Muitos jovens estudantes procuram a universidade pensando em nunca mais abandoná-la. Para esses alunos eternos, a meta é a carreira acadêmica, como pesquisador ou professor. Nesta entrevista, o físico José Fernando Perez, diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), a mais eficiente agência do gênero no País, aponta caminhos para os estudantes que pretendem fazer uma boa graduação e, depois, investir em pesquisas e no universo acadêmico. Perez, escolhido um dos cientistas do ano 2000 por ISTOÉ, organizou a rede virtual de pesquisadores brasileiros que sequenciou o genoma da Xylella fastidiosa, a praga do amarelinho que ataca os laranjais.

ISTOÉ – Pesquisar é uma boa alternativa para o jovem universitário?
José Fernando Perez – Sim, estou convencido disso. Vivemos em uma sociedade em que o principal insumo é o conhecimento. A pesquisa é o único caminho para o País adquirir competitividade em termos de inovação tecnológica. O sucesso do indivíduo vai depender de sua capacidade de aprender. Antes de tudo, o aluno precisa aprender a aprender, ter sempre a postura de um aluno. Os educadores e dirigentes têm a obrigação de contribuir para a descoberta de novos talentos da pesquisa.

ISTOÉ – O que o aluno deve ter em mente ao ingressar na universidade com o objetivo de se tornar um pesquisador?
Perez – Ele tem de investir no conhecimento. Nossas universidades, principalmente as públicas, têm uma tradição de oferecer espaços para o desenvolvimento de nossos jovens. O diploma vale cada vez menos. O que conta, como disse, é o conhecimento e a capacidade de aprender. Hoje, enquanto o aluno está na universidade, pelo menos a metade dos recursos tecnológicos que serão utilizados por ele na pesquisa e no mercado de trabalho ainda não foi inventada. Ou seja, ele terá de aprender a utilizar esses recursos após a graduação ou fora da universidade. É como um atleta que precisa treinar sempre e muito para que seus músculos fiquem cada vez mais fortes. Com o cérebro, acontece a mesma coisa. Ele precisa ser ativado permanentemente.

ISTOÉ – Qual o caminho para quem deseja se dedicar às pesquisas?
Perez – Ele deve procurar na universidade o ambiente de pesquisa e descobrir as atividades que estão sendo desenvolvidas. O pesquisador começa a ser feito na graduação, com interesse e a busca constante de conhecimento. É preciso conhecer os orientadores, ouvir atentamente os pesquisadores e demonstrar vontade de participar dos grupos de pesquisa. A Fapesp, por exemplo, oferece mais de 2,3 mil bolsas de iniciação científica para estudantes de graduação. É uma experiência interessante, mesmo para quem não deseja se tornar um pesquisador. Há projetos semelhantes em outras agências. É uma vivência importante, reconhecida em currículo. Pode-se ingressar na iniciação científica cursando qualquer área, seja em ciências humanas e sociais, seja em biológicas ou exatas. O estudante pode receber a bolsa por um ano. Com um bom projeto e um pesquisador competente, o prazo é estendido.

ISTOÉ – Como é a vida de um pesquisador?
Perez – Há tudo, menos rotina. Trata-se de um processo de entrega total. Não há o cumprimento de um expediente de trabalho. O desafio é pessoal. A pesquisa também propicia o intercâmbio internacional. As universidades sempre trazem pesquisadores do Exterior e, quando há projetos lá fora, nós participamos.