No dia 23 de abril duas ex-primeiras damas dos Estados Unidos compareceram a uma noite de gala no Metropolitan Museum de Nova York. As presenças de Hillary Clinton e Barbara Bush cumpriam, além do compromisso social de homenagear uma colega ex-ocupante da Casa Branca, uma função pedagógica. Tornavam evidente as razões do evento. Pelos corredores do setor Costume Institute do museu estavam perfiladas as vestimentas que um dia cobriram a esposa do presidente John F. Kennedy, numa exposição intitulada Jacqueline Kennedy: os anos na Casa Branca. Um tributo à alta classe, no qual foi escancarada não apenas a sofisticação de quem elevou o trajar a uma forma de arte inédita no país, mas também a ausência de bom gosto de suas sucessoras. Desde o dia 1º de maio até dezembro, o público – que a cada dia torna as filas maiores – terá chances para esta constatação, com a exposição de meia centena de roupas, chapéus, luvas e acessórios, postados em cenários que lembram a Casa Branca finamente decorada por Jackie K. São peças que levam as assinaturas de designers famosos, como o francês Hubert de Givenchy e o francês-russo-americano Oleg Cassini, que ganhou a cliente por motivos políticos.

Que ninguém espere ver Jackie Onassis nesta mostra. A curadora Hamish Bowles, 37 anos, editora européia de moda da revista Vogue, sabiamente foi colher apenas a fase de ouro do estilo Jacqueline, durante o curto período em que ocupou o cargo de primeira-dama. Ficaram de fora as extravagâncias dos enormes óculos escuros – marcas registradas da viúva de Kennedy, depois de seu casamento com o milionário grego Aristóteles Onassis. Também foi deixado de lado o conjunto rosa Chanel –que ela usou no fatídico dia em que seu primeiro marido foi assassinado em Dallas. Sua inclusão, segundo disse Hamish a ISTOÉ, teria sido “prova de mau gosto”, além da lembrança de que houve tempos em que vestidos na Casa Branca eram manchados com sangue e não com outros fluidos do corpo do presidente, como ocorreria no futuro.

Logo após a entrada de Jacqueline na Casa Branca, o seu estilo passou a ser imitado. “Mas não conseguiam”, diz Oleg Cassini. “Jackie uma vez me disse que naturalmente eu iria querer colocar alguns modelos que fiz para ela em minha coleção. No entanto, ela queria exclusividade. Ela me disse: ‘Não quero ver nenhuma gorda balançando por aí com um vestido igual ao meu’”, diz Oleg. E o costureiro não se atrevia a trair sua cliente mais importante. Ela caiu-lhe no colo depois que o líder do sindicato nacional das costureiras alertou o presidente de que o guarda-roupa francês da primeira-dama poderia ser usado contra ele. O nacionalismo de quintal dos americanos da época exigia produtos “Made in USA”. Jackie então escalou Cassini para ser o reprodutor de designes dos grandes estilistas franceses. O resultado deste casamento de interesses foi o enriquecimento e a fama para Oleg e um legado de extraordinária elegância, que o Met mostra em sua galeria. Mas, como demonstraram Barbara Bush e Hillary Clinton, não são os trajes caros que fazem uma dama excepcional: o porte é fundamental.

Os anos Casa Branca

A mostra do Metropolitan focaliza apenas a época em que Jacqueline foi primeira-dama. À esquerda, o tailleur Pierre Cardin contrasta com o traje da guarda canadense, durante visita ao país, em 1962. No mesmo ano, Oleg Cassini criou um vestido claro para Jackie enfrentar o calor da Índia.