Está lá, num site da Web: “Nosso objetivo é facilitar ao máximo para que você volte e compre de novo. Cigarros afrodisíacos que dão onda, maconha, ácido, estimulantes psicodélicos, ecstasy, concentrado de ervas que aumentam a percepção mental, LSD natural, cogumelos. Basta clicar no item how many. Expedimos pacotes pelo correio. Somente nós e você saberemos o que há dentro. Será nosso pequeno segredo.” O comércio eletrônico transformou-se numa ferramenta tão cômoda que é possível adquirir entorpecentes pela rede sem se mover da poltrona. O maravilhoso e democrático mundo virtual – acessado por 196 milhões de internautas – virou o paraíso das drogas. O Setor de Investigação de Crimes de Alta Tecnologia (Sicat) da Polícia Civil de São Paulo, especializado em infrações virtuais, recebeu denúncias anônimas de pais que tinham flagrado os filhos comprando drogas pela Internet. Outros haviam acessado os sites por acaso e se diziam chocados. Chefe do Sicat, o delegado Mauro Marcelo de Lima e Silva fez um rastreamento na rede e descobriu pelo menos 12 desses endereços. “Tem até receita para fazer cocaína caseira”, conta.

Para experimentar a eficiência do tráfico virtual, o delegado, munido de autorização judicial, fez seis encomendas e, em três dias, recebeu duas – um pacote tipo Mentex de pastilhas de maconha do Texas, por US$ 20, e maconha de Amsterdã, vendida ao preço mínimo de US$ 10 por três gramas. O material está sendo analisado em laboratório. “Os sites não são brasileiros e não podemos reprimir a venda. Mas quem encomenda, mesmo para uso particular, está praticando crime”, alerta.

Sob supervisão do delegado, ISTOÉ também pediu um mix de drogas a um site americano que vende de haxixe a sementes de maconha. O kit chegou em cinco dias com três saquinhos de ervas de 20 gramas cada um, um maço de cigarros denominados “espirituais” e um fumo prensado semelhante ao haxixe. Os rótulos citam ingredientes como opium de alface, camomila, artemísia e hortelã (leia quadro). No site está escrito que, apesar de parecerem inofensivas, essas substâncias provocam efeitos semelhantes aos do ópio, da maconha e do haxixe. Os tóxicos lembram um chá qualquer e seu cheiro pouco tem a ver com as drogas originais. Para o psiquiatra paulista Ronaldo Laranjeira, é bem provável que o material de fato não seja maconha ou haxixe. Mas outra substância com os mesmos efeitos psicoativos e sem o THC (o princípio ativo da maconha) que caracteriza essas drogas ilícitas. “Chamamos esses entorpecentes de ‘design drugs’. Eles se parecem com as drogas conhecidas, mas não são e acabam vendidas”, informa Laranjeira. Verdadeiras ou não, sua comercialização caracterizaria crime. No mínimo, de estelionato, já que os sites enganam o consumidor. “A idéia é fazer um trabalho em parceria com a Polícia e a Receita Federal para interceptar as encomendas pelo correio. Quem sabe, dotando-os de aparelhos de raio X que possam revelar o conteúdo da correspondência”, diz o delegado.

Legal – A maioria das homepages é da Holanda, onde o comércio é liberado, ou de Estados nos Estados Unidos, do Canadá e da Austrália, onde é legal o consumo em pequenas proporções. Basta fazer a encomenda por e-mail e dar o número do cartão de crédito. Uma homepage do Havaí vende todo tipo de planta alucinógena, inclusive a ayahuasca usada pelo Santo Daime. Há também lojas inteligentes (smartstores) que chegam a vender 11 tipos de ecstasy, com compostos à base de cogumelos e ervas. Um site da Califórnia, visitado diariamente por três mil usuários, vende cigarros para deixar stoned (doidão), como o Black Death, que mistura cannabis, outras ervas potentes, óleo e resina, e custa apenas US$ 1. “É denso como maconha e próximo do haxixe”, diz a “bula”.

Muitos vendedores oferecem compostos não catalogados como drogas, mas com efeitos psicotrópicos, driblando a lei. As mercadorias podem ter sido fabricadas em laboratórios de fundo de quintal e nada garante a qualidade do produto. Para o consumo do Ecstasy, que faz a festa dos clubbers, compra-se um kit com duas substâncias químicas – não classificadas como ilegais – que devem ser misturadas. Uma colher de chá do composto é vendida a US$ 5. Há ainda uma infinidade de sites para quem almeja limpar o organismo às vésperas de um exame antidoping. Numa ligação feita da ISTOÉ, o atendente Rich discorreu sobre as vantagens de um kit com pílulas e líquidos à base de enzimas que aceleram o metabolismo e deixam o corpo livre de maconha em até cinco dias. O tratamento pode sair até por US$ 100.

O que torna o trabalho da polícia mais difícil é que a compra de drogas também tem acontecido com frequência na sub-Web, ou seja, nas salas de bate-papo. Foi num chat com o nickname de Erva Venenosa que o estudante carioca M.B., 17 anos, conseguiu um punhado de baseados. “Nas salas de bate-papo, sempre alguém oferece coisas como ácido ou LSD”, diz M.B. Ele começou a fumar maconha aos 13 anos e está sob tratamento para dependência química. Uma homepage de policiais americanos avisa que a maioria dos vendedores são jovens de classe média entre 18 e 26 anos.

