Pela terceira vez em menos de 30 dias, o governo mudou de estratégia para enfrentar a crise energética. Agora, jogou para a sociedade a responsabilidade pelo corte de consumo de 20% nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste do País, necessário para evitar os apagões. A medida anunciada na sexta-feira 18 é duríssima: os consumidores residenciais que não cortarem o consumo nesse porcentual terão o fornecimento de energia suspenso por três dias no mês seguinte, além de pagar uma sobretaxa pelo consumo acima da cota que poderá chegar a 200%. No segundo mês de descumprimento da meta, a suspensão de fornecimento, que será semelhante à que ocorre quando o consumidor deixa de pagar a conta, sobe para seis dias. O racionamento só não atingirá as residências com consumo abaixo de 100 kWh, que representam 30% das moradias nas regiões Sudeste e Centro-Oeste. Na região Nordeste, esse índice sobe para 63%. Na Grande São Paulo, cerca de 3 milhões de residências, de um total de 4,5 milhões, terão de reduzir o consumo para evitar as penalidades, segundo dados da Eletropaulo.

Indústria e comércio também terão cotas a cumprir e poderão ter o fornecimento suspenso. “O corte geral é um transtorno, com custos muito maiores. Optamos por permitir que cada cidadão escolha como quer fazer o seu”, justificou o ministro Pedro Parente, encarregado de coordenar a solução para a crise. Para quem conseguir cortar acima de 20%, o governo promete pagar um bônus de até R$ 1 para cada R$ 1 economizado. De qualquer forma, o consumidor econômico, que no ano passado já se preocupava em evitar o desperdício, terá muito mais dificuldade em diminuir seu consumo, em comparação com o consumidor descuidado. A probabilidade de ser penalizado, portanto, é grande.

Justiça – O governo certamente enfrentará ações na Justiça contra as medidas. A OAB São Paulo (seção paulista da Ordem dos Advogados do Brasil), por exemplo, já estuda entrar com uma ação direta de inconstitucionalidade, questionando a legalidade das cotas e sobretaxas. “A decisão do governo vai contra a Constituição, que prevê que todos são iguais perante a lei”, diz Nelson Miyahara, presidente da Comissão de Defesa do Consumidor da OAB São Paulo.

Os cortes de fornecimento de energia, entretanto, não estão descartados pelo governo, que pretende esperar pelo menos um mês para verificar se o sistema anunciado dará resultados. O general Alberto Cardoso foi designado para supervisionar o esquema de emergência que entrará em ação no caso de o corte ser inevitável.

Especialistas consideram, na verdade, muito difícil evitar os apagões, já que o governo demorou a agir. Cada mês de atraso na redução do consumo aumenta a necessidade de corte em 5%. Caso o governo tivesse agido em abril, estimam alguns especialistas, o corte poderia ter ficado na faixa de 15%. Essa hipótese leva em conta que se repetirão as condições de fevereiro e março, quando o País conviveu com a escassez de chuvas. “O governo tenta trabalhar com as tarifas para incentivar a diminuição de consumo. Mas é uma cartada arriscada – se fosse tomada há dois meses, seria bastante interessante. Se não surtir o efeito desejado, o corte depois terá de ser muito mais drástico”, diz o engenheiro Maurício Tolmasquim, da Coordenação de Programas de Pós-Graduação de Engenharia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Mesmo que o consumo caia 20%, como deseja a equipe comandada por Parente, o sistema elétrico brasileiro estará operando em uma situação muito arriscada. “Caso o governo consiga reduzir a demanda como deseja, ainda assim os reservatórios da região Sudeste chegarão no final do ano em um nível de 10%. Hoje estão em 32%. Ou seja, chegaremos em dezembro no limite”, diz o analista Marcos Severine, do Banco Sudameris, que também considera que os apagões deverão ocorrer.

