Por que dois automóveis Volkswagen Golf estariam rodando dentro da fábrica da Toyota, em São Bernardo do Campo, com placas de testes? Se os carros não pertencem a nenhum funcionário, seria este um caso de espionagem industrial? Não exatamente. Os dois Golfs foram pedidos à Volkswagen por um grupo de executivos japoneses que vieram conhecer as operações da Toyota no Brasil e, de quebra, as do concorrente. Em contrapartida, a Toyota enviou dois Corollas para São José dos Pinhais, cidade paranaense onde a Volkswagen produz o Golf e o Audi A3. O intercâmbio de Golfs e Corollas não é uma troca de gentilezas entre executivos cansados de rodar nos carros de suas companhias, mas parte de uma estratégia global de aproximação cada vez maior entre os alemães e os japoneses. Toyota e Volkswagen, respectivamente terceira e quinta montadoras do mundo, não confirmam a informação, mas estariam caminhando rapidamente para a formação de uma aliança estratégica que permitiria até a construção de carros sobre uma plataforma comum.

As duas companhias já assinaram acordos de cooperação técnica no passado, mas agora estão produzindo motores em conjunto. “As próximas etapas serão o desenvolvimento de sistemas inteiros idênticos e a unificação do sistema de compras, até chegar a plataformas comuns. É um caminho sem volta”, diz uma fonte ligada a uma das montadoras.

Durante um recente anúncio de produção conjunta de motores a diesel na Europa, o presidente mundial da Toyota, Fujio Cho, discursou para uma platéia de executivos das duas companhias e deixou no ar um recado que indica o cruzamento dos caminhos delas: “As montadoras que quiserem sobreviver terão de cooperar no laboratório e concorrer no showroom.” Na opinião dos executivos, Cho sugeriu que Toyota e Volkswagen viriam a compartilhar peças e administração para reduzir custos, mas as marcas continuariam a existir separadamente.

É como funciona a aliança entre General Motors e Fiat, anunciada em março. Mas, ao contrário de Volkswagen e Toyota, que exibem saúde financeira e liderança em suas regiões de origem, a Fiat anda mal das pernas e a GM comprou 20% de suas ações, dando em troca 5% de seus papéis. Por que, então, Toyota e Volkswagen uniriam forças? Para reduzir custos e, sobretudo, ter complementaridade entre seus mercados. Enquanto a Toyota lidera as vendas na Ásia (sua participação é de 16%) e é a quarta na América do Norte (8,2%), na Europa ela tem apenas 3%. A Volkswagen é soberana na Europa (17,2%), mas representa somente 3,1% do mercado asiático e 1,9% do americano. No maior mercado da América do Sul, o Brasil, a Volkswagen tem 28% de participação e a Toyota, 1,6%.

“A possibilidade de penetrar nos mercados em que são mais fracas é a principal justificativa para uma eventual aliança”, afirma Glauco Arbix, professor da Universidade de São Paulo (USP) especializado em indústria automotiva. Foi para ganhar musculatura na Ásia que a Renault comprou a Nissan no ano passado e a DaimlerChrysler adquiriu a Mitsubishi neste ano. O negócio entre Toyota e Volkswagen não deverá passar por fusão ou aquisição de uma pela outra, mas por aliança das operações nos moldes GM/Fiat. “A troca de ações entre as duas companhias é o máximo possível. Fusão ou aquisição é inviável. Seria contraproducente, pelo porte das empresas e por suas diferenças culturais”, diz José Roberto Ferro, professor especialista no setor automotivo da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Se optassem por uma aliança, Toyota e Volkswagen formariam a dupla com maior alcance de vendas no mundo. Se optassem por uma união, romperiam a barreira dos dez milhões de carros produzidos por uma única companhia e, de quebra, ganhariam o primeiro lugar eternamente ocupado pela General Motors.

As gigantes do setor
(em milhões de unidades/ano)
MontadoraProdução
GM9,0
Ford8,8
Toyota5,5
Daimler Chryler4,7 *
Volkswagen4,6
Renault4,5 **
PSA2,4
Fiat2,3
* Não inclui os números da recém-adquirida Mitsubishi
** Já inclui os números da Nissan, adquirida em 1999