Uma proteína é a principal esperança dos médicos para lutar contra a insuficiência cardíaca, que afeta a capacidade do coração de bombear o sangue. Cardiologistas do Instituto Dante Pazzanese e do InCor, ambos de São Paulo, estão pesquisando a correlação entre o nível do peptídeo natriurético cerebral (ou BNP) e o estágio mais grave do problema, que pode levar à morte. O estudo será apresentado em novembro no congresso do American Heart Association, uma das maiores entidades de cardiologia do mundo.

Quando alguém sofre de insuficiência cardíaca – fato mais comum na população idosa –, o organismo passa a liberar diversas substâncias para compensar o enfraquecimento do músculo. Entre elas está o BNP. Estudo publicado em fevereiro nos Estados Unidos comprovou que a produção elevada da proteína é sinal de perigo. Portanto, sua dosagem, medida pela análise do sangue, funciona como indicador do problema.

Os especialistas brasileiros acham que, além de contribuir para o diagnóstico, o exame pode apontar a gravidade do problema. De acordo com o cardiologista Felício Savioli, do Dante Pazzanese, a presença excessiva da substância provoca modificação no formato do ventrículo esquerdo (uma das estruturas cardíacas), que deixa de ser cilíndrico e toma a forma de esfera. “Nesse estágio, o coração está muito enfraquecido e não consegue bater. E os riscos de a pessoa morrer em um ano são 70% maiores”, alerta. Em caráter experimental, os pesquisadores estão medindo a proteína em pacientes das duas instituições.

O Hospital Pró-Cardíaco, no Rio, entretanto, incluiu há cerca de um mês a dosagem do BNP nos exames de check-up, ao preço de R$ 200. “Uma de suas indicações é para quem infartou”, diz o cardiologista Evandro Mesquita, do Pró-Cardíaco. O aposentado Everaldo Lopes, 64 anos, com insuficiência, foi um dos primeiros examinados. Em abril, ele sentiu falta de ar e temeu o
agravamento do mal. Mas o nível de BNP estava normal e o diagnóstico foi ansiedade. “O exame mostrou que o coração dele estava bem. Ficamos mais tranquilos”, conta André Costa, 22 anos, filho de Lopes.