Investidores – Como o problema é extremamente grave, o máximo que se conseguiu foi excluir do pacote setores essenciais, como hospitais e delegacias, as famílias mais pobres – 40% das residências –, e garantir uma cota mais generosa, de 85%, para grandes indústrias (leia quadros às págs. 94 e 95), numa tentativa de preservar empregos. Para as pequenas empresas, a cota será de 75%. A economia certamente sentirá o tranco. Além dos cortes no consumo, as indústrias estão proibidas de fazer novas ligações. A principal consequência será a retração de investidores, brasileiros e estrangeiros, que terão de cancelar novos projetos. Significará menos empregos, menos impostos e, no caso dos investimentos de fora, menos dólares para financiar o déficit externo do País. Haverá ainda os efeitos da redução do consumo de energia propriamente dita, que certamente significarão demissões e prejuízos.

Acusado de negligência, o governo ensaiou atribuir parte da responsabilidade pela crise ao consumidor. “O brasileiro está acostumado a esbanjar energia”, argumentava o líder do governo no Congresso, deputado Arthur Virgílio (PSDB-AM). A verdade, entretanto, é que o consumo de energia per capita no País é muito baixo. Enquanto o Brasil possui um dos dez maiores parques industriais do mundo, ocupa a 82a posição no ranking de consumo por habitante – 1,8 mil mWh por ano –, atrás de países como Jamaica e Argentina, de acordo com a Ilumina, ONG que reúne alguns dos maiores especialistas em energia do País. Vale lembrar que o consumo de energia da indústria instalada aqui aumentou muito nas últimas décadas. Uma das razões foi o fato de o Brasil ter atraído multinacionais especializadas na produção de alumínio, papel, celulose e siderúrgicas, chamadas eletrointensivas por consumir muita eletricidade. Elas vieram para o País porque aqui a energia é mais barata – o governo subsidia a energia para muitas delas. Juntas, representam 23% do consumo total, pouco mais da metade do consumo industrial. A maior parte da produção de alumínio e de ferro-liga, por exemplo, é exportada. Com grande vantagem para os países importadores, que não precisaram fazer os pesados investimentos em eletricidade exigidos para obter os respectivos produtos. O pacote, neste ponto, é frouxo. O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Francisco Gros, apenas se incumbiu de negociar com as indústrias eletrointensivas cortes maiores de consumo, acima de 20%.

Gaveta – Agora, encurralado pela crise, o governo corre para resolver tudo o que deixou dentro das gavetas. Um exemplo: o critério de reajuste das tarifas das termelétricas – pendenga que ajudou a atrasar em mais de um ano a construção de 49 usinas – está prestes a ser resolvido. A solução ficou na gaveta porque a equipe econômica relutava em aceitar qualquer alternativa que significasse aumento de preço. A mesma equipe econômica que receitou o congelamento dos investimentos das estatais para cumprir as metas fiscais fechadas com o FMI agora tenta conciliar cortes orçamentários e novos investimentos em obras no setor elétrico. O governo enfrenta pressões variadas no processo de negociação das regras do apagão. As distribuidoras mantiveram, desde o início, a posição de que o corte deveria ser imediato, sem soluções alternativas como multas ou cortes. Elas certamente terão custos para gerenciar o novo sistema. “Em agosto, com certeza começarão a pedir o reajuste das tarifas. Aliás, um direito previsto no contrato de concessão assinado com o governo”, diz Marcos Severine, do Banco Sudameris. O analista concorda com aqueles que dizem que os apagões são inevitáveis. Para Severine, eles acontecerão também nos horários de pico de consumo, entre 18h e 21h, quando o gasto representa 40% do total. “Não vai adiantar cortar na madrugada, quando ninguém consome”, afirma.

Colaboraram: Adriana Souza Silva, Ines Garçoni, Eduardo Hollanda (DF), Francisco Alves Filho (RJ), Juliana Vilas, Liana Melo (RJ) e Madi Rodrigues.

