Ouvir alguém dizer que se formou em lazer, moda, multimeios ou quiropraxia é algo, no mínimo, curioso. Mas esses são alguns dos novos cursos superiores que estão seduzindo estudantes em todo o País. Apenas neste ano, o MEC habilitou novas graduações em design de moda (estilismo e modelagem), desenho industrial (projeto do produto e programação visual), design de embalagens, tecnologia em qualidade e produtividade industrial e tecnologia de alimento (processamento de carnes). No ano passado, foram aprovados, entre outros, os cursos de gastronomia, musicoterapia, tecnologia em materiais, dança (formação de dançarinos e de docentes) e artes visuais. Até o início de 2002, várias universidades planejam oferecer cursos de nível superior com duração entre dois a três anos em áreas como telecomunicações, gestão hospitalar, administração hoteleira e técnico em redes de computadores. Além disso, opções nas áreas de lazer, produção cultural e gestão de informações aguardam aprovação do Conselho Federal de Educação para serem homologadas pelo MEC.

O paulistano Cristiano Brito Andrade, 22 anos, segue firme no último ano da primeira turma de lazer e indústria do entretenimento na Faculdade Anhembi-Morumbi. Apesar do nome sugestivo, o curso exige trabalho pesado. São quatro anos de estudo nas áreas de administração, marketing, contabilidade financeira e planejamento de projetos e eventos. “Tenho uma empresa de produção de festas. O curso, direcionado para o desenvolvimento de projetos e eventos na área de lazer, me ajuda a ampliar os horizontes do meu negócio”, diz Andrade.

A Anhembi-Morumbi é, também, uma das faculdades que oferecem a graduação em quiropraxia, técnica para corrigir problemas musculares e de articulação com as mãos. O curso tem cinco anos de duração e a faculdade aguarda sua habilitação no MEC. Na PUC-SP, há duas habilitações novas: tecnologia e mídias digitais e comunicação em multimeios. O primeiro curso abrange tecnologias digitais, criação de sites para internet, CD-ROM, desenvolvimento de softwares e mídias interativas. O segundo forma profissionais voltados para novas formas de comunicação, integrando imagem, som, animação, texto e informática. Rodrigo Gontijo, 26 anos, optou pelo curso de multimeios. Está no primeiro ano. Antes, tinha feito três anos de administração. “Não tinha nada a ver comigo e acabei trancando a matrícula. Trabalho com fotografia. Conversei com uma amiga que fez pós-graduação na área e gostei da proposta de trabalhar com imagens, sons e computação. Pretendo fazer vídeo-arte”, planeja.

O Senac é outra instituição que abre espaço para as novas carreiras. Em São Paulo, há cursos de gastronomia, fotografia e moda, com especialização em estilismo ou modelagem. São cursos com três anos e meio de duração. Juciléia Sobral, 19 anos, está no terceiro semestre de moda. Ela assinou contrato para ser consultora de uma empresa têxtil e faz trabalhos para outras confecções. “Sou apaixonada pelo que faço. Não me vejo em outra profissão”, empolga-se.
 

As mudanças no mercado de trabalho afetam também profissões clássicas como direito, comunicação social e medicina. José Eduardo Oliveira Faria, professor titular de filosofia do direito e sociologia jurídica da Universidade de São Paulo (USP), aponta dois novos caminhos para a área: direito de propriedade intelectual, relacionado às questões de patentes, e direito administrativo, por causa das privatizações e fusões de empresas. “Era comum ver um profissional do direito isolado numa sala repleta de livros. Hoje, ele precisa trabalhar em equipe e ter conhecimento interdisciplinar”, ensina Faria.

Expansão – Na área de comunicação social, o processo de abertura de novos nichos de mercado ocorrido nos anos 90 deverá se estender por mais uma década. Matinas Suzuki Jr., diretor do provedor de internet IG e professor da Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero, acredita que essa expansão foi impulsionada pelas novas formas de transmissão de notícias (newsletter e sistemas fixos e móveis de internet) e pela revitalização do radiojornalismo. “Esses novos espaços são fascinantes, mas aconselho o jovem profissional a passar pelo jornalismo impresso antes de mergulhar nessas experiências. Nas redações tradicionais, a formação é mais sólida”, alerta Matinas. Para o médico Protásio Lemos da Luz, professor da USP e titular da Academia Brasileira de Ciência, os principais espaços a serem ocupados na sua profissão estarão ligados ao aumento da população idosa. Ele aposta no crescimento da medicina preventiva, da cirurgia plástica, das áreas relacionadas à geriatria e também nas técnicas de biologia molecular, que deverão detectar indivíduos suscetíveis a determinadas doenças e antecipar a prevenção. A farmacologia, segundo Lemos da Luz, também deverá ter grande avanço, sobretudo na área de metabolização das drogas pelo ornismo, resultando em prescrições mais personalizadas. Os caminhos parecem estimulantes. Resta apostar na educação e no futuro.

Colaborou Eduardo Hollanda

Consultores do futuro

Escola do Futuro é um dos mais interessantes núcleos de estudo e pesquisa da Universidade de São Paulo (USP). Uma das principais funções do grupo é projetar cenários de aplicação de novas tecnologias na educação e no mercado de trabalho nos próximos anos. Algumas teses desses pesquisadores arrojados são polêmicas, mas vale a pena conhecê-las. O coordenador científico do grupo, Fredric Litto, acredita que a internet e os recursos de multimídia vão mudar radicalmente a estrutura atual dos cursos superiores. “Aquele tipo de aula em que tudo ficava centralizado no professor vai acabar. Os estudantes vão ser obrigados a dar respostas”, aposta Litto. Outra previsão polêmica do pesquisador envolve o surgimento de uma espécie de intermediário nas atividades acadêmicas e profissionais. “Com uma oferta de produtos vasta, complexa e sofisticada, o profissional necessitará de ajuda para selecionar o que de fato será útil”, prevê. Esses consultores, segundo ele, terão formação específica. “Um exemplo: duas pessoas se formam em medicina. Uma delas vai clinicar normalmente e a outra pesquisar softwares voltados para os diferentes tipos de diagnóstico. Isso se repetirá em quase todas as áreas. Esses consultores centralizarão as informações e saberão responder às questões específicas dentro da área de atuação”, conclui o pesquisador.