Celular – A compra de drogas online não chega a surpreender o psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, fundador do Programa de Orientação e Assistência a Dependentes da Escola Paulista de Medicina. “Tenho pacientes que usam o serviço de entrega de cocaína pelo celular. A droga é entregue em casa. Não iria demorar para que o computador entrasse nessa.” De acordo com a Organização Mundial da Saúde, 25% dos jovens de todo o mundo já fizeram uso de drogas ilícitas. “Há uma ênfase em nossa cultura pela procura do prazer instantâneo. Não é de estranhar que jovens vulneráveis entrem nessa”, diz Dartiu.

O delegado Mauro Marcelo acha que os pais devem ficar alertas. Ele aconselha que eles naveguem junto com os filhos ou utilizem programas que impeçam o acesso a determinados sites. “Basta selecionar as palavras que você não quer que apareçam”, diz ele. Um dos coordenadores do Centro Brasileiro de Informações, Drogas e Psicotrópicos (Cebrid), o psiquiatra José Carlos Galdurós, alerta que a repressão é a pior arma para lidar com o problema. “Ninguém gosta de ser reprimido. O pai vira um policial e o filho acaba se afastando. O controle tem de ser feito na oferta”, aconselha.

De qualquer maneira, o comércio virtual de drogas é uma realidade nova para as autoridades. “O governo precisa pensar em mecanismos de controle da Internet e tentar ser mais rápido que ela”, afirma a presidente do Conselho Estadual de Entorpecentes de Brasília, Cândida Rosilda de Melo Oliveira. Enquanto isso não acontece, o passaporte para uma viagem alucinante está ao alcance do mouse.

OS INGREDIENTES DAS DROGAS

SPEARMINT LEAF Folha de hortelã, em inglês, se usada em grandes doses, causa insônia e irritabilidade.

DAMIANA Age no Sistema Nervoso Central (SNC) e deixa o usuário eufórico. Pode provocar aumento da libido.

WILD LETTUCE Age como depressora do SNC provocando sonolência e sedação. Era usada como substituta do ópio, pois em altas doses provoca alucinações.

CALIFORNIA POPPY Planta da família das papoulas, mas com menos alcalóides (substância que dá "barato"). Também é depressora do SNC e, em grandes doses, causa sonolência.

MUGWORT Conhecida como artemísia vulgar, a planta pode causar insônia e irritabilidade.

CANNABINACEAE "Prima" da Cannabis sativa (planta da maconha), pode provocar os mesmos efeitos da droga: molesa, boca seca e sonolência.

MYRISTICA É a noz-moscada. Apesar de usada em temperos, pode provocar alucinações.

TH3 (COMPLEX) LETTUCE OPIUM, ARTEMÍSIA ABSINTHUM, WILD POPPY Combinação que mistura lettuce opium (com o efeito semelhante ao ópio) com artemísia absintum (que era usada para fazer a bebida absinto, alucinógena, proibida por causar demência.


Fonte: Alex Botsaris, médico e estudioso de plantas medicinais
 

AS VEDETES DA WEB

EXTASY Comprimido que marcou a geração clubber. Não possui efeitos alucionógenos. É fundamentalmente formado por anfetamina e deixa o usuário "ligadão". Há quem diga que funciona como excelente afrodisíaco, pois aguça os sentidos. Sua ação se processa nas terminações dos neurônios. A droga estimula e inibe a recaptação.

MACONHA Altera a percepção do tempo e provoca sensação de relaxamento. É considerada branda, pois provoca pouca dependência química. A abstinência da maconha só deixa o usuário com mais vontade de fumar, mas não compromete sua saúde. A longo prazo, acelera a perda de memória e alguns especialistas dizem que pode levar à infertilidade masculina.

LSD Em forma de comprimido, líquido ou papelote essa droga marcou os anos 70 e voltou à moda com os clubbers há cinco anos. Sua versão antiga provocava delírios e alucinações. A atual tem muita anfetamina e deixa o usuário “ligado”. Seu uso abusivo pode tornar as pessoas psicóticas e paranóicas. Há quem diga que os “flashbacks” são frequentes: mesmo sóbrio, o usuário pode voltar a ter as visões de quando esteve sob efeito do alucinógeno.

HAXIXE De efeito parecido com a maconha, altera a percepção do tempo sem deixar o usuário com a sensação de cansaço. Também pode provocar perda de memória.

COGUMELOS ALUCINGENOS Ingeridos crus ou em forma de chá, os cogumelos provocam enjôo e efeito semelhante ao do LSD. Também podem causar dependência química e “flashbacks”.

 

SERVIÇO ELETRÔNICO

A partir de junho, os interessados no tráfico eletrônico contarão com mais uma homepage: www.itoke.co.uk. Uma dupla de internautas americanos expatriados está investindo US$ 5 milhões na criação desse serviço eletrônico que entregará maconha em casa. A sede da empreitada fica em Amsterdã, na Holanda. Apesar de saberem que a venda da cannabis fora do perímetro holandês é proibida, os internautas acham que vão conseguir fazer a polícia mudar as leis, pois garantem que comprar maconha do iToke é mais seguro do que sair atrás de fumo nas ruas, além de gerar impostos.

Honey Blonde
Vendido como o melhor haxixe do mercado
Herbal Products
Mistura de ervas que relaxam sem dar sonolência
WEED
Espécie de maconha, mas com efeitos mais leves
Tribe
Cigarros afrodisíacos que ajudam a parar de fumar
 
Buldog Blend
Anunciado como o melhor fumo do mais famoso coffee shop de Amsterdã