No limite

Ana Carvalho

A sociedade só se organiza quando chega no limite. Para a psicóloga social Nancy Cardia, coordenadora do Centro de Estudos da Violência da USP, o que surpreende é a falta de planejamento governamental e não a da população.

ISTOÉ – Como a sra. analisa a mobilização da sociedade para tentar evitar o apagão?
Nancy Cardia – Em qualquer país do mundo as pessoas só tomam medidas quando a crise chega no limite. Só quando a casa está quase arrombada é que se faz algo. As pessoas tendem a não acreditar que há uma crise antes de ela ser visível e dramática. Isso não surpreende. Surpreende a falta de planejamento do governo.

ISTOÉ – Como a sra. qualifica a iniciativa da sociedade de sugerir saídas enquanto o governo patinava no vazio das propostas?
Nancy – Isso mostra que a sociedade coopera quando necessário, o que não é novidade. A atividade da sociedade não exime o Estado. Sem uma liderança do Estado nada vai acontecer. Esse é um tema público que exige política pública.

ISTOÉ – Os apagões viraram conversa de botequim. O medo do escuro mobiliza?
Nancy – Todos têm medo do escuro por motivos óbvios: insegurança, perda de controle, imprevisibilidade. Não temos os outros sentidos tão desenvolvidos a ponto de poder passar sem a visão. Não é só perder o controle. A proposta de um apagão aumenta a imprevisibilidade e a incerteza, que no nosso país já são galopantes.

ISTOÉ – A desordem social é um risco?
Nancy – Claro. Há possibilidade de saques e de quebra-quebra, sem luz, sem alarmes. É só olhar o que ocorreu em apagões acidentais em outros países

 

Subida energética

Ana Carvalho

Solange Frazão, a personal trainer mais cobiçada pelos sedentários e marombeiros do País, adverte: falta de energia (elétrica) faz bem à saúde, desde que as orientações físicas sejam seguidas degrau por degrau. “Antes de começar a subir as escadas até o seu apartamento, faça um alongamento leve. Apóie-se na parede e puxe o pé a fim de que o calcanhar toque no bumbum ou o mais próximo dele. Faça isso com as duas pernas. Em seguida, alongue a coluna, girando, sempre de leve, o tronco para ambos os lados.” Ela pede ainda para que se tente tocar as mãos nos pés, com as pernas esticadas. “Por último, leve os braços para trás e para a frente. Respire fundo, chegou a hora de subir. Faça isso com calma”, orienta a personal trainner que apresenta todos os domingos no Planeta Xuxa o quadro “Agente Frazão contra o stress”. Para os sedentários, Solange sugere que, após dois lances de escada, se descanse um minuto, sempre caminhando pelo hall a fim de manter o ritmo cardíaco sob controle.

Se você tem mais de 60 anos, deve descansar um minuto a cada lance de escada, sempre respirando fundo e se movimentando. Inspire pelo nariz e solte o ar pela boca todo o tempo, inclusive durante a subida. Assim é certo que você vai chegar em casa são e salvo. “O importante é subir sem pressa”, aconselha ela. Encare a empreitada sempre na companhia de alguém, de preferência com a ajuda de uma lanterna ou de uma vela.

“Não suba com sacolas de compras ou mochilas. Deixe-as no carro ou com o porteiro. Comece a subir os degraus sem nada nas mãos, no máximo com a bolsa ou a carteira”, avisa Solange. Quando chegar em casa, resista à tentação de se lançar no sofá. Continue caminhando até sentir que sua frequência cardíaca voltou ao normal. Em seguida, beba bastante líquido. “Quem tem problemas cardíacos não pode fazer um esforço brutal e parar. Isso, sim, é perigoso”, afirma. Solange, que mora no quinto andar, conta que usa a escada com frequência, embora isso nada tenha a ver com apagões ou preparação física. “Tenho medo de elevadores”, confessa. A personal trainer dá outra dica para jovens dispostos a gastar sua própria energia, transformando o blecaute em malhação: “Ponha a mochila nas costas e suba de dois em dois degraus, apertando o ritmo. Não pare de repente. Continue se movimentando até voltar ao ritmo normal, e bom apagão para vocês”, finaliza a lição.

