Na adolescência da chef carioca Flávia Quaresma, o seu mais desejado presente de aniversário não eram festas ou roupas, mas sair para jantar. Nos aniversários das amigas, era sempre convocada para fazer o bolo. A sua maior inspiração familiar foram os livros de receita franceses de sua avó, Paula Oest. “Chegava ao requinte de servir nos jantares lá em casa Pommes dauphine, uma sobremesa francesa feita com massa de batata e de eclair (bomba)”, lembra. Nunca passou pela sua cabeça virar dona de restaurante, muito menos se transformar numa profissional que, aos 34 anos, está sendo considerada por muitos como a chef do momento no Rio. Além de fazer sucesso com seu bufê, Flávia pilota o bistrô Carême, em Botafogo, zona sul do Rio, frequentado por famosos como Chico Buarque e Marieta Severo. O chef Claude Troigros, outro assíduo, dá seu parecer: “Gosto de sua comida, poucos têm uma formação profissional como ela.”

Este mês Flávia também inaugurou o simpático Eça, no subsolo de uma megaloja da H. Stern, no centro da cidade. Além disso, prepara-se para voar para Nova York, no sábado 26, onde vai garimpar o melhor da gastronomia local, acompanhada do consultor de vinhos Paulo Nicolay. Em junho, o destino é a África do Sul. E, se alguém ainda duvida de sua fama ascendente, pode se somar aos sete mil visitantes que já passaram por seu site (www.chefnet.com.br), em apenas três meses de existência.

Flávia conquista sua clientela não apenas pela qualidade dos pratos que oferece, mas por sua simpatia e profissionalismo. Sempre pergunta aos clientes o que acharam da refeição. Não é jogo de cena. A chef recolhe críticas e elogios, que depois são devidamente discutidos com os dois profissionais que comandam a cozinha de seus restaurantes: o australiano Morag Miekle, no Carême, e o belga Frédéric De Maeyer, no Eça. No primeiro, Flávia tenta manter a culinária francesa tradicional. Há quem critique o estilo adotado pela casa, de cobrar R$ 70 pela entrada, prato principal e sobremesa. Mas uma coisa é certa: ninguém se arrepende. No segundo, a tendência é a cozinha contemporânea, a la carte, capaz de reunir um cozimento francês com um molho italiano e acompanhamento oriental. “Jogo a idéia, eles desenvolvem e depois provo cada prato”, explica.

O resultado não poderia ser melhor. “Magnífico, encantador”, suspirou o jurista e acadêmico Evandro de Lins e Silva, depois de uma refeição no Eça. “Flávia é clássica e deliciosamente atrevida”, define a acadêmica Nélida Piñon, que o acompanhava. Nélida se referia não só às exóticas combinações à mesa, como o salmão com caramelo balsâmico e gengibre (R$ 24), mas também ao ambiente despojado e à elegância do atendimento. Características que Flávia apreendeu muito bem durante sua rigorosa formação em cozinha e confeitaria, no Cordon Bleu, em Paris, e nos estágios que fez em alguns dos melhores restaurantes da cidade, como o Guy Savoy.