não dá para as despesas de alimentação e remédios. Precisamos escolher e paramos com o tratamento”, diz Rosa Feliciano, que cuida do marido, Francisco, 89 anos, há 9 doente.

Felizmente, não é apenas a medicina que busca novas formas de cuidar da doença. A Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz), em São Paulo, promove reuniões com especialistas. Lá, familiares e outros interessados tiram suas dúvidas. A cabeleireira aposentada Luiza Oliveira, 81 anos, é uma das participantes. Embora não tenha ninguém na família com a doença, ela trabalha como voluntária em casas de repouso. Por isso, busca informações na associação. “Aprendo como lidar com o paciente. A experiência é gratificante. Recebo o carinho deles e, assim, também me mantenho ativa e com saúde.”
Para a enfermeira Ceres Eloah Ferretti, presidente da Abraz, os familiares precisam saber como se relacionar com os doentes. Ela sugere que a família use a linguagem dos gestos para incentivar os pacientes a realizar sozinhos tarefas do cotidiano e, sempre que possível, tocá-los com carinho na face. O contato físico faz com que se sintam amados. Mais. O toque é uma forma de mostrar aos doentes que eles continuam ligados a um mundo real. Esses conceitos também são divulgados pela equipe do programa Assistance, criado em 1998 pelo Laboratório Biosintética para aumentar a adesão de pacientes crônicos ao tratamento. Uma das usuárias é a paranaense Suzana de Almeida, 44 anos. “Conversar com os especialistas de lá é uma forma de reduzir o stress na convivência. Eles me dão retaguarda para entender a mamãe nas horas mais difíceis”, conta Suzana, que cuida da mãe, Maria José, 74 anos. Há pouco tempo, ela tirou férias para recuperar as energias. “Fui sem culpa e voltei mais paciente. A psicóloga me convenceu de que o cuidador precisa de tempo livre para relaxar”, garante Suzana. “Dessa forma, sinto-me mais fortalecida para dar o carinho que minha mãe precisa”, diz. De fato, remédio e carinho são os ingredientes principais do tratamento para amenizar o drama provocado pela doença.