Eletropaulo prepara-se para o apagão

Luiz Antonio Cintra

Controlada pela americana AES, a Eletropaulo é a maior empresa de distribuição de energia elétrica do País, com cinco milhões de clientes espalhados pela região metropolitana de São Paulo. Nesses dias “pré-apagão”, os técnicos da empresa correm contra o tempo, fazem testes, tentam simular os problemas que enfrentarão nos próximos dias. Já têm um plano para o caso de ter de cortar o fornecimento. Em primeiro lugar, a empresa avisa que não há possibilidade de corte seletivo, como o governo desejaria. É impossível preservar hospitais, delegacias, semáforos, ou cortar o fornecimento apenas de casas de espetáculo e circos. Os cortes, se ocorrerem, atingirão vários bairros por inteiro ao mesmo tempo, de preferência em regiões afastadas umas das outras. “Dividimos a Grande São Paulo em 50 blocos, cada bloco com um número. Informaremos pelo menos um dia antes, através dos meios de comunicação e por nossa central de atendimento, os blocos que serão desligados”, diz Fernando Mirancos da Cunha, gerente de programação de operação da Eletropaulo.

A decisão do governo de aplicar tarifas mais caras para quem consumir acima de um determinado nível não é bem vista pela distribuidora. Principalmente porque, diz Cunha, será necessário algum tempo para esclarecer os consumidores. “A maior dificuldade vai ser explicar ao consumidor como ele poderá consumir menos. Ao contrário das empresas, ele só saberá quanto gastou quando a conta chegar. E aí poderá ser tarde”, considera.

 

A credibilidade racionada

Secretária de Energia do Rio Grande do Sul, Dilma Rousseff já teve de administrar um racionamento de energia. Foi no verão de 1999, quando o consumo gaúcho aumentou, e, pior, poucos dias depois da posse.

ISTOÉ – No início do governo de Olívio Dutra, houve necessidade de racionamento. Como foi?
Dilma Rousseff
– Quando assumimos, em janeiro de 1999, tivemos 31 dias de corte, e o maior, em 18 de janeiro, durou quase 12 horas. A causa foi a falta de investimento. As duas grandes linhas de distribuição do Estado são da década de 80. Em geração, o último investimento era de 1986. Fizemos um conjunto de obras emergenciais.

ISTOÉ – Como foram os cortes?
Rousseff – O corte variava de meia hora a mais de sete horas. A carga diminuía e nós éramos obrigados a cortar. Às vezes, conseguíamos aplicar a medida só nos horários de pico, mas nem sempre.

ISTOÉ – E quais foram os principais problemas?
Rousseff – Tivemos problemas de segurança pública, de perda de credibilidade com os investidores e empresários, prejuízos e muito desconforto para a população. Uma situação com a qual nenhum gestor público pode conviver por muito tempo.
L.A.C.

Saída pelo gás

Eliane Lobato

Faltando energia elétrica, as alternativas como o gás e o óleo diesel podem salvar a pátria. Está sendo comercializado no Brasil um equipamento projetado com tecnologia russa, chamado Cryocor, para empresas de porte médio ou grande que já tenham gás natural canalizado. O aparelho, um tuboexpansor acoplado a um gerador, obtém energia elétrica aproveitando a queda de pressão do gás que ocorre quando ele entra nas redes de distribuição. O engenheiro Pedro Celestino Pereira, da Insight Trading, empresa responsável pelo equipamento no País, explica os benefícios do produto: “O Cryocor gera energia quente ou fria com custo baixo e sem poluentes.” A economia também está nos geradores a óleo diesel nos períodos de pico, entre 5h30 e 20h30. Essa é a opção de empresas e entidades, como a PUC-Rio, que está instalando dois geradores diesel de 1,5 mil kW cada um e deixará de comprar energia da Light no horário crítico. Segundo Pereira, isso torna evidente a distorção da política energética do governo: “É um absurdo o diesel ser mais barato que a energia elétrica.”

Comércio e indústria

Pequenas e médias – Têm de baixar o consumo em 20% sob pena de cortes de até seis dias e de sobretaxa. Caso ultrapassem a meta, as companhias elétricas passarão a cobrar o preço praticado no Mercado Livre de Energia (MAE), que, às vésperas de um racionamento, é cinco vezes maior do que o normal. Também serão bonificados em caso de consumo abaixo da meta. Neste caso, os kWh economizados poderão ser vendidos pelo preço do MAE à distribuidora ou acumulados para uso futuro

Grandes – Na média, terão de cortar menos que os demais. As grandes empregadoras, como montadoras, terão de reduzir seu consumo em 15%. Indústrias que consomem mais energia, mas empregam menos (fabricantes de cloro e alumínio), terão de reduzir o consumo em 35%. Se não cumprirem as metas, estão sujeitos a cortes e sobretaxas. As grandes empresas, no entanto, poderão "comprar" a economia excedente feita por outras, em leilões do MAE e, com isso, aumentar a cota de consumo

 

Dificuldades

DIVERSÃO

O circo foi um dos alvos da política de racionamento. Desde
quarta-feira 16, está suspenso o fornecimento de energia a circos
e outros locais públicos, como parque de diversões, exposições itinerantes e shows em locais abertos. Dos cerca de dois mil circos espalhados pelo País, praticamente 80% deles sobrevivem da venda de ingresso nas bilheterias.

SEGURANÇA

Mesmo sem apagão, o plano de emergência montado pela Polícia Militar de São Paulo continuará em andamento. É o que garante o comandante geral da corporação Rui Cesar Melo. Policiais da tropa de choque e das forças táticas serão colocados nas ruas para reforçar a segurança enquanto durar o corte de 35% na iluminação pública. O plano continuará. As condições de segurança precisam ser observadas durante a redução da iluminação pública”, disse o coronel Rui Cesar Melo, que pretende usar até 20% do pessoal administrativo nas ruas. No Rio de Janeiro, a PM vai reforçar o patrulhamento à noite com cinco mil homens e garante que terá condições rápidas de remanejamento. Também o Grupamento Especial Tático Móvel, com 1.600 homens, estará em ação em caso de blecaute. Nessa situação, as férias dos soldados podem ser suspensas. Com o racionamento em locais públicos, os pontos mais críticos terão atenção especial: túneis, usinas de geração de energia, instalações de abastecimento de água.
ILUMINAÇÃO PÚBLICA
O consumo de energia nas vias públicas deverá sofrer redução de 35%. O prazo para que o resultado seja atingido é 30 de junho. As definições sobre como e onde serão os cortes devem ser conjuntas entre prefeituras e distribuidoras de energia elétrica.

EDUCAÇÃO

O MEC vai deixar para as secretarias municipais e estaduais de Educação a decisão sobre as medidas para enfrentar o racionamento. Em São Paulo, a Secretaria Municipal de Educação estuda a possibilidade de reduzir de cinco para quatro o número de dias de aulas por semana.

Para orientar as escolas, a secretaria criou uma cartilha que será distribuída a professores e estudantes. Na rede estadual, a secretaria de Educação também desenvolveu um programa para conter o consumo. Uma das determinações é para que os computadores sejam ligados apenas no momento de uso.

As lâmpadas deverão ser trocadas por outras mais econômicas. As escolas contarão apenas com a luz natural pela manhã. Quanto à merenda escolar, o Estado orientou a compra de produtos perecíveis no dia do consumo, evitando a manutenção de estoques em refrigeradores. Em Minas, a Secretaria de Educação elaborou um projeto de redução de consumo nas escolas.

AEROPORTOS

Os aeroportos brasileiros vão funcionar normalmente. Todos possuem geradores de emergência para o sistema operacional, como torres de controle, pistas e check-in, de acordo com as normas internacionais.

A economia no consumo de energia já está sendo feita nas sedes administrativas e se estudam alterações nos horários de funcionamento. Apenas o conforto dos passageiros será prejudicado, com o desligamento de aparelhos de ar-condicionado e redução na iluminação de algumas áreas.

Há sinalização e luzes de emergência para as áreas coletivas, como salas de embarque, e a Infraero promete monitoramento eficiente, de modo a não prejudicar a circulação das pessoas pelos aeroportos.

 

ENQUANTO ISSO …

Cerca de 200 funcionários ocuparam na manhã de sexta-feira 18 o prédio do Departamento de Recuperação de Perdas da Light, concessionária responsável pelo fornecimento de 67% da energia elétrica consumida no Estado do Rio, em protesto contra a demissão de cerca de 300 trabalhadores.

Os manifestantes só deixaram o prédio, onde funciona o “caça-gatos”, no fim da tarde.

O comando do movimento discute se mantém paralisações de surpresa em departamentos específicos ou se convoca, para esta semana, uma greve geral na empresa.

FARMÁCIA

No próximo dia 29, a Associação Brasileira de Farmácias (Abrafarma) vai reunir os associados para discutir medidas conjuntas de economia de energia. De qualquer forma, cada estabelecimento deverá adotar a melhor alternativa para atingir a meta de redução de 20% do consumo estipulada pelo governo.

HOSPITAIS

Medidas de economia serão adotadas por hospitais particulares em todo o País. Uma delas será trocar lâmpadas incandescentes por fluorescentes. Desligar um dos elevadores é outra sugestão do Sindicato dos Hospitais (Sindhosp). A entidade fará uma pesquisa para definir até o final de junho uma série de medidas conjuntas de economia. Para os hospitais, o apagão seria mais prejudicial que o racionamento.

TELEFONIA

Um estudo de medidas de economia nas centrais telefônicas está sendo concluído. Na reforma do prédio da Anatel em Brasília, foram instalados equipamentos de alta tecnologia, como um ar-condicionado que reduz o consumo em 40% e elevadores da geração digital, que só são ligados quando alguém chama. Parados, desligam automaticamente.

METRÔ

No Metrô do Rio, foram instaladas nas estações lâmpadas fluorescentes com espelhos para dobrar a luminosidade. As escadas rolantes serão ativadas por sensores. O mesmo sistema será adotado nas oficinas de manutenção de trens. O metrô de São Paulo já economiza há um ano 400 mil kWh com o Programa de Racionalização de Energia. Mais formas de economia estão sendo estudadas pela administração, que pretende intensificar o programa.

LOJAS

Um estudo de medidas de economia nas centrais telefônicas está sendo concluído. Na reforma do prédio da Anatel em Brasília, foram instalados equipamentos de alta tecnologia, como um ar-condicionado que reduz o consumo em 40% e elevadores da geração digital, que só são ligados quando alguém chama. Parados, desligam automaticamente.

SHOPPINGS

Para a Associação Brasileira dos Shoppings Centers, as medidas do governo são muito melhores que o “apagão”, pois cada empresa definirá o que pode ou não ser cortado. A entidade estuda a mudança de horário de funcionamento das lojas, iniciando o atendimento uma hora mais tarde e encerrando uma hora mais cedo.

Mas isso só deve acontecer em último caso. Entre as ações para atingir a meta do governo, sugere interromper o funcionamento das escadas rolantes, reduzir as luzes no estacionamento, desligar os painéis luminosos das lojas e não deixar o ar-condicionado ligado o tempo todo.

 

SUPERMERCADOS

Os supermercados já estão trabalhando com diminuição de 60% da iluminação interna. Racionalizar o uso de escadas rolantes, diminuir a iluminação nos estacionamentos e nos painéis publicitários são algumas medidas para reduzir o consumo e atingir a meta do governo. Grandes redes possuem geradores para o funcionamento ininterrupto de frigoríficos e, por essa razão, o abastecimento não deve ser afetado.

PADARIAS

A Associação Brasileira da Indústria da Panificação se reúne na segunda-feira 21 para estabelecer as diretrizes do racionamento no setor. A compra de geradores pode ser uma saída, mas a medida esbarra na dificuldade de adquirir o equipamento pelo alto preço e sua escassez no mercado. A redução do uso do forno elétrico pode fazer com que não haja o pãozinho quente a todo momento.

CONDOMÍNIOS

Usar lâmpadas mais econômicas, deixar de usar a bomba d´água nos horários de pico, reduzir a iluminação de jardins, racionalizar o funcionamento do elevador e diminuir o uso da sauna são alguns conselhos para que os condomínios consigam diminuir o consumo em 20%. A Associação Brasileira das Administradoras de Imóveis distribuirá cartilha para orientar os síndicos. Nos prédios comerciais, estima-se que menos de 10% deles tenham geradores.

INDÚSTRIA

As pequenas e médias indústrias terão de economizar no mínimo 15% de energia. A queda no consumo deve atingir a produção, o que implicaria dispensa de funcionários. A Fiesp está montando uma central de informações que permanecerá de plantão para auxiliar os empresários na busca de soluções para atenuar o impacto do racionamento.

 

Nem circo nem futebol

Medidas do governo comentadas por Maurício Tolmasquim*

1. Redução do fornecimento de eletricidade para o atendimento da carga de iluminação pública em pelo menos 35%, até 30 de junho de 2001, observando condições aceitáveis de segurança da população

"O setor público como um todo, incluindo aí a iluminação das ruas, tem um peso menor que outros no consumo de energia. Em primeiro lugar está o setor industrial, que consome 44% da energia produzida no País. Mas não se pode cortar apenas em um ou outro setor. É preciso economizar também no setor público. Além disso, essas medidas têm efeito exemplar para a população"

2. Suspensão do fornecimento provisório de energia a festividades, circos, parques de diversões, exposições e shows em recintos abertos e similares. Será cortado também o fornecimento de eletricidade para a realização de eventos esportivos noturnos, tais como jogos de futebol, voleibol, basquetebol e similares, além do fornecimento de energia elétrica para fins ornamentais e de propaganda, como monumentos, chafarizes, outdoors, fachadas de prédios da Administração Pública Federal

"Todos esses eventos são pequenos em termos de gasto de energia, mas é necessário economizar aí também. O princípio do racionamento é cortar todo o supérfluo, para tentar cortar menos do setor produtivo. A indústria do lazer e o esporte também criam empregos, mas incomparavelmente menos que o setor industrial"

3. Suspensão de novas cargas de energia, exceto as já contratadas. Serão suspensas também as novas ligações residenciais e rurais

"O objetivo é deter a expansão do consumo de energia. O efeito colateral dessa medida é a redução do crescimento econômico, mas não há racionamento sem sequelas"

Consumo residencial
"Antes, o governo dizia que haveria multa para quem não cortasse 20%, mesmo nas residências de baixo consumo. A idéia de multa não vingou, mas há o corte de energia. É uma iniciativa mais drástica que a multa. A maior dúvida é quanto ao tempo em que ela será aplicada. Se estivéssemos em março, tudo bem. Agora, a aposta é que tem de dar certo. Se não der, vamos pagar um preço mais alto"

Consumo industrial e comercial
"Há um mecanismo de incentivo interessante que é a possibilidade de a empresa que economizou mais poder vender a energia no mercado. O preço é altíssimo. Também tem uma boa lógica essa providência. Temos de ficar atentos para a reação do setor industrial, porque em alguns casos pode haver indústrias que prefiram diminuir a produção para vender energia. Isso vai ter um impacto no sistema produtivo, mas não há racionamento sem